São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

De estrelas, misses e professoras


Leão Lobo e o "Pânico" dedicam-se a remexer o lixo do mundo dos famosos de todo porte

QUAL É mesmo a diferença entre, digamos, Leão Lobo com seu "De Olho nas Estrelas" e o pessoal do "Pânico na TV"?
A matéria-prima é a mesma, ou seja, remexer o lixo do mundo das celebridades de qualquer porte -pequenas, médias e grandes. Os procedimentos, semelhantes: ambos utilizam "notícias" produzidas por veículos jornalísticos como ponto de partida. E, como é o costume dessa TV das "bordas", o espaço da programação é alegremente dividido com patrocinadores e merchandising.
E, de certa forma, também há em comum o espírito de deboche, mas aí aparece uma diferença sutil que, com o perdão do quase trocadilho, faz toda a diferença. Enquanto Leão Lobo maldiz as imperfeições várias de astros e estrelas com uma agenda moral-invejosa -ah, se ele estivesse naquele lugar, não cometeria os deslizes, estaria sempre belo e perfeito para o desfrute das massas-, o "Pânico" opera no campo oposto.
Para começo de conversa, eles vão lá onde habitam os famosos, aproximam-se e é aí que tangenciam perigosamente a grosseria e o desrespeito. Mas vale o risco, pois uma vez lá, naquele lugar, tão fantasiados como suas vítimas, eles fazem-nas se confrontar com sua pequenez, sua mediocridade e seus inúmeros defeitos. É daí que tiram o humor, que às vezes funciona que é uma beleza.

 

A cruzada pela santificação do merchandising empreendida por certos assim chamados jornalistas ganhou uma aliada de peso e medidas: a nova assistente de Milton Neves fez um trabalho de conclusão de curso no qual defende a prática. Não se sabe se a moça ganhou a vaga porque afina com as convicções mais profundas do mestre, mas o fato é que a coincidência é grande -e preocupante. Singela, a ex-Miss Brasil afirmou à Folha, à guisa de argumentação: "Quem sustenta a mídia é o anunciante". Para além da obviedade, a confusão entre interesses privados e públicos é notável.
 

Tem no YouTube um trecho do pito da professora no bispo da Universal. Vale a pena ouvir o tom de voz do bispo Clodomir quando ela menciona o fato de a emissora ser uma concessão pública e, portanto, ter algum tipo de obrigação... pública (e não de audiência). O bispo retruca: "Não tem ninguém que possa tomar nossa concessão, uma vez que o programa que fazemos está de acordo com a Constituição. Só quem não pensa e que quer nos perseguir pode achar o que a senhora acha". Fina, a professora não aceitou a provocação.

biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Nas lojas
Próximo Texto: Crítica: Filmes apresentam anticomunismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.