São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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"BRIDGET JONES: NO LIMITE DA RAZÃO"

Produção inspirada em livro de Helen Fielding cai no previsível e ignora sexo

Fórmula se desdobra em série moralista

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

Quando é que essa mulherada vai parar de reclamar? Pelo visto, não enquanto a indústria da fórmula "mulher-trintona-solteira-e-independente-que-reclama-que-os-caras-nunca-telefonam" continuar rendendo.
São filmes e livros que se apóiam num romantismo mais do que açucarado, só que revestido de autocomiseração e auto-ironia. Nele se incluem desde a espertinha série americana "Sex and the City" até subprodutos -de diferentes qualidades- na carona do sucesso do livro "O Diário de Bridget Jones" (1998), da britânica Helen Fielding.
Este filme é mais um rebento dessa mãe solteira -ou solteirona. Aqui, Bridget (Renée Zellweger), uma jornalista de TV, encontra o seu "Mr. Right". Ele é Mark Darcy (Colin Firth), um advogado bem-sucedido e bom de cama, que se apaixona pelo jeito "espontâneo" -aqui eufemismo para ridículo- da gordinha.
Mas, como Darcy é um sujeito conservador e, pior, daqueles que dobram a cueca antes de ir dormir, Bridget é tentada por Daniel Cleaver (Hugh Grant), o cafajeste barato que tenta reconquistá-la.
Dos escorregões da protagonista às suas frases deslocadas, gafes em público e pisadas na bola com os homens, tudo é previsível. Mas isso não é o pior do filme. O difícil é agüentar a tentativa de manipulação dos "sentimentos". Por que temos de simpatizar com a mocinha desse bangue-bangue urbano se ela é uma chata inconveniente? Quem quer namorar uma garota que sobe em árvores para espionar o amado, ouve as mensagens de sua secretária eletrônica e fala da vida dele para todo mundo?
Mas Darcy gosta dela mesmo assim. E vai buscá-la até quando acaba presa na Tailândia. Entre as prostitutas com quem divide a cela, Bridget protagoniza uma passagem sofrível, além de um tanto preconceituosa. Conversando com as colegas, "descobre" que, se em Londres (ou Paris, ou Nova York ou São Paulo) um homem que se comporta mal é aquele que não liga no dia seguinte, na Tailândia ele é o que obriga as moças a se prostituirem. Para a "sorte" da agora escandalizada Bridget, um carro da embaixada britânica a tirará desse meio "selvagem" e ela poderá voltar a se preocupar com qual minissaia esconderá melhor seus quilinhos a mais.
O problema aqui é ser previsível e moralista. Essa jornalista desengonçada tem muito a aprender com sua colega Carrie Bradshaw, de "Sex and the City". No seriado estão todos os ingredientes de "Bridget", com a diferença de que, ali, há humor inteligente e um detalhe que esta produção parece não ter se lembrado: sexo.


Bridget Jones: No Limite da Razão
Bridget Jones: The Edge of Reason

Direção: Beeban Kidron
Produção: Inglaterra/França/Irlanda/EUA, 2004
Com: Renée Zellweger, Colin Firth
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Bristol, Eldorado e circuito



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