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RELÂMPAGOS
Santinhos
JOÃO GILBERTO NOLL
Na fila, o homem chegou e
me abraçou forte, não querendo me largar. Eu dava tapinhas
nas suas costas, evitando parecer selvagem com um cara que
só podia ser louco a me perguntar: "Tem dinheiro aí?".
"Tenho uns trocados, sim", falei sacando minha carteira com
uma foto que ele, soltando-me,
passou a admirar: "Sou eu este
daqui", ele disse a sorrir e a babar como quando um bebê reconhece a atenção franca de
um desconhecido. A foto era
minha, confesso, na primeira
comunhão. Sempre achei esclarecedora do meu jeito vida
afora aquela expressão meio
beatífica que o seu Karol, o fotógrafo judeu, me ensinara a
compor. E o louco de cabeça
raspada e cheiro de mijo se
achava ali. Quando lhe ofereci
os trocados ele não quis. Viu o
sinal aberto e partiu.
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