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200 dão adeus a Boal ao som de Chico
Cerimônia antes de cremação de dramaturgo teve execução de "Meu Caro Amigo", de Francis Hime e Chico Buarque
Criador do teatro do
oprimido morreu
anteontem; cremação
aconteceu no cemitério São
Francisco Xavier, no Rio
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Um violinista executou "Meu
Caro Amigo" e o ator Celso Frateschi leu um trecho do musical
"Arena Conta Zumbi" na despedida ao dramaturgo, encenador e pensador do teatro Augusto Boal, no começo da tarde
de ontem, no cemitério São
Francisco Xavier (zona portuária do Rio).
Boal morreu aos 78 anos na
madrugada do sábado, de complicações decorrentes de leucemia. Seu corpo seria cremado
após a cerimônia em sua homenagem, da qual participaram
em torno de 200 pessoas.
"Meu Caro Amigo", de Chico
Buarque e Francis Hime, foi
composta (ou "endereçada") a
Boal na década de 1970, quando
ele se encontrava no exílio.
A peça "Arena Conta Zumbi"
foi escrita por Boal com Gianfrancesco Guarnieri e musicada por Edu Lobo. Boal a dirigiu
meses depois do golpe de Estado que instaurou a ditadura militar no Brasil em 1964.
Ao comentar a trajetória de
Boal, amigos seus do teatro, da
cultura e da política avaliaram a
envergadura histórica daquele
que possivelmente foi o homem de teatro brasileiro de
maior projeção no exterior.
Na década de 1970, ele se tornou conhecido mundo afora
pela criação do teatro do oprimido, sistema ou metodologia
que conjuga arte e ação social.
"Boal é o único brasileiro que
criou um sistema ao nível de
Brecht [dramaturgo alemão],
Stanislavsky [diretor russo] e
Grotowski [diretor polonês]",
afirmou o cineasta Orlando
Senna. "É o cara mais importante do Brasil lá fora, o mais
traduzido e mais inspirador",
disse Celso Frateschi, ex-presidente da Funarte (Fundação
Nacional de Artes). Para o atual
presidente da instituição, o
ator Sérgio Mamberti, "Boal foi
um libertário, um dos grandes
brasileiros do século passado".
O poeta Ferreira Gullar, colunista da Folha, conviveu com
Boal quando o amigo dirigiu o
show "Opinião", um dos primeiros espetáculos a contestar
o regime militar. "Boal era um
Quixote pelo mundo todo a
pregar que o teatro deveria dar
voz aos oprimidos."
Um dos dirigentes do MST,
João Pedro Stedile, contou que
o movimento mantém dezenas
de grupos de teatro do oprimido. "Boal mesclava arte e política sem maniqueísmo, mas
conscientizando", comentou.
"Boal lutava pela deselitização do teatro", disse o sambista
Martinho da Vila. Na opinião
do diretor teatral Amir Haddad, um dos legados de Boal é a
ideia de que "ser artista e criador não é privilégio, é direito da
cidadania". Para a atriz Renata
Sorrah, o centro do pensamento de Boal era a noção de que "o
teatro é modificador".
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