São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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CINEMA

Thierry Frémaux, diretor-artístico do festival, queria na mostra novo longa de Karim Aïnouz, que não ficou pronto

Diretor de Cannes lamenta a falta do Brasil

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Você pode estar em dia com o cinema e nunca ter ouvido falar em Thierry Frémaux. Mas as opiniões desse francês sobre filmes certamente já afetaram você.
A cada ano, ele arma a mais reluzente vitrine da produção cinematográfica mundial, ao definir os títulos que disputam a Palma de Ouro no Festival de Cannes e os que estacionam um degrau abaixo da competição, na mostra paralela Um Certo Olhar.
Frémaux é o diretor-artístico de Cannes, o mais importante festival cinematográfico do mundo, cujo alcance assinala tendências, revela e consagra autores e reafirma a cada ano a aura de glamour que envolve a sétima arte.
Para a 59ª edição do festival, que começa no próximo dia 17, ele selecionou 20 longas para disputar a Palma de Ouro e 22 para atrair a atenção na mostra Um Certo Olhar. Não há títulos brasileiros entre eles. E não porque Frémaux não quisesse ao menos um. Confira, a seguir, sua entrevista à Folha.

Folha - É verdade que o novo filme do cineasta brasileiro Karim Aïnouz, "Rifa-Me" (título provisório), estaria em Cannes, se fosse concluído a tempo do festival?
Thierry Frémaux -
Infelizmente o filme de Karim não estava pronto, e eu lamentei, porque ele faz parte dos que representam o futuro.

Folha - Em 2002, quando o sr. selecionou "Cidade de Deus" para a mostra oficial fora de competição, disse que "um dia, Fernando Meirelles disputaria a Palma de Ouro em Cannes". Ainda tem essa certeza? Quando isso deve acontecer?
Frémaux -
Depois de "Cidade de Deus", Fernando Meirelles se impôs no cinema mundial como um dos mais importantes novos cineastas. Confirmo que estou certo de que, em breve, o veremos em competição em Cannes. Ele é jovem, tem tempo. É inútil tentar fazê-lo carregar uma pressão muito forte. É um autor com perfeita consciência da carreira que deve fazer.

Folha - Depois da "onda asiática", esperava-se a "onda latino-americana" no cinema. A seleção de Cannes deste ano, dominada pela produção européia, é sinal de que a vaga latina não se confirma?
Frémaux -
Cannes é uma fotografia instantânea que tanto formula perguntas como traz respostas. São necessários muitos anos para se formar uma opinião. Há mais de uma década a Ásia está presente e, neste ano, talvez ela tenha uma participação menos forte. Por outro lado, eu havia anunciado que a próxima onda seria latina, e isso se confirma a cada ano. Depois do Brasil e da Argentina, agora temos o México, com Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro em competição, e o primeiro filme de Francisco Vargas, em Um Certo Olhar.

Folha - O debate político que agita a França terá reflexo em Cannes?
Frémaux -
Não creio. Cannes é um festival internacional, e não acho que os acontecimentos franceses dos últimos meses possam ter conseqüência nele. Mas os debates que mobilizam o mundo todo: o aquecimento do planeta, a poluição, os direitos do homem, a política estarão presentes, porque são sempre os grandes artistas que questionam nossas vidas.


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