São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

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RELÂMPAGOS

Santinhos

JOÃO GILBERTO NOLL

Na fila, o homem chegou e me abraçou forte, não querendo me largar. Eu dava tapinhas nas suas costas, evitando parecer selvagem com um cara que só podia ser louco a me perguntar: "Tem dinheiro aí?". "Tenho uns trocados, sim", falei sacando minha carteira com uma foto que ele, soltando-me, passou a admirar: "Sou eu este daqui", ele disse a sorrir e a babar como quando um bebê reconhece a atenção franca de um desconhecido. A foto era minha, confesso, na primeira comunhão. Sempre achei esclarecedora do meu jeito vida afora aquela expressão meio beatífica que o seu Karol, o fotógrafo judeu, me ensinara a compor. E o louco de cabeça raspada e cheiro de mijo se achava ali. Quando lhe ofereci os trocados ele não quis. Viu o sinal aberto e partiu.



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