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Chico Buarque revê relação com Rio
No livro "Cidade Submersa", ele lembra verões da infância e diz que ainda tem dificuldade de assimilar códigos cariocas
Com texto de Regina Zappa,
obra tem ensaio fotográfico
realizado a partir de 30
músicas do autor baseadas na
atmosfera carioca
DA SUCURSAL DO RIO
Chico Buarque nasceu no Rio
e se mudou aos dois anos para
São Paulo, mas seus verões de
criança e adolescente foram
passados na cidade natal. Ou
melhor, em um pedaço dela.
"O Rio de Chico [...] era feito
de Copacabana", escreve Regina Zappa em "Chico Buarque
-0Cidade Submersa", livro que
se concentra na relação do
compositor com o lugar que
continua lhe dando régua e
compasso -seu CD lançado
neste ano se chama "Carioca".
Detalhes daquelas férias
praieiras formam uma parte saborosa do texto de 16 páginas
(grandes) de Zappa -o restante
do livro são 30 letras de Chico
acompanhadas de um ensaio
fotográfico de Bruno Veiga.
De manhã, ele corria com os
primos para a areia e o mar do
Lido (posto 2 de Copacabana),
de onde só voltava quando a avó
materna, Maria do Carmo, punha um pano vermelho na varanda, sinal de almoço.
Feita a digestão, para que não se consumasse a lenda de que exercícios após as refeições eram fatais, ele retornava à praia.
"Ele diz que é mais mar do
que mata. Ficou afastado quando morou em casa [na Gávea,
encostado no morro Dois Irmãos], mas realizou sua volta
para o mar", diz Zappa, referindo-se ao apartamento em que
Chico vive hoje, no Leblon, com
ampla vista para o oceano. A
jornalista, que lançou em 2000
um livro sobre o compositor
para a série "Perfis do Rio", fez
neste ano duas entrevistas com
ele para "Cidade Submersa".
Entre as lembranças, uma visita ao morro da Babilônia, no
Leme (zona sul), para ver onde
tinha sido filmado "Orfeu Negro", o filme francês baseado na
peça "Orfeu da Conceição", de
Vinicius de Moraes, até então
só amigo de seu pai, Sérgio
Buarque de Hollanda. Eram os
anos 50, e para entrar em uma
favela bastava querer.
Estrangeiro
Sobre os dias de hoje, Chico
relata seu primeiro vôo de asa-delta, que enfrentou estimulado pela caçula Luísa -e para impressioná-la. E reafirma a
certeza de que o Rio é onde se
sente menos estrangeiro.
"Quando começam a pedir
autógrafo, foto e tal, é porque
estamos em algum feriadão e
tem muita gente de fora. O carioca não faz muito isso", diz
ele, que é visto com freqüência
no calçadão e em restaurantes.
Mas Chico diz no livro que
nem assim consegue assimilar
os códigos cariocas, sempre em
transformação. Por exemplo:
hoje as pessoas caminham no
calçadão com meias abaixadas
e camisa na mão, não na cintura. "Nasci aqui e, mesmo assim,
ando pisando em ovos. Será que
estou sendo carioca?", brinca.
O fato de ter vivido em São
Paulo por muito tempo -o que
lhe rendeu o apelido de Carioca
entre os colegas paulistanos-,
em Roma por duas vezes e ainda viajar bastante faz com que
Chico não se sinta "pertencendo a lugar nenhum", nem mesmo ao Rio por completo.
"Quero ter algum dia a cidadania
plena, a sensação de pertencer
à cidade, saber que eu pertenço
a ela, de ser aceito pela cidade."
Nas músicas, há as que se referem explicitamente ao Rio,
como "Partido Alto", "Estação
Derradeira", "Pivete" e "Futuros Amantes" -de onde saiu a
expressão-título do livro. E há
outras "com uma atmosfera em
que o carioca possa se reconhecer", segundo Zappa. São os casos de "A Rita", "Vai Trabalhar,
Vagabundo" e "Quem te Viu,
Quem te Vê". "A idéia inicial
era o Chico comentar música a
música, mas ele nem se lembra
de como fez várias e diz que elas
falam por si", conta a autora.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
CHICO BUARQUE - CIDADE
SUBMERSA
Autores: Regina Zappa e Bruno Veiga
Editora: Casa da Palavra
Quanto: R$ 69 (160 págs.)
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