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ANJOS DO APOCALIPSE
Tony Kushner afirma que sua peça, concebida como resposta a Ronald Reagan, continua atual
"A raiva é um bom combustível para o palco"
DO "NEW YORK TIMES"
Tony Kushner escreveu a primeira versão de "Angels" para o
cinema, para o diretor Robert Altman, cujo "Nashville" foi uma influência sobre a estrutura episódica da peça, mas então Altman se
ocupou com "Short Cuts" e "Prêt-à-Porter".
O diretor de cinema P.J. Hogan
e o dramaturgo e roteirista-diretor Neil LaBute viram esboços
subsequentes do roteiro, mas o
deixaram de lado para fazer, respectivamente, "O Casamento de
Muriel" e "A Enfermeira Betty".
"Eu teria adorado ver o que Altman teria feito com "Angels", diz
LaBute agora. "A marca que distingue algo que se mantém válido
é o fato de receber impressões deixadas por diferentes diretores."
Apesar de suas incursões pelo
cinema (que incluem uma adaptação que não deu certo de um de
seus livros infantis prediletos,
"Push-Cart War", de Jan Merrill,
e um roteiro atrasado para o produtor Scott Rudin), Kushner se
mantém fiel ao mundo do teatro.
Ele não tem muita paciência
com as versões segundo as quais o
teatro estaria prestes a acabar.
"Elogios fúnebres para o teatro
são coisas que os críticos escrevem quando estão entediados ou
de mau humor", diz ele.
E, embora a retração da cultura
teatral americana costume ser
atribuída a alguns fatores já conhecidos -a ascensão da televisão, o alto custo de montagem das
produções teatrais e o custo dos
ingressos, a preferência do público pós-11 de Setembro por ficar
em casa-, Kushner tem outra
teoria para explicar o que ocorre.
"Às vezes acho que os anos ruins
acontecem quando dramaturgos,
atores e diretores ficam tão apavorados quanto o resto das pessoas com o mundo e o comportamento de nossos líderes, deixando-se ficar atônitos e exasperados. Ficar sem palavras é inevitável. Mas nós nos recuperamos, e a
raiva é um bom combustível para
mover o motor do palco."
Enquanto "Angels in America"
é um épico -"muito Steven
Spielberg", observa um de seus
personagens principais, Prior
Walter, quando o céu se abre à
sua volta-, "Caroline, or Change" é o trabalho mais íntimo e autobiográfico de Tony Kushner.
É um musical sulista emotivo
cuja atenção é centrada em duas
famílias, muito mais do que na família do homem como um todo.
A característica que a peça tem
em comum com o resto do trabalho de Kushner é a recusa do autor em reconhecer barreiras entre
arte, política, religião e a vida interior de seus personagens.
Assim, em "Angels", ambientado em 85, um homem gay abandona seu namorado com Aids, e
esse abandono acaba se expandindo para abranger a indiferença
da administração Reagan em relação à epidemia da doença e, em
última análise, para lançar um dedo acusador contra um Deus que
abandonou suas criaturas.
Em "Caroline", ambientado em
1963, a era dos direitos civis é vista
por dentro, criando uma ruptura
entre uma empregada negra -a
heroína, representada por Tonya
Pinkins- e Noah Gellman (Harrison Chad), o filho de uma família judaica que emprega Caroline,
mas não consegue ser seu amigo.
"Caroline" é dirigido por George
C. Wolfe, que também dirigiu
"Angels" na Broadway.
Embora Kushner veja "Angels"
como sua "resposta à contra-revolução de Reagan, que começou
em resposta à grande revolução
cultural dos anos 1960", ele acredita que a peça encontrará ressonância junto às platéias de hoje.
"O reaganismo continua vivo e
forte; ainda está fazendo estragos
tremendos", diz ele. "O apocalipse que a peça prevê em seus momentos mais sombrios é tanto
metafórico quanto real. O mundo
hoje é um lugar mais conturbado
do que era quando escrevi a peça,
mais maluco."
Tradução Clara Allain
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