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"CHATÔ"
Ator diz que o ministro Francisco Weffort não o recebe e que o órgão dificulta seu acesso às decisões do processo
Guilherme Fontes questiona ações do MinC
DA ENVIADA AO RIO
Na sequência da entrevista,
Guilherme Fontes acusa a Secretaria do Audiovisual de persegui-lo e anuncia reunião com seus patrocinadores para negociar liberação dos US$ 2 milhões suplementares para a conclusão de "Chatô".
Folha - O sr. negocia com os investidores do projeto liberação da verba suplementar?
Guilherme Fontes - Está sendo
preparado um plano de distribuição e mídia que será apresentado
a eles por meio da Comissão de
Valores Imobiliários. Porque é lá
que distribuo meus títulos, que
explico meus investimentos e faço
meus contratos. Este mês devo
convocar a todos para apresentar
o que vou fazer e levar a eles a
oportunidade do negócio.
Folha - A intenção é captar os US$
2 milhões restantes com os mesmos patrocinadores?
Fontes - Sim. Temos 16 empresas envolvidas, muito grandes,
como Petrobras, Volkswagen, Citibank, Eletrobrás, Transbrasil,
Wal Petróleo, TAM, Credicard,
Finep, White Martins, Ipiranga,
BNDES, Telefonica, BR Distribuidora, Light e Correios. Isso significa que vai dar um resíduo muito
pequeno para cada uma. Todas
devem ter sofrido muito comigo,
mas foram muito gentis e pacientes com um sistema que as golpeou pelas costas também.
Folha - O sr. sofreu alguma pressão da direção das empresas patrocinadoras ou de seus responsáveis
de marketing?
Fontes - Digamos que nós acompanhamos, eles e eu, com o coração apertado. Porque, afinal, eles
acreditavam, sabendo no que tinham investido. Eu, por minha
vez, acredito, sabendo exatamente o quanto investi. Mas o ministério, quando esse secretário entrou no cargo, fingiu que nunca tinha ouvido falar daquilo. Atuou
muito bem. Enganou a mim, à
mídia, ao projeto, ao dinheiro público. Uma catástrofe. Isso foi fatal. Tanto para a moral do ministério quanto para a própria lei.
Mas isso acabou provocando a
migração dos recursos para
shows e teatros. Essa história fez
um serviço, pelo menos. Fez com
que investissem mais em teatro.
Folha - O sr. sugeriu que a suspeita de irregularidades sobre seu
projeto era falsa, mas que elas existem, sim, na maioria dos outros
projetos incentivados pela Lei do
Audiovisual. O sr. está se referindo
a irregularidades de que natureza?
Fontes - São irregularidades gerenciais, financeiras, fiscais em alguns casos. Há irregularidades
corriqueiras, formais. E há desvios violentos, mas eu prefiro
acreditar que a maioria desses
problemas, que já foram fiscalizados pela própria UnB, seja novamente da ordem do gerenciamento da lei. É óbvio que você pode
coibir intermediação de verbas e
reduzi-la a níveis honestos e legais. Eu consegui. Muitos poderiam ter conseguido, se mais bem
orientados. Ocorre que muita
gente não conseguiu.
Folha - O sr. citou a Finep entre os
seus investidores. Existe uma pendência judicial entre a Zoebra, que
tomou emprestados US$ 2 milhões
da Finep para sua instalação, e a
entidade, que o processou por pagamentos em atraso. Em que ponto
está a disputa?
Fontes - O projeto da Finep também está parado por causa do
MinC. Ou seja, quando parou a
minha produção, parou a minha
capacidade de tocar adiante o
projeto da indústria, da fabriqueta, como eu chamo. A lei prevê a
instalação dessas indústrias no
Brasil. Simplesmente eu fui proibido de fazer isso desde que o José
Álvaro entrou no cargo.
