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MÚSICA
Músico africano, influenciado por cantores brasileiros, divide o palco com Vanessa da Mata
Lokua Kanza canta a miscigenação
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
O Brasil idílico, de paz reinante
e amor no ar, existe -e não apenas na mente de estrangeiros
que nunca visitaram o país.
Quem fala é Lokua Kanza, 45,
cantor e compositor africano
que "bate o cartão" por aqui desde 1997. Ele retorna para shows
hoje e amanhã com a brasileira
Vanessa da Mata, em que vai
mostrar músicas de seu mais recente CD, "Toyebi Té".
"Sinto muita paz nos brasileiros; adoro o jeito como eles vivem, todos são simples e têm
muito amor no coração", diz o
músico, que pretende morar no
país no futuro. "Quando vou ao
Brasil, me sinto na África."
A identificação de Kanza com
o país fica ainda mais explícita
quando ele interpreta suas canções, com timbres vocais que
lembram artistas brasileiros como Djavan, ídolo do africano.
"A primeira vez que ouvi música brasileira foi no Congo, há
20 anos. Era uma música da Elis
Regina: foi um choque. O ritmo
era parecido com os africanos,
mas a voz e a harmonia eram
muito diferentes", explica.
Em "Toyebi Té" o fascínio não
é diferente. Mas há algo que diferencia Kanza de outros cantores
africanos e não o joga facilmente
no rótulo "world music".
Há, sim, a percussão e vocais à
capela tão característicos da música africana em canções como
"Tika Ngaï", mas o que diferencia Kanza é sua escolha por estruturas mais melódicas, em que
mistura letras em inglês e francês, além de lingala e swahili
-línguas faladas em seu país.
"O que é "world music'? Michael Jackson, no Congo, é
"world music". Tudo depende de
onde você está", diz ele.
Quanto ao show, promete algo
simples, "como se eu estivesse
indo a uma vila e fosse conversar
com minha família, para passar
um bom tempo com eles". No
repertório, ele pretende fazer
um "best of", com músicas de
seus quatro álbuns.
Se a explicação sobre o show é
um tanto conceitual, assim também é sua música e sua rotina de
trabalho. Vivendo atualmente
na França ("no Congo, se você
critica a política, você é morto"),
Kanza compara o mundo a um
grande jardim para explicar as
razões da mistura entre suas raízes africanas e elementos europeus e americanos.
"Amo os seres humanos, antes
de mais nada. Quando misturo
elementos, é como se eu pegasse
uma flor de um país estrangeiro
e colocasse no meu jardim. Já
que vivemos no mesmo planeta,
é importante saber o que os outros fazem."
LOKUA KANZA. Shows do cantor
africano com participação da brasileira
Vanessa da Mata. Onde: Sesc Vila
Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana,
SP), tel. 0/xx/11/5080-3000. Quando:
hoje e amanhã, às 21h. Quanto: de R$
7,50 a R$ 20.
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