São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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CINEMA

Em "Alexander", Oliver Stone mostra lado sangüinário, alcoólatra e bissexual do herói e conquistador

Filme traz à tona as diversas paixões de Alexandre, o Grande

ANDRÉS FERNÁNDEZ RUBIO
DO ""EL PAÍS"

"Faça o que manda o seu coração, e faça-o com paixão", diz o ator Colin Farrell, enquanto toma água no areal próximo a Marrakech, onde o filme "Alexander", de Oliver Stone, sobre Alexandre, o Grande, está sendo rodado.
Stone, que filmou também em Londres e na Tailândia com um orçamento de US$ 150 milhões e quer que a estréia do filme aconteça no fim do ano, acha Farrell o intérprete ideal de Alexandre, pela força de seus traços e por sua energia física. Angelina Jolie faz o papel de uma mulher de 52 anos, Olimpíada, a autoritária mulher de Felipe da Macedônia, suspeita de ter envenenado o marido para dar ao filho a chave do poder total.
De chapéu de palha e camiseta vermelha, Oliver Stone se desloca entre a equipe, dando ordens em tom de otimismo marcial. Montado num enorme cavalo frisão preto, Farrell entra na batalha brandindo sua espada contra o inimigo persa. Soam as trombetas, os gritos aumentam de volume, o sangue jorra e o pó recobre tudo, criando um ambiente espectral.
Nos momentos de descanso, muitos dos milhares de figurantes, soldados do Exército marroquino, aproveitam os escudos para aboletar-se à sua sombra. Nesse ambiente, Stone prepara sua primeira superprodução. Um filme no qual um diretor obcecado pelo poder -como se pode ver por ""JFK", de 1991, ""Nixon", de 1995, e os dois documentários recentes sobre Fidel Castro (""Comandante") e Iasser Arafat (""Persona Non Grata")- se distancia radicalmente da história recente dos EUA e do mundo.
Desta vez, Stone retrata um personagem cujos apelidos -magno, o demônio, o homem dos dois chifres- ainda são ouvidos nas histórias populares asiáticas. O que fará com Alexandre o diretor de ""Assassinos por Natureza"? Uma história de sexo, drogas e guerra? ""Esse poderia ser um ponto de vista, mas, sob outra perspectiva, podemos ver Alexandre como um personagem em duas facetas: Apolo e Eros. Ele era um homem extremamente inteligente, dotado de enorme ambição, que construiu cidades e serviu-se de homens de ciência e cultura para seus objetivos próprios, com isso contribuindo para ampliar as perspectivas da civilização." Consciente do lado brutal de Alexandre, tenta desculpá-lo: ""Ele dava mais do que recebia".
Autor de um roteiro baseado na biografia de Alexandre escrita pelo historiador britânico Robin Lane Fox, Stone se orgulha de ser praticamente o primeiro cineasta a ter se ocupado do personagem (e não esconde seu desdém pelo filme de Robert Rossen, de 1956).
No papel de Cleitos, irmão de leite de Alexandre, por ele assassinado, está o ator britânico Gary Stretch, para quem "todo homem tem um Alexandre em seu interior". Stretch se esforça para enxergar a parte positiva da história e acha que é preciso conhecer a tentativa de Alexandre de integração com outras culturas. ""E, ao lado disso, a luta interior, o difícil equilíbrio entre o homem público e o solitário incompreendido, apesar de outros terem descoberto seus lados ocultos e vulneráveis, entre eles seu homossexualismo." Farrell intervém e diz que o aspecto do homossexualismo do herói deve ser visto como ""um elemento a mais da história, inscrito com naturalidade dentro da tradição macedônia".
Uma lenda que atravessou séculos atribui a morte de Alexandre a um envenenamento tramado por Aristóteles para vingar o assassinato de seu sobrinho Calístenes. Seguindo a tradição grega e romana, o fim horrível de Calístenes passou a exemplificar os crimes do poder contra o pensamento. Mas o filme de Stone não procura traçar o perfil de um assassino, e sim, sobretudo, de um personagem ""polêmico e contraditório", segundo o mexicano Rodrigo Prieto, diretor de fotografia do filme (e também de ""Amores Brutos" e "21 Gramas").
Oliver Stone resume a história de Alexandre, o Grande, como a de ""um jovem, um príncipe, um rei, que conseguiu realizar muitos de seus sonhos em vida. Até que, como uma estrela, sua luz deixou de brilhar".


Tradução Clara Allain


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