Folha - O sr. tomou um empréstimo na Finep (de US$ 2 milhões, em
1998) para financiar a instalação
da empresa Zoebra. E o sr. está dizendo que sua capacidade de ir saldando a dívida com a Finep ficou
comprometida...
Fontes - (Interrompendo) Porque os meus negócios foram sendo desmoronados por essa difamação dissimulatória provocada
por essas dúvidas do secretário do
Audiovisual na mídia. Talvez ele
tenha dúvida do setor, talvez ele
não saiba o que está fazendo. Os
auditores da UnB, quando se deram conta de que eu não era o
bandido que a mídia ou que o ministério estava propondo ou suspeitando que eu fosse, começaram a ficar gentis comigo. No começo, muito grossos, mas depois
foram lentamente ficando gentis e
se permitindo me ouvir. A mim
nunca me foi permitido ser ouvido. O secretário não me recebe, o
ministro não me recebe há mais
de um ano e meio. É vergonhosa,
constrangedora essa situação. Há
pouco tempo, fiz uma pergunta
muito simples, muito óbvia, aos
dois incorruptíveis auditores, que
foi quanto dinheiro eu, Guilherme, havia investido no projeto.
Fiz a mesma pergunta ao ministério, porque a Secretaria Federal de
Controle precisava entender. A
UnB educadamente passou a resposta para o ministério, com cópia para mim, porque afinal de
contas ela é contratada do ministério, mas eu sou parte interessada. A UnB me mandou por internet e, ao mesmo tempo, o ministério me mandou uma carta dizendo que não sabia informar,
porque não tinha o processo na
mão. Como? Se ele publicou meu
processo na internet? Má-fé. Não
é um homem de bom senso. E esse auditor foi demitido por ter me
dado uma informação que é normal, limpa, verdadeira.
Folha - Quem é esse auditor?
Fontes - Deixa ele lá, quieto. Dias
depois, ele foi readmitido por
pressão do outro auditor, que ficou envergonhado, nervoso, triste. Nessa readmissão, alguma pessoa foi lá pedir para amainar os
processos de prestação de contas.
Ficou revoltado, começou a falar
mal da gerência e foi demitido.
Folha - O sr. diz amainar os processos de prestação de contas de
todos os projetos envolvidos com a
Lei do Audiovisual?
Fontes - Sim. Foi demitido duas
vezes. E é um homem seriíssimo,
incorruptível. Isso é um caso. Para entender como ele (Moisés),
fez a política de prestação de contas comigo, quando ele enviou pela primeira vez para a Secretaria
Federal de Controle o processo,
órgão do Ministério da Fazenda, a
secretaria rapidamente o devolveu, por falta de clareza. Ou seja:
"Afinal de contas, o que vocês
querem do menino? Vocês acham
que ele está devendo quanto?". O
processo foi repaginado pela Secretaria do Audiovisual e voltou
não uma, mas duas vezes. Eles
não o retornaram por minha causa, mas pela legalidade do processo. No fundo, no fundo, acho que
até ele (Moisés) me considera um
cara legal. Mas se tornou útil para
a sua manutenção no cargo que
eu saísse do mercado.
Folha - Em 2000, o sr. deixou a co-produção do filme "Bellini & a Esfinge", que fazia com seu irmão,
Teodoro Fontes.
Fontes - Fui obrigado a sair, por
determinação do secretário, senão o dinheiro não seria liberado.
Ou seja, ele fez lesa-patrimônio,
porque, na medida em que você é
produtor de um filme, você é dono de um patrimônio também.
Folha - Em que termos o secretário Álvaro Moisés o obrigou a deixar a produção?
Fontes - Seu principal assecla
orientou o meu irmão a me colocar um contrato em que eu abria
mão; transferia de empresa, trocava de proponente.
Folha - Afirmando que, se não
houvesse essa troca, o projeto não
seria aprovado?
Fontes - Tacitamente. Se não
houvesse a troca, o dinheiro não
seria liberado, o filme não sairia.
Uma vergonha. Pavoroso. Ele esqueceu que falava com família.
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