São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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REPERCUSSÃO

MILTON GONÇALVES, ator, foi dirigido por Boal em "Ratos e Homens" e "Chapetuba Futebol Clube"
"Foi o primeiro diretor que tive na carreira profissional, em "Ratos e Homens" (1956). Um amigo me falou que tinha um diretor recém-chegado dos Estados Unidos à procura de um ator. Encontrei um jovem diretor cheio de garra, que me aceitou para o papel de Crooks. A minha vida começou a mudar a partir dali. Neste grupo, ninguém perguntou se eu era branco, amarelo ou negro: queriam alguém com vontade de fazer teatro."

JOSÉ RENATO, diretor, dividiu o comando do Teatro de Arena com Boal nos anos 50 e 60
"A importância dele é indiscutível. A existência do teatro do oprimido, que seria a continuação do espírito do teatro engajado que a gente fez no Arena, alcançou mais reconhecimento no exterior até do que aqui, o que é deprimente para nós, testemunhas da desinformação de nossos governantes. Ele sempre tratou essa falta de apoio à cultura com ironia e inteligência."

AMIR HADDAD, diretor, trabalhou com Boal em "Fogo Frio" (1960), produção conjunta dos grupos Oficina e Arena
"Boal pensou um sentido novo para o ser humano, o teatro e a cultura, viu a necessidade absoluta de transformar as coisas pelo teatro. A penetração que o pensamento dele teve no mundo é evidência da força de sua pedagogia. Fui certa vez a uma livraria na Alemanha pedir livros sobre teatro e me indicaram o último dele. O teatro brasileiro não tem renovado suas lideranças, suas inquietações. Tudo ficou concentrado na geração da qual faço parte com Boal, Zé Celso, Flávio Rangel e outros. A ditadura provocou uma ruptura muito grande. À medida que vão desaparecendo esses nomes que cresceram nas décadas de 50 e 60, fico com medo. Parece que não há sobreviventes depois da gente."

DOMINGOS OLIVEIRA, diretor e dramaturgo
"Da primeira que vez que vi o Teatro de Arena, levei um susto que mudou a minha vida. Tinha muita admiração pela certeza do Boal das coisas. Ele possuía um espírito de iniciativa, que é muito mais importante do que o talento. Não que ele não o tivesse."

JOSÉ GOMES TEMPORÃO, ministro da Saúde, em nota, referindo-se ao teatro do oprimido
"Augusto Boal tornou protagonistas do grande teatro da cena pública os pacientes mentais pobres, duplamente excluídos pelo estigma e pela pobreza."

ALCIONE ARAÚJO, dramaturgo
"Pelas mãos dele, o teatro brasileiro começou a se renovar, curiosamente, em São Paulo. Até então, a expressividade teatral era no Rio de Janeiro, com Nelson Rodrigues. Com o teatro do oprimido, Boal deixa de ter um projeto estético e passa a um projeto social, de explicar, por exemplo, para as mulheres como elas assimilam o machismo, ou para os trabalhadores os efeitos do capitalismo. Ele tentou desobstruir o canal de criação das pessoas não-artistas."

RENATA SORRAH, atriz
"Ele foi um Dom Quixote na vida."

MARTINHO DA VILA, sambista
"Boal lutava pela deselitização do teatro. Até hoje o teatro não é muito popular."

CELSO FRATESCHI, ator e ex-presidente da Funarte
"Boal é um dos pilares fundamentais do teatro brasileiro moderno, com Zé [Celso Martinez Corrêa], Antunes [Filho]."

CHICO BUARQUE, músico, que fez parceria com Boal em "Mulheres de Atenas"
"Nosso contato vem de longe, desde os anos 60, da época do Arena. Depois, já nos anos 70, estive com ele em Buenos Aires, em Lisboa e em Paris, quando Boal, no exílio, dedicava sua energia ao teatro do oprimido. Sabia que ele estava doente, mas a notícia da morte é sempre chocante e me deixa muito triste."


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