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29ª BIENAL DE ARTES
Bienal tem obras feitas de carne e osso
Instalações de Cildo Meireles, Livio Tragtenberg e Ana Gallardo utilizam pessoas e despertam atenção de visitantes
Trabalhos carregam conotações políticas, levantam memórias afetivas e pedem a participação do público
JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Está desligado?" A pergunta veio de um visitante
que se aproximava da instalação que Cildo Meireles
criou para a Bienal. A resposta saiu de lá de dentro: "Não.
A gente tá só descansando".
De longe é impossível ver,
mas a força que faz funcionar
"Abajur" é humana.
A obra, referência aos porões dos navios negreiros, é
iluminada e ganha movimento à medida que pessoas
escondidas por baixo dela
(quatro de manhã e três à tarde) empurram manivelas.
"É suportável", diz Robson Alves, 34, uma das peças
daquela engrenagem. Ele já
foi garçom, estoquista e figurante do filme "Lula, o Filho
do Brasil", entre outros.
"Infelizmente, ganho mais
aqui do que com outros trabalhos", lamenta Franco Picciolo, 38, que apita jogos de
futebol de várzea.
JAULA
No andar debaixo, o compositor Livio Tragtenberg
quis representar a falência
do artista-gênio encarcerando-se dentro de uma jaula.
Vai ficar preso, como os urubus no viveiro de Nuno Ramos, até o fim da mostra, todas as terças e quintas.
"O compositor no sentido
romântico, que expressa sua
personalidade através da
música, é um bicho em extinção", explica o artista.
Portanto, a obra "Gabinete
do Dr. Estranho" depende da
interação com o público, que
é convidado a gravar sua voz
através de um microfone instalado fora do cárcere. Em
tempo real, o artista cria e devolve os sons aos visitantes.
"Uma coisa é improvisar
com músicos, outra é improvisar com não músicos. O
inesperado, o não qualificado me interessam cada vez
mais", diz Livio, que já esteve na Bienal de 1985.
Improvisada é também a
dança na instalação "Un Lugar para Vivir Cuando Seamos Viejos" (um lugar para
viver quando formos velhos),
da argentina Ana Gallardo.
Ela conheceu, na Cidade
do México, onde viveu por
anos, idosos que dançavam
em uma praça e os trouxe para dar aulas de "danzón" e
desenhar nas paredes da Bienal memórias de suas vidas.
"Eles não entendiam o sistema da arte contemporânea.
Tive que explicar a eles o sentido do projeto. Eles aceitaram vir por uma questão de
confiança e porque queriam
conhecer um lugar fora do
México. Nunca tinham ido ao
exterior", explica a artista.
"Construo minha obra
com fragmentos de vida dos
outros, por isso é importante
trabalhar com pessoas."
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