São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Irmãos Hernandez buscam retratos da vida real

DA REPORTAGEM LOCAL

Nascido em 1957 na Califórnia, Gilbert Hernandez cresceu em um ambiente rodeado por histórias em quadrinhos. Criados pela mãe, desde pequenos, Beto e seus irmãos Jaime e Mario copiavam os desenhos de super-heróis das editoras Marvel e DC e devoravam as histórias da "Archie Comics". Deu no que deu.
Leia a seguir, trechos da entrevista que o quadrinista concedeu à Folha por telefone, de sua casa em Las Vegas. (BYS e DA)
 

Folha - Nas histórias de "Love & Rockets" as mulheres são, em todos os sentidos, muito mais fortes do que os homens. Por quê?
Gilbert Hernandez -
Eu queria apenas apresentar nos meus quadrinhos um mundo que fosse um pouco mais interessante do que o mundo em que vivemos [risos]. Eu não via muitos personagens femininos nas HQs ou nos filmes da época que me impressionassem. Nem o tipo de mulheres de que eu gosto. E, para mim, mulheres fortes são muito atraentes. [Os irmãos Hernandez] Crescemos com várias mulheres fortes ao nosso redor, já que perdi meu pai muito cedo. A personagem Luba é uma versão exagerada da minha própria mãe, que tinha muita força de vontade, uma pessoa independente. Ela foi uma grande influência para que criássemos personagens como Luba.

Folha - Que outras influências entraram na criação de suas HQs?
Gilbert -
Sou muito influenciado por filmes, particularmente pelos filmes de Luis Buñuel, em especial pela suas produções no México. Queria fazer quadrinhos como seus filmes. E também em quadrinhos americanos antigos, como "Gasoline Alley". O que gosto nele é que os personagens envelhecem como na vida real. No começo da história, um homem encontra um bebê no degrau da porta e cria esse bebê. E o bebê se torna um garoto, depois se torna um homem, através dos anos, e gosto disso. Gosto do fato de que essas histórias podem continuar para sempre, ou por um tempo muito longo. Também quero que minhas histórias durem muitos anos.

Folha - O que acha das comparações que fazem do seu trabalho com o de Gabriel García Márquez?
Gilbert -
Fico muito lisonjeado. Márquez é considerado um grande escritor. Não tinha lido suas obras até que comecei a ver resenhas falando sobre as semelhanças entre os nossos trabalhos. Até que num dia comecei a ler, e como fiquei surpreso... Não vi muita coisa dele, mas do pouco que li, achei muito mágico, mais mágico que o meu mundo. Meu mundo é um pouco mais sujo, é mais sobre pessoas, e o universo dele é mais sobre sonhos.

Folha - O público de suas HQs não é necessariamente o dos leitores de gibis. O que acha disso?
Gilbert -
Essa é uma das razões pelas quais gostamos de ter criado "Love & Rockets". Temos um público que não lê muito outras HQs e que acabou descobrindo de outras formas. São pessoas adultas, que gostam das histórias porque podem se relacionar com elas. Acho que um dos maiores presentes que os leitores podem receber é quando o escritor cria um mundo em que eles se reconheçam. Que o leitor diga: "Ei, conheço esse personagem!". Ou: "Esse personagem sou eu". Algumas pessoas se identificaram tanto com nossos personagens a ponto de acharem que lemos suas mentes ou coisas do tipo.


Texto Anterior: Saiba mais: Série é o "Nirvana" do mundo das HQs
Próximo Texto: "Para Sempre Lilya": Sem condescendência, Moodysson filma ruína social de uma jovem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.