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Irmãos Hernandez buscam retratos da vida real
DA REPORTAGEM LOCAL
Nascido em 1957 na Califórnia,
Gilbert Hernandez cresceu em
um ambiente rodeado por histórias em quadrinhos. Criados pela
mãe, desde pequenos, Beto e seus
irmãos Jaime e Mario copiavam
os desenhos de super-heróis das
editoras Marvel e DC e devoravam as histórias da "Archie Comics". Deu no que deu.
Leia a seguir, trechos da entrevista que o quadrinista concedeu
à Folha por telefone, de sua casa
em Las Vegas.
(BYS e DA)
Folha - Nas histórias de "Love &
Rockets" as mulheres são, em todos os sentidos, muito mais fortes
do que os homens. Por quê?
Gilbert Hernandez - Eu queria
apenas apresentar nos meus quadrinhos um mundo que fosse um
pouco mais interessante do que o
mundo em que vivemos [risos].
Eu não via muitos personagens
femininos nas HQs ou nos filmes
da época que me impressionassem. Nem o tipo de mulheres de
que eu gosto. E, para mim, mulheres fortes são muito atraentes. [Os
irmãos Hernandez] Crescemos
com várias mulheres fortes ao
nosso redor, já que perdi meu pai
muito cedo. A personagem Luba
é uma versão exagerada da minha
própria mãe, que tinha muita força de vontade, uma pessoa independente. Ela foi uma grande influência para que criássemos personagens como Luba.
Folha - Que outras influências entraram na criação de suas HQs?
Gilbert - Sou muito influenciado
por filmes, particularmente pelos
filmes de Luis Buñuel, em especial
pela suas produções no México.
Queria fazer quadrinhos como
seus filmes. E também em quadrinhos americanos antigos, como
"Gasoline Alley". O que gosto nele
é que os personagens envelhecem
como na vida real. No começo da
história, um homem encontra um
bebê no degrau da porta e cria esse bebê. E o bebê se torna um garoto, depois se torna um homem,
através dos anos, e gosto disso.
Gosto do fato de que essas histórias podem continuar para sempre, ou por um tempo muito longo. Também quero que minhas
histórias durem muitos anos.
Folha - O que acha das comparações que fazem do seu trabalho
com o de Gabriel García Márquez?
Gilbert - Fico muito lisonjeado.
Márquez é considerado um grande escritor. Não tinha lido suas
obras até que comecei a ver resenhas falando sobre as semelhanças entre os nossos trabalhos. Até
que num dia comecei a ler, e como fiquei surpreso... Não vi muita
coisa dele, mas do pouco que li,
achei muito mágico, mais mágico
que o meu mundo. Meu mundo é
um pouco mais sujo, é mais sobre
pessoas, e o universo dele é mais
sobre sonhos.
Folha - O público de suas HQs não
é necessariamente o dos leitores de
gibis. O que acha disso?
Gilbert - Essa é uma das razões
pelas quais gostamos de ter criado
"Love & Rockets". Temos um público que não lê muito outras HQs
e que acabou descobrindo de outras formas. São pessoas adultas,
que gostam das histórias porque
podem se relacionar com elas.
Acho que um dos maiores presentes que os leitores podem receber é quando o escritor cria um
mundo em que eles se reconheçam. Que o leitor diga: "Ei, conheço esse personagem!". Ou: "Esse
personagem sou eu". Algumas
pessoas se identificaram tanto
com nossos personagens a ponto
de acharem que lemos suas mentes ou coisas do tipo.
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