DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta é russo, a produção é norte-americana e o cenário é uma vila no Rio Grande do Norte, extremo do litoral brasileiro.
Com essas credenciais, o filme "Sonho de Peixe", de Kirill Mikhanovsky, foi selecionado para a Semana da Crítica, que ocorre em paralelo ao Festival de Cannes, assim como a Quinzena dos Realizadores, que divulgou nesta semana sua programação (veja quadro ao lado). O diretor conta que a idéia de filmar um triângulo amoroso protagonizado por pescadores surgiu "de brincadeira", quando ele fez sua primeira viagem ao Brasil, em 2001.
"Fui parar em Baía Formosa, um local que era autêntico, não poluído pelo turismo e de forte personalidade", afirma. Um lugar também marcado pela pobreza, que Mikhanovsky diz "não explorar, nem ignorar" em seu filme, que incorpora os habitantes e seus hábitos no roteiro.
""Sonho de Peixe" não oferece uma panacéia para a pobreza. Nós a tratamos como a realidade dos personagens, como o seu ambiente "natural", por assim dizer."
Chico Diaz e Phelippe Haagensen estão entre os poucos nomes profissionais do elenco. Mas são os não-profissionais que têm maior prestígio com o diretor.
"Os não-atores são imensamente superiores em sua presença na tela a qualquer ator educado em escolas de teatro ou na indústria do cinema. São capazes de atingir um nível de naturalismo que não pode ser ensaiado", avalia.
Com tal salada de elementos que reuniu em seu filme, não espanta que Mikhanovsky, na hora de definir o gênero ao qual ele pertence, lance mão de um "pós-neo-realismo neoclássico".
Como de crítica trata a sua semana em Cannes, o diretor diz que a frase que mais gostaria de ouvir por lá é: "Diversão total! Quero assistir de novo!". (SA)


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