São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003 |
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TEATRO Ao lado de Daniel Herz, ator estréia como encenador na montagem de "Zastrozzi", peça do canadense George Walker Selton Mello dirige paródia ao melodrama
PEDRO IVO DUBRA FREE-LANCE PARA A FOLHA Com o seu derramamento sentimental, nítida divisão entre o bem e o mal, duelos de capa e espada, mortes em profusão e demais exageros, o gênero melodramático muitas vezes rende mais como paródia do que quando levado a sério. É o caso de "Zastrozzi", montagem em que o ator Selton Mello estréia como diretor e que inicia a sua temporada paulistana amanhã, no Teatro Folha. Texto do autor canadense George Walker inédito no Brasil, a peça brinca com os clichês do melodrama ao mostrar os instantes derradeiros da perseguição empreendida pelo terrível vilão Zastrozzi, que deseja vingar o assassinato da mãe, ao lunático e místico artista Verezzi. Mello, que interpreta o protagonista do título, divide o comando da encenação com o também ator Daniel Herz ("As Artimanhas de Scapino"). "Como intérprete, quis brincar com algo parecido com o "trem fantasma': os sustos são dados, mas sabemos que não são muito sérios. Zastrozzi é um vilão repugnante, mas que permite a identificação da platéia", afirma o artista. O espetáculo debutou no sul do país -Curitiba, Porto Alegre, Londrina- e esteve em cartaz no Rio, por dois meses. Consistia, porém, em idéia antiga, cultivada havia pelo menos dez anos. "A mãe do Daniel é professora de inglês. Em 93, ela trouxe essa peça para ele ler. Ele me apresentou, gostamos, começamos a ensaiá-la à época, mas ela não saiu por falta de patrocínio, pelos trabalhos paralelos que surgiam. No ano passado, o Ângelo Paes Leme [que interpreta a personagem Verezzi] leu a peça e nos animou a retomá-la. O fato de dirigir também deu força extra", diz Mello. Carreira Ator que transita o cinema, o teatro e a televisão, Selton Mello, 30, participou recentemente de três filmes, a serem lançados em breve: "Lisbela e o Prisioneiro", de Guel Arraes, "Aurélia Schwarzenega", de Carlos Reichenbach, e "Nina", de Heitor Dhalia. Grava também, para a TV, a série "Os Normais". Neste ano, completa 20 anos de carreira e parece ainda não privilegiar uma área ou um aspecto da profissão. "Não faço planos em relação a isso, penso em dirigir outras coisas, mas sem muita regra, pode ser que eu dirija outra coisa com o Daniel, pode ser que dirija sozinho. Minha estréia só foi possível com esse texto, pela intimidade que tinha com ele. Só deu para dirigir e atuar desse jeito, não sei se me arriscaria em outra empreitada. Daniel e eu dividimos bem a encenação, foi tranquilo, cada um trouxe suas referências, ele é quase que exclusivamente de teatro, fez pouca TV, pouco cinema." A montagem da dupla retirou da trama de Walker citações temporais e espaciais, dando conta da multiplicidade de lugares sugeridos por meio da iluminação e de projeções de imagens, flertando com a estrutura das histórias em quadrinhos e, segundo Mello, "privilegiando o trabalho de ator". A trilha sonora, assinada pelos Guevara Brothers (Marcelo Vindicatto e Plínio Profeta), perpassa todas as cenas, seja na forma de música ou de ruídos. Além dos contatos de praxe para a cessão dos direitos autorais, não houve diálogos mais alentados entre a produção brasileira e o dramaturgo canadense. "É difícil encontrá-lo." "Zastrozzi", de 1976, é uma homenagem ao melodrama. Escrevo para o teatro pela possibilidade de um casamento sólido entre o trágico e o cômico", disse George Walker, 55, ex-taxista, autor de cerca de 30 peças, roteirista de rádio e televisão, em entrevista por e-mail à Folha. ZASTROZZI. Texto: George Walker. Direção: Selton Mello e Daniel Herz. Com: Selton Mello, Natália Lage, Ângelo Paes Leme, Michel Bercovitch, Álvaro Diniz e Gisele Câmara. Onde: Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso 2, SP, tel. 0/xx/ 11/3823-2323). Quando: estréia amanhã para convidados, às 21h30; sex., às 21h30, sáb., às 20h e às 22h, e dom., às 19h. Até 27/7. Quanto: R$ 30 (sex.) e R$ 40 (sáb. e dom.). Patrocinadores: Brasil Telecom e Eletrobrás. Texto Anterior: Outra frequência: Pan e Transamérica entram em guerra contra Ibope e Cia. Próximo Texto: Peça conflita identidade e mercadoria Índice |
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