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CINEMA
Thierry Frémaux, diretor-artístico do festival, queria na mostra novo longa de Karim Aïnouz, que não ficou pronto
Diretor de Cannes lamenta a falta do Brasil
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Você pode estar em dia com o
cinema e nunca ter ouvido falar
em Thierry Frémaux. Mas as opiniões desse francês sobre filmes
certamente já afetaram você.
A cada ano, ele arma a mais reluzente vitrine da produção cinematográfica mundial, ao definir
os títulos que disputam a Palma
de Ouro no Festival de Cannes e
os que estacionam um degrau
abaixo da competição, na mostra
paralela Um Certo Olhar.
Frémaux é o diretor-artístico de
Cannes, o mais importante festival cinematográfico do mundo,
cujo alcance assinala tendências,
revela e consagra autores e reafirma a cada ano a aura de glamour
que envolve a sétima arte.
Para a 59ª edição do festival, que
começa no próximo dia 17, ele selecionou 20 longas para disputar a
Palma de Ouro e 22 para atrair a
atenção na mostra Um Certo
Olhar. Não há títulos brasileiros
entre eles. E não porque Frémaux
não quisesse ao menos um. Confira, a seguir, sua entrevista à Folha.
Folha - É verdade que o novo filme do cineasta brasileiro Karim Aïnouz, "Rifa-Me" (título provisório),
estaria em Cannes, se fosse concluído a tempo do festival?
Thierry Frémaux - Infelizmente o
filme de Karim não estava pronto,
e eu lamentei, porque ele faz parte
dos que representam o futuro.
Folha - Em 2002, quando o sr. selecionou "Cidade de Deus" para a
mostra oficial fora de competição,
disse que "um dia, Fernando Meirelles disputaria a Palma de Ouro
em Cannes". Ainda tem essa certeza? Quando isso deve acontecer?
Frémaux - Depois de "Cidade de
Deus", Fernando Meirelles se impôs no cinema mundial como um
dos mais importantes novos cineastas. Confirmo que estou certo
de que, em breve, o veremos em
competição em Cannes. Ele é jovem, tem tempo. É inútil tentar
fazê-lo carregar uma pressão
muito forte. É um autor com perfeita consciência da carreira que
deve fazer.
Folha - Depois da "onda asiática", esperava-se a "onda latino-americana" no cinema. A seleção
de Cannes deste ano, dominada pela produção européia, é sinal de
que a vaga latina não se confirma?
Frémaux - Cannes é uma fotografia instantânea que tanto formula perguntas como traz respostas. São necessários muitos
anos para se formar uma opinião.
Há mais de uma década a Ásia está presente e, neste ano, talvez ela
tenha uma participação menos
forte. Por outro lado, eu havia
anunciado que a próxima onda
seria latina, e isso se confirma a
cada ano. Depois do Brasil e da
Argentina, agora temos o México,
com Alejandro González Iñárritu
e Guillermo del Toro em competição, e o primeiro filme de Francisco Vargas, em Um Certo Olhar.
Folha - O debate político que agita a França terá reflexo em Cannes?
Frémaux - Não creio. Cannes é
um festival internacional, e não
acho que os acontecimentos franceses dos últimos meses possam
ter conseqüência nele. Mas os debates que mobilizam o mundo todo: o aquecimento do planeta, a
poluição, os direitos do homem, a
política estarão presentes, porque
são sempre os grandes artistas
que questionam nossas vidas.
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