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CINEMA
Em "Alexander", Oliver Stone mostra lado sangüinário, alcoólatra e bissexual do herói e conquistador
Filme traz à tona as diversas paixões de Alexandre, o Grande
ANDRÉS FERNÁNDEZ RUBIO
DO ""EL PAÍS"
"Faça o que manda o seu coração, e faça-o com paixão", diz o
ator Colin Farrell, enquanto toma
água no areal próximo a Marrakech, onde o filme "Alexander",
de Oliver Stone, sobre Alexandre,
o Grande, está sendo rodado.
Stone, que filmou também em
Londres e na Tailândia com um
orçamento de US$ 150 milhões e
quer que a estréia do filme aconteça no fim do ano, acha Farrell o
intérprete ideal de Alexandre, pela força de seus traços e por sua
energia física. Angelina Jolie faz o
papel de uma mulher de 52 anos,
Olimpíada, a autoritária mulher
de Felipe da Macedônia, suspeita
de ter envenenado o marido para
dar ao filho a chave do poder total.
De chapéu de palha e camiseta
vermelha, Oliver Stone se desloca
entre a equipe, dando ordens em
tom de otimismo marcial. Montado num enorme cavalo frisão preto, Farrell entra na batalha brandindo sua espada contra o inimigo persa. Soam as trombetas, os
gritos aumentam de volume, o
sangue jorra e o pó recobre tudo,
criando um ambiente espectral.
Nos momentos de descanso,
muitos dos milhares de figurantes, soldados do Exército marroquino, aproveitam os escudos para aboletar-se à sua sombra. Nesse
ambiente, Stone prepara sua primeira superprodução. Um filme
no qual um diretor obcecado pelo
poder -como se pode ver por
""JFK", de 1991, ""Nixon", de 1995,
e os dois documentários recentes
sobre Fidel Castro (""Comandante") e Iasser Arafat (""Persona Non
Grata")- se distancia radicalmente da história recente dos
EUA e do mundo.
Desta vez, Stone retrata um personagem cujos apelidos -magno, o demônio, o homem dos dois
chifres- ainda são ouvidos nas
histórias populares asiáticas. O
que fará com Alexandre o diretor
de ""Assassinos por Natureza"?
Uma história de sexo, drogas e
guerra? ""Esse poderia ser um
ponto de vista, mas, sob outra
perspectiva, podemos ver Alexandre como um personagem em
duas facetas: Apolo e Eros. Ele era
um homem extremamente inteligente, dotado de enorme ambição, que construiu cidades e serviu-se de homens de ciência e cultura para seus objetivos próprios,
com isso contribuindo para ampliar as perspectivas da civilização." Consciente do lado brutal
de Alexandre, tenta desculpá-lo:
""Ele dava mais do que recebia".
Autor de um roteiro baseado na
biografia de Alexandre escrita pelo historiador britânico Robin Lane Fox, Stone se orgulha de ser
praticamente o primeiro cineasta
a ter se ocupado do personagem
(e não esconde seu desdém pelo
filme de Robert Rossen, de 1956).
No papel de Cleitos, irmão de
leite de Alexandre, por ele assassinado, está o ator britânico Gary
Stretch, para quem "todo homem
tem um Alexandre em seu interior". Stretch se esforça para enxergar a parte positiva da história
e acha que é preciso conhecer a
tentativa de Alexandre de integração com outras culturas. ""E, ao lado disso, a luta interior, o difícil
equilíbrio entre o homem público
e o solitário incompreendido,
apesar de outros terem descoberto seus lados ocultos e vulneráveis, entre eles seu homossexualismo." Farrell intervém e diz que
o aspecto do homossexualismo
do herói deve ser visto como ""um
elemento a mais da história, inscrito com naturalidade dentro da
tradição macedônia".
Uma lenda que atravessou séculos atribui a morte de Alexandre a
um envenenamento tramado por
Aristóteles para vingar o assassinato de seu sobrinho Calístenes.
Seguindo a tradição grega e romana, o fim horrível de Calístenes
passou a exemplificar os crimes
do poder contra o pensamento.
Mas o filme de Stone não procura
traçar o perfil de um assassino, e
sim, sobretudo, de um personagem ""polêmico e contraditório",
segundo o mexicano Rodrigo
Prieto, diretor de fotografia do filme (e também de ""Amores Brutos" e "21 Gramas").
Oliver Stone resume a história
de Alexandre, o Grande, como a
de ""um jovem, um príncipe, um
rei, que conseguiu realizar muitos
de seus sonhos em vida. Até que,
como uma estrela, sua luz deixou
de brilhar".
Tradução Clara Allain
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