São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010 |
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CRÍTICA ERUDITO Fabio Zanon e Osesp brilham em obras de Hime e Ayres SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA
Não é fácil equilibrar violão e percussão com orquestra em uma gravação. Por isso cabe elogiar a qualidade
técnica, a cargo de Uli
Schneider, do CD em que a
Osesp apresenta o "Concerto
para Violão", de Francis Hime, e o "Concerto para Percussão", de Nelson Ayres.
A obra de Ayres é madura e
bem acabada.
Regida pelo maestro John
Neschling em 2008, contou
com solos dos próprios percussionistas da Osesp -Elizabeth Del Grande, Ricardo
Bologna, Ricardo Righini, Alfredo Lima, Armando Yamada e Eduardo Gianesella-, time que tem sido um dos destaques da orquestra.
O concerto tem unidade e
profundidade. Seus três movimentos são entremeados
por duas cadências, a de vibrafone a preparar o incrível
movimento lento e a de tímpanos a funcionar como transição para o "Finale".
No primeiro movimento,
um frevo distorcido tenta invadir o discurso: trata-se de
uma peça que merece ser
mantida no repertório.
Já a obra de Hime sofre de
certa prolixidade. Foi gravada em 2009 com o violonista
Fabio Zanon e a maestrina
mexicana Alondra de la Parra, que voltará a São Paulo
em 2011 para reger Mahler.
O início revela o amplo domínio harmônico e orquestral do carioca -a primeira
entrada do samba, com o surdo marcando, é um efeito
precioso-, mas, na sequência, falta contraste formal e
elaboração rítmica e a peça
parece longa demais.
Zanon está no auge de sua
forma técnica e musical. Os
acordes cheios e articulados,
a clareza na pontuação das
transições e a homogeneidade sonora nas passagens
mais rápidas fazem dessa
gravação uma das melhores
já realizadas com violão e orquestra no país.
Na semana em que o violão brasileiro perdeu Henrique Pinto, seu mais importante professor, nada melhor
do que esse lançamento:
mestre de quatro gerações de
violonistas de nível internacional (incluindo Zanon),
certamente ele ficaria feliz ao
ouvir o quão longe pode chegar o instrumento cujo som
ajudou a inventar. |
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