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Saem memórias de pensadores do teatro moderno
Livros narram as trajetórias do escritor e empreendedor cultural Alfredo Mesquita e da atriz Dulcina de Moraes
Biografia do criador da Escola de Arte Dramática em SP e coletânea de histórias da atriz expõem formas de "amor ao teatro"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os centenários de nascimento do escritor e empreendedor
cultural Alfredo Mesquita, neste ano, e da atriz Dulcina de
Moraes, em 2008, trazem suas
memórias à tona. Eles foram
contemporâneos no "amor ao
teatro", que os conduziu a
ações objetivas, mas suas trajetórias não se tocaram.
Mesquita (1907-85) é mais
conhecido pela criação da Escola de Arte Dramática em São
Paulo. Dulcina (1908-96) legou
a Fundação Brasileira de Teatro, em Brasília.
Eles convergiram no ideal de
formação e reconhecimento
profissional de atores nos anos
1940, quando a cultura do teatro firmava seus primeiros passos em busca de teorias e práticas mais modernas.
É o que mostram os livros
"Alfredo Mesquita - Um Grã-Fino na Contramão", da jornalista e dramaturga Marta Góes,
primeira biografia sobre o escritor, e "Dulcina de Moraes
-Memórias de um Teatro Brasileiro", da atriz e pesquisadora
Michelle Bastos.
Inaugurada em 1948, a EAD
passou 20 anos sob o comando
de Mesquita. Em 1968, a crise
financeira levou a escola a ser
incorporada pela USP, instituição que catalisa o trabalho de
Góes. Mas a autora contextualiza o percurso intelectual que
ajuda a entender como a vocação para educador ganhou consistência.
O filho do dono do jornal "O
Estado de S.Paulo" protagonizou feitos como a abertura de
uma livraria em sociedade, a
Jaraguá, no centro paulistano
(1940-54), freqüentada por Oswald e Mário de Andrade, além
de jovens como Hilda Hilst.
Coube a Mesquita lançar a
"Clima" (1941-44), "uma revista de gente nova e desconhecida", como a publicação se auto-declarava. Gente como Décio
de Almeida Prado (teatro),
Paulo Emílio Salles Gomes (cinema), Antonio Candido (literatura), Lourival Gomes Machado (artes plásticas), Antonio Lefèvre (música) e outros.
Em 1944, Mesquita criou o
Grupo de Teatro Experimental
(GTE), integrado por artistas
amadores. Escreveu e dirigiu
peças que atraíram o industrial
Franco Zampari para aquela
arte, inspirando-o a inaugurar
o Teatro Brasileiro de Comédia
(TBC) em 1948, na Bela Vista.
Em abril daquele ano, a EAD
começou a funcionar no porão
do externato Elvira Brandão,
nos Jardins. A cidade contava
apenas três teatros: o Municipal, o Boa Vista (atual Sérgio
Cardoso) e o extinto Santana.
No semestre seguinte, a EAD
ocupou o 2º andar do TBC a
convite de Zampari. A sede mudou depois para um casarão em
Higienópolis (1952-60) e o prédio da atual Pinacoteca do Estado, antes de ir de vez para a
Cidade Universitária, em 1970.
"Alfredo acreditava que os
fundamentos da formação do
ator eram cultura, disciplina e
ética", escreve Góes. Entre os
mestres, estavam Cacilda Becker, o crítico alemão Anatol Rosenfeld, o filósofo tcheco Vilém
Flusser e o cenógrafo italiano
Gianni Ratto, além da então secretária e bibliotecária da escola, Maria Thereza Vargas.
A EAD formou turmas de
1950 a 2007. São centenas de
artistas, da geração de Myriam
Muniz à de Marat Descartes. A
autora não pisa o terreno afetivo de Mesquita, reservado no
trato pessoal. "A intimidade o
assustava mais do que o desrespeito ou a agressão."
ALFREDO MESQUITA - UM GRÃ-FINO NA CONTRAMÃO
Autora : Marta Góes
Editoras : Albatroz, Loqüi e Terceiro
Nome (304 págs.)
Quanto : R$ 68
Lançamento : 5/12, às 19h, no Teatro
Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/
nº, 3222-8698)
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