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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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MÚSICA

Músico africano, influenciado por cantores brasileiros, divide o palco com Vanessa da Mata

Lokua Kanza canta a miscigenação

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

O Brasil idílico, de paz reinante e amor no ar, existe -e não apenas na mente de estrangeiros que nunca visitaram o país. Quem fala é Lokua Kanza, 45, cantor e compositor africano que "bate o cartão" por aqui desde 1997. Ele retorna para shows hoje e amanhã com a brasileira Vanessa da Mata, em que vai mostrar músicas de seu mais recente CD, "Toyebi Té".
"Sinto muita paz nos brasileiros; adoro o jeito como eles vivem, todos são simples e têm muito amor no coração", diz o músico, que pretende morar no país no futuro. "Quando vou ao Brasil, me sinto na África."
A identificação de Kanza com o país fica ainda mais explícita quando ele interpreta suas canções, com timbres vocais que lembram artistas brasileiros como Djavan, ídolo do africano.
"A primeira vez que ouvi música brasileira foi no Congo, há 20 anos. Era uma música da Elis Regina: foi um choque. O ritmo era parecido com os africanos, mas a voz e a harmonia eram muito diferentes", explica.
Em "Toyebi Té" o fascínio não é diferente. Mas há algo que diferencia Kanza de outros cantores africanos e não o joga facilmente no rótulo "world music".
Há, sim, a percussão e vocais à capela tão característicos da música africana em canções como "Tika Ngaï", mas o que diferencia Kanza é sua escolha por estruturas mais melódicas, em que mistura letras em inglês e francês, além de lingala e swahili -línguas faladas em seu país.
"O que é "world music'? Michael Jackson, no Congo, é "world music". Tudo depende de onde você está", diz ele.
Quanto ao show, promete algo simples, "como se eu estivesse indo a uma vila e fosse conversar com minha família, para passar um bom tempo com eles". No repertório, ele pretende fazer um "best of", com músicas de seus quatro álbuns.
Se a explicação sobre o show é um tanto conceitual, assim também é sua música e sua rotina de trabalho. Vivendo atualmente na França ("no Congo, se você critica a política, você é morto"), Kanza compara o mundo a um grande jardim para explicar as razões da mistura entre suas raízes africanas e elementos europeus e americanos.
"Amo os seres humanos, antes de mais nada. Quando misturo elementos, é como se eu pegasse uma flor de um país estrangeiro e colocasse no meu jardim. Já que vivemos no mesmo planeta, é importante saber o que os outros fazem."


LOKUA KANZA. Shows do cantor africano com participação da brasileira Vanessa da Mata. Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, SP), tel. 0/xx/11/5080-3000. Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto: de R$ 7,50 a R$ 20.


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