São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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"JORNADA DA ALMA"

Diretor Roberto Faenza retrata vida de Sabina Spielrein, descoberta em 77 ao encontrarem seus diários

Filme revela o amor de paciente por Jung

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os principais lances da vida de Sabina Spielrein (1885-1942) correram lado a lado com os fatos que mudaram o mundo na primeira metade do século 20.
Ela fez psicanálise com Carl Gustav Jung, quando foi internada num hospital para doentes mentais em Zurique, na Suíça, em 1905. Anos depois, partiu para a União Soviética, onde trabalhou numa escola de tendência libertária. Judia, foi assassinada por nazistas numa emboscada na sua cidade natal, Rostov.
Retratada em "Jornada da Alma", do diretor italiano Roberto Faenza, parte dessa história permaneceu desconhecida até 1977, quando foram encontrados no porão de um palácio em Genebra seu diário e suas cartas.
A descoberta da correspondência de Spielrein esclareceu a origem da interlocutora que aparece em cartas endereçadas ao pai da psicanálise, Sigmund Freud, e ao seu discípulo, Jung.
As cartas revelaram também a paixão nutrida pela paciente por seu terapeuta.
O filme mostra um caso entre os dois, que teria acontecido quando Sabina já estava fora do hospital. Jung era casado e seus herdeiros foram contra a divulgação do teor dos documentos.
"No meu filme, Jung é mostrado sobretudo como ser humano, não apenas como gênio. Ele era um homem que teve fraquezas como qualquer outro", disse o diretor, em entrevista por e-mail.
O diário perdido de Spielrein é o condutor do filme. Dois pesquisadores estrangeiros se conhecem na Rússia de hoje e encontram as anotações em uma biblioteca.
Por diferentes razões, a dupla começa a investigar a história de Spielrein. Em paralelo, a trajetória dela vai sendo reconstituída a partir da internação na instituição onde conheceu Jung.
Alguns trechos das cartas trocadas por Spielrein, Jung e Freud pontuam o momento em que a relação dos amantes se degrada.
No filme de Faenza, o romance é perpetuado pelos tempos, numa ligação sem vínculos com a realidade. É dessa união mística do casal que vem o título do longa.
A tradução literal de "Soul Keeper", seria "Guardiã da Alma". "Jornada da Alma" não é ruim, mas o título original faz referência a algo que Jung fala para Sabina", explica Faenza.


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