São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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"CHATÔ"

Ator diz que o ministro Francisco Weffort não o recebe e que o órgão dificulta seu acesso às decisões do processo

Guilherme Fontes questiona ações do MinC

DA ENVIADA AO RIO

Na sequência da entrevista, Guilherme Fontes acusa a Secretaria do Audiovisual de persegui-lo e anuncia reunião com seus patrocinadores para negociar liberação dos US$ 2 milhões suplementares para a conclusão de "Chatô".

Folha - O sr. negocia com os investidores do projeto liberação da verba suplementar?
Guilherme Fontes -
Está sendo preparado um plano de distribuição e mídia que será apresentado a eles por meio da Comissão de Valores Imobiliários. Porque é lá que distribuo meus títulos, que explico meus investimentos e faço meus contratos. Este mês devo convocar a todos para apresentar o que vou fazer e levar a eles a oportunidade do negócio.

Folha - A intenção é captar os US$ 2 milhões restantes com os mesmos patrocinadores?
Fontes -
Sim. Temos 16 empresas envolvidas, muito grandes, como Petrobras, Volkswagen, Citibank, Eletrobrás, Transbrasil, Wal Petróleo, TAM, Credicard, Finep, White Martins, Ipiranga, BNDES, Telefonica, BR Distribuidora, Light e Correios. Isso significa que vai dar um resíduo muito pequeno para cada uma. Todas devem ter sofrido muito comigo, mas foram muito gentis e pacientes com um sistema que as golpeou pelas costas também.

Folha - O sr. sofreu alguma pressão da direção das empresas patrocinadoras ou de seus responsáveis de marketing?
Fontes -
Digamos que nós acompanhamos, eles e eu, com o coração apertado. Porque, afinal, eles acreditavam, sabendo no que tinham investido. Eu, por minha vez, acredito, sabendo exatamente o quanto investi. Mas o ministério, quando esse secretário entrou no cargo, fingiu que nunca tinha ouvido falar daquilo. Atuou muito bem. Enganou a mim, à mídia, ao projeto, ao dinheiro público. Uma catástrofe. Isso foi fatal. Tanto para a moral do ministério quanto para a própria lei. Mas isso acabou provocando a migração dos recursos para shows e teatros. Essa história fez um serviço, pelo menos. Fez com que investissem mais em teatro.

Folha - O sr. sugeriu que a suspeita de irregularidades sobre seu projeto era falsa, mas que elas existem, sim, na maioria dos outros projetos incentivados pela Lei do Audiovisual. O sr. está se referindo a irregularidades de que natureza?
Fontes -
São irregularidades gerenciais, financeiras, fiscais em alguns casos. Há irregularidades corriqueiras, formais. E há desvios violentos, mas eu prefiro acreditar que a maioria desses problemas, que já foram fiscalizados pela própria UnB, seja novamente da ordem do gerenciamento da lei. É óbvio que você pode coibir intermediação de verbas e reduzi-la a níveis honestos e legais. Eu consegui. Muitos poderiam ter conseguido, se mais bem orientados. Ocorre que muita gente não conseguiu.

Folha - O sr. citou a Finep entre os seus investidores. Existe uma pendência judicial entre a Zoebra, que tomou emprestados US$ 2 milhões da Finep para sua instalação, e a entidade, que o processou por pagamentos em atraso. Em que ponto está a disputa?
Fontes -
O projeto da Finep também está parado por causa do MinC. Ou seja, quando parou a minha produção, parou a minha capacidade de tocar adiante o projeto da indústria, da fabriqueta, como eu chamo. A lei prevê a instalação dessas indústrias no Brasil. Simplesmente eu fui proibido de fazer isso desde que o José Álvaro entrou no cargo.

Folha - O sr. tomou um empréstimo na Finep (de US$ 2 milhões, em 1998) para financiar a instalação da empresa Zoebra. E o sr. está dizendo que sua capacidade de ir saldando a dívida com a Finep ficou comprometida...
Fontes -
(Interrompendo) Porque os meus negócios foram sendo desmoronados por essa difamação dissimulatória provocada por essas dúvidas do secretário do Audiovisual na mídia. Talvez ele tenha dúvida do setor, talvez ele não saiba o que está fazendo. Os auditores da UnB, quando se deram conta de que eu não era o bandido que a mídia ou que o ministério estava propondo ou suspeitando que eu fosse, começaram a ficar gentis comigo. No começo, muito grossos, mas depois foram lentamente ficando gentis e se permitindo me ouvir. A mim nunca me foi permitido ser ouvido. O secretário não me recebe, o ministro não me recebe há mais de um ano e meio. É vergonhosa, constrangedora essa situação. Há pouco tempo, fiz uma pergunta muito simples, muito óbvia, aos dois incorruptíveis auditores, que foi quanto dinheiro eu, Guilherme, havia investido no projeto. Fiz a mesma pergunta ao ministério, porque a Secretaria Federal de Controle precisava entender. A UnB educadamente passou a resposta para o ministério, com cópia para mim, porque afinal de contas ela é contratada do ministério, mas eu sou parte interessada. A UnB me mandou por internet e, ao mesmo tempo, o ministério me mandou uma carta dizendo que não sabia informar, porque não tinha o processo na mão. Como? Se ele publicou meu processo na internet? Má-fé. Não é um homem de bom senso. E esse auditor foi demitido por ter me dado uma informação que é normal, limpa, verdadeira.

Folha - Quem é esse auditor?
Fontes -
Deixa ele lá, quieto. Dias depois, ele foi readmitido por pressão do outro auditor, que ficou envergonhado, nervoso, triste. Nessa readmissão, alguma pessoa foi lá pedir para amainar os processos de prestação de contas. Ficou revoltado, começou a falar mal da gerência e foi demitido.

Folha - O sr. diz amainar os processos de prestação de contas de todos os projetos envolvidos com a Lei do Audiovisual?
Fontes -
Sim. Foi demitido duas vezes. E é um homem seriíssimo, incorruptível. Isso é um caso. Para entender como ele (Moisés), fez a política de prestação de contas comigo, quando ele enviou pela primeira vez para a Secretaria Federal de Controle o processo, órgão do Ministério da Fazenda, a secretaria rapidamente o devolveu, por falta de clareza. Ou seja: "Afinal de contas, o que vocês querem do menino? Vocês acham que ele está devendo quanto?". O processo foi repaginado pela Secretaria do Audiovisual e voltou não uma, mas duas vezes. Eles não o retornaram por minha causa, mas pela legalidade do processo. No fundo, no fundo, acho que até ele (Moisés) me considera um cara legal. Mas se tornou útil para a sua manutenção no cargo que eu saísse do mercado.

Folha - Em 2000, o sr. deixou a co-produção do filme "Bellini & a Esfinge", que fazia com seu irmão, Teodoro Fontes.
Fontes -
Fui obrigado a sair, por determinação do secretário, senão o dinheiro não seria liberado. Ou seja, ele fez lesa-patrimônio, porque, na medida em que você é produtor de um filme, você é dono de um patrimônio também.

Folha - Em que termos o secretário Álvaro Moisés o obrigou a deixar a produção?
Fontes -
Seu principal assecla orientou o meu irmão a me colocar um contrato em que eu abria mão; transferia de empresa, trocava de proponente.

Folha - Afirmando que, se não houvesse essa troca, o projeto não seria aprovado?
Fontes -
Tacitamente. Se não houvesse a troca, o dinheiro não seria liberado, o filme não sairia. Uma vergonha. Pavoroso. Ele esqueceu que falava com família.




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