RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Em sua carreira como estrela de cinema, Drew Barrymore fez pós-graduação em comédias pós-feministas, que combinam romantismo antiquado e desejo moderno de emancipação. Em "Garota Fantástica", ela tenta levar o aprendizado à frente das câmeras para trás delas, em seu primeiro filme como diretora.
Garota do interior do Texas, Bliss (Ellen Page, de "Juno") poderia ser uma das muitas heroínas encarnadas por Drew. Na primeira cena, ela participa de um concurso de beleza para agradar sua mãe (Marcia Gay Harden), mas aparece de cabelos pintados de azul. Já aí está traduzido o sentimento de inadequação da adolescente em relação aos ritos superficiais da América profunda.
Em uma visita a Austin, cidade ligeiramente mais cosmopolita, Bliss irá encontrar sua válvula de escape: uma competição de "roller derby", modalidade agressiva de patinação feminina. Escondida da família, ela se inscreve no pior time local e, mesmo fisicamente frágil, se destaca por conta da sua velocidade. Logo também se apaixona por um garoto de uma banda local.
Não é difícil imaginar o desenvolvimento dessa história baseada na autobiografia de uma patinadora: o companheirismo feminino irá ajudar Bliss a enfrentar a desconfiança familiar, a decepção amorosa e a mentalidade interiorana. Uma mistura entre a aeróbica de "As Panteras" e o sentimentalismo de "Nunca Fui Beijada", para citar dois filmes produzidos por Barrymore.
Como diretora, ela se revela limitada, mas correta. Não há muita imaginação em suas escolhas estéticas, tampouco há motivo para constrangimento.
Por outro lado, Drew compreende perfeitamente o espírito do trabalho que conduz; sabe quais cordas emocionais tocar e em qual momento -além de conseguir arregimentar um bom elenco de coadjuvantes (Juliette Lewis, Jimmy Fallon, a rapper Eve). Todos aqueles anos como protagonista de comédias simpáticas e inofensivas não foram em vão.