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CINEMA
Concorrente e juiz, Ugo Giorgetti diz que competição pelo patrocínio revela "o imenso fracasso" da política cultural
Em SP, 191 cineastas disputam R$ 2,44 mi
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Para disputar R$ 2,44 milhões
em patrocínio à produção cinematográfica de São Paulo, 191
concorrentes apresentaram seus
projetos. Se o total oferecido fosse
dividido entre todos os candidatos, cada um teria pouco mais que
R$ 12.500 como incentivo para levar adiante sua proposta.
Mas haverá apenas 23 vencedores, escolhidos por cinco comissões de especialistas, reunidos de
acordo com as categorias da competição (veja quadro ao lado).
A prefeitura define o prêmio como co-patrocínio, uma vez que,
na maioria dos casos, ele não é capaz de viabilizar integralmente
uma produção. O diagnóstico vale para o contexto geral -o concurso em si não dá conta de impulsionar a produção de uma atividade decrescente em São Paulo.
"O valor é simpático, mas não
suficiente", diz Carlos Augusto
Calil, diretor do Centro Cultural
São Paulo, que abriga o departamento de Cinema e Vídeo da prefeitura, responsável pela organização do concurso.
A "simpatia" dos quase R$ 2,5
milhões foi conquistada na Câmara Municipal, que acrescentou
o montante à verba da Secretaria
de Cultura, depois de uma série
de negociações com entidades representativas do cinema paulista.
A aproximação com os vereadores foi alternativa buscada por
produtores e cineastas, após a
avaliação de que era raro e improdutivo o diálogo com a Secretaria
Municipal de Cultura.
O atual concurso é classificado
como um "soluço na política cinematográfica" pelo presidente
da Apaci (Associação Paulista de
Cineastas), Toni Venturi, que cobra mais ações: "O secretário havia prometido receber-nos em fevereiro para apresentar um projeto. Queremos verdadeira política
cultural, e não ações pontuais".
"Cala-boca"
Concorrente com um projeto de
roteiro e juiz da comissão de finalização de longas-metragens, o cineasta Ugo Giorgetti tem avaliação ainda mais severa sobre o
concurso. "É um "cala-boca", que
revela o imenso fracasso da tentativa de estabelecer uma política
para o cinema em São Paulo."
Giorgetti ressalva que o secretário Marco Aurélio Garcia e o diretor Calil "são ótimas pessoas,
muito preparadas e bem-intencionadas", mas diz que "esse processo é igual ao de administrações
como as de Pitta e Maluf". "Eu esperava uma política duradoura, e
não a velha tese: "os cães estão ladrando, joguemos alguns ossos"."
O diretor de "Sábado" diz que se
inclui em todas as críticas que formula e se reconhece como "mais
um cão a ladrar pela madrugada".
"Os cineastas têm culpa nisso, pela manutenção da postura "me dá
um dinheiro aí'", diz Giorgetti.
O montador gaúcho Giba Assis
Brasil, que preside a comissão de
seleção de longas-metragens, diz
que o patrocínio "significa um
mínimo de possibilidade de voltar
a produzir em São Paulo, que
sempre foi um pólo brasileiro".
"A verdade é que todo o esquema de produção do cinema nacional está estruturado numa base
muito frágil, que é a do incentivo
fiscal. Esse mecanismo está completamente esgotado, além de representar uma atitude irresponsável do Estado, ao deixar nas
mãos do mercado as decisões sobre a cultura", afirma Assis Brasil.
Calil avalia que "se os resultados
[do concurso] forem bons, renderão cacife político para pedir mais
verba e consolidar o programa".
Outro lado
Procurado pela Folha na semana passada, o secretário Marco
Aurélio Garcia disse que só poderia dar entrevista ontem. Na terça,
sua assessoria cancelou a conversa, informando que Garcia deveria viajar para Brasília.
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