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MODA
Estilista inglês apresentou criações lúdicas, com músicas e cenário que remetiam ao universo infantil
Galliano faz desfile alegórico em Paris
ERIKA PALOMINO
enviada especial a Paris
O inglês John Galliano fez, anteontem à noite, o mais incrível
desfile da temporada do prêt-à-porter em Paris, que termina hoje
depois de mostrar as propostas da
moda para o outono-inverno
2000/2001.
Galliano fez um grande happening, uma grande alegoria, remetendo a um dos primeiros prazeres relacionados ao ato de se vestir, um ritual de brincadeira e deleite. Como crianças que brincam
de experimentar a roupa da mãe,
da avó, do pai, brincando de teatro, criando fantasias e objetos lúdicos, as modelos desfilavam
looks únicos que misturavam
moda de verdade, tendências e
um curioso mundo paralelo.
O assombramento já começava
na porta do Grand Halles de la Vilette, uma sala de espetáculo na
periferia de Paris, que ganhou o
nome do estilista, gigante, em luzes na entrada. Na sala escura, luzinhas acompanhavam a passarela brilhosa.
Com músicas que também remetiam ao universo infantil, como passagens de desenhos animados, misturadas a uma house
music do tipo "pumping", as modelos apareceram em cena respingadas de tinta azul ou amarela
(era essa a maquiagem), como se
estivessem brincado com o material. Ocasionalmente, elas têm narizes de gato ou bigodes desenhados no rosto. A "maria-chiquinha" imperou, com franjas; Audrey Marney, por exemplo, parecia uma criança mimada e contrariada.
O visual é elaborado, com muita
sobreposição e cores. As formas
são sempre soltas, e a silhueta é
totalmente largada. Afinal, todas
as roupas são "emprestadas" de
adultos. Puro pretexto para um
delicioso exercício estilístico, em
que vestidos de tule fora do lugar
feito bailarinas (uma das obsessões de Galliano, pelo visto) se somam a marinheiros ou piratas.
A hábil brincadeira de proporções chega no casaco verde de
matelassê em seda, enorme, sobre
o vestido (agora sim) sequinho de
bordados, sem manga.
Assim, Galliano vai misturando
efeitos de passarela com peças
adoráveis, mais vendáveis, digamos. Os mais mal-humorados
podem pensar o clássico "quem é
que vai usar isso?", o fato é que a
cliente John Galliano já está acostumada ao senso de humor do estilista, e certamente vai saber lidar
com essa nova estética.
Vai ser ótimo ver fashionistas e
moças descoladas (e/ou ricas) em
geral vestindo o new look esportivo de Galliano: bolsas e camisetas
gigantes tipo basquete têm a inscrição Galliano Wonderers, em
combinações de cores que incluem até uma verde-amarela,
certamente inspirada no Brasil.
Essa camisa canarinho aparece
sob um corselet vermelho e uma
saia reta de estampa floral (tem
muita flor e muita sobreposição).
Nos pés, galochas coloridas, chuteiras, botas de salto e até o sapato
do vovô.
Um "menino maluquinho" entra com casacão de tricô e panela
na cabeça; há ainda o boné Galliano King (com o logo do Burger
King), o chapéu abajour-na-cabeça e o look boudoir com pompons
rosa e maxipull cinza, seguido do
vestido de lã de manga comprida,
pelo joelho, com bordado em zigue-zague colorido.
Mas o melhor ainda estava por
vir (e o tombo de uma modelo
oriental quase de boca na passarela deve ser esquecido; ninguém
aplaudiu, ninguém falou nada, foi
como se não tivesse acontecido).
Entra na passarela uma modelo
vestida com uma grande girafa,
feita de madeira e plumas. Depois, uma avestruz, com botas de
salto com o mesmo papel picado
do animal; depois uma modelo
com armação de boneca de papel;
e depois um navio, depois um
pinto e um sapo. E um carrinho
que buzinava e tudo, um cavalo-marinho e uma borboleta-flor.
Ninguém acreditou. Ao som de
Diana Ross, parecia uma declaração de amor à vida, um voto de
confiança na moda e, ao mesmo
tempo, um despojamento, um
deboche, quase-descaso, uma auto-ironia que poucos têm. Colocar as melhores modelos do mundo para brincar de moda, e mostrar isso aos mais importantes
profissionais do mundo, requer
alguma coragem.
Galliano tem de sobra. Gisele
Bündchen (observada por João
Paulo Diniz na primeira fila), encerrou o desfile com um sexy vestido de couro decotado, com saia
longa, chapéu e guarda-chuva. A
fila de aplausos finais parecia
apresentação de escola ou apoteose de escola de samba, ao som
de um mambo ("mambogalliano") que deixou mesmo as pessoas mais chatas sorrindo.
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