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POLÍTICA CULTURAL
Seminário diz que divulgação do uso de dinheiro de imposto na cultura reforça preconceito contra artistas
Cinema quer afastar "imagem do favor"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
O seminário sobre "Incentivos
Culturais e a Democratização do
Acesso aos Recursos para o Audiovisual", promovido anteontem, em Fortaleza, na programação do 5º CBC (Congresso Brasileiro de Cinema), terminou com a
proposta de que a área da cultura
tenha acesso a mais recursos da
renúncia fiscal do governo federal
e que, simultaneamente, os artistas revertam a imagem de grandes
beneficiários desse mecanismo.
As leis federais de incentivo à
cultura (Rouanet e do Audiovisual) prevêem a destinação de
parte do Imposto de Renda à realização de projetos culturais. O
termo renúncia fiscal designa o
ato do governo de abrir mão do
recebimento do imposto em favor
do patrocínio cultural. O limite
dessa renúncia, em 2003, foi estabelecido em R$ 160 milhões.
Integrante da mesa de conferencistas, o produtor Paulo Pélico
apresentou estudo segundo o
qual a produção cultural seria responsável pela utilização de 1,5%
do total de benefícios tributários,
que incluem incentivos, isenções
e subsídios. Ele reivindicou a ampliação dos repasses, para promover desenvolvimento da indústria
cinematográfica nacional.
Pélico defendeu também a tese
de que a ampla divulgação do uso
de incentivo fiscal para a produção cultural, em especial o cinema, "reforça o preconceito de que
o artista vive agarrado aos benefícios do governo", criando uma
"situação preocupante, pela assustadora desinformação e o uso
de argumentos falaciosos".
Haviam sido anunciadas as presenças, no debate, do crítico José
Carlos Avellar, consultor da Petrobras, a maior patrocinadora
cultural do país, da deputada federal Jandira Feghali (PC do B),
autora de projeto sobre a regionalização da produção audiovisual,
de Maria Beatriz Aguirre, representando o Banespa, e de um representante do Ministério da Cultura.
De acordo com a organização
do Congresso, as ausências dos
debatedores deveram-se a "imprevistos".
Na manhã de segunda, uma assembléia dos participantes do
CBC definiu uma mudança em
seu estatuto, pela qual o Congresso somente fica autorizado a atuar
como representante de interesses
do cinema quando solicitado por
um setor específico e se houver
consenso entre suas 54 entidades
afiliadas.
Na prática, o Congresso admitiu
esvaziar seus poderes de interlocução com o governo, para não se
desintegrar. Entidades expressivas da indústria cinematográfica
ameaçaram se retirar do CBC, por
divergirem de sua capacidade de
representação dos divergentes interesses da cadeia cinematográfica -produção, distribuição e exibição.
A alternativa proposta era que o
CBC se transformasse num fórum
de discussões. A presidente do
Congresso, Assunção Hernandes,
avalia a solução intermediária
adotada (de representação mediante solicitação e consenso) como "equilibrada". "Não estamos
fazendo uma discussão semântica
idiota. Esta é uma definição sobre
os interlocutores do cinema com
o governo e a sociedade civil", diz
Hernandes.
É corrente a avaliação entre os
participantes do CBC de que suas
reiteradas reivindicações ao governo federal tiveram papel decisivo na adoção de medidas como
a criação da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Gustavo Dahl,
atual presidente da Agência, presidiu o CBC na gestão anterior.
Hoje, o Congresso se encerra com
a eleição da diretoria que o comandará pelos próximos dois
anos. A presença do ministro da
Cultura, Gilberto Gil, é aguardada
pelos organizadores.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do 5º Congresso
Brasileiro de Cinema
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