São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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Filme lembra atletas desaparecidos

Com apresentação hoje em Porto Alegre, documentário "Atletas x Ditadura" aborda a "geração perdida" da Argentina

Filme dos brasileiros Marcelo Outeiral e Marco Vilallobos retrata casos como o da jogadora de hóquei desaparecida aos 22 anos


RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

A safra de filmes que revisitam os porões das ditaduras latino-americanas continua dando frutos. Hoje será realizada, em Porto Alegre, uma sessão especial de "Atletas x Ditadura - A Geração Perdida", um curto documentário que revela histórias de atletas argentinos desaparecidos durante a ditadura naquele país.
São quatro casos contados com brevidade por parentes e amigos dos desaparecidos. A mãe de uma jogadora de hóquei na grama lembra a última vez que ouviu a voz da filha: a garota lhe disse que ia sair para almoçar com umas amigas e nunca mais apareceu.
O filho de um tenista desaparecido fala de suas tentativas para conhecer o que aconteceu com o pai e com a mãe -seqüestrada quando o garoto tinha oito meses- como forma de recuperar a própria história.
Parceiros de campo e amigos relembram os atletas do La Plata Rugby Club, equipe que até hoje sofre com a lembrança de 17 atletas desaparecidos ou mortos entre 1975 e 1978.
E o treinador de um corredor descreve o entusiasmo dele pelo esporte -veio ao Brasil três vezes, para participar da São Silvestre, viagens que talvez tenham contribuído para levantar suspeitas da polícia política. O documentário foi feito nas horas de folga, sem patrocínio, pelos jornalistas Marcelo Outeiral, 35, e Marco Vilallobos, 47, com o apoio de um amigo encarregado da câmera.
As filmagens duraram apenas oito dias, em janeiro do ano passado, na Argentina, mas o documentário só foi concluído em maio último.
Antes, montaram uma versão menor, que foi apresentada em festivais na Itália e na Venezuela. Agora, os realizadores negociam a apresentação na TV paga.
Um dos diretores, Outeiral, gaúcho de Porto Alegre, editor do "Globo Esporte", conversou com a Folha nesta semana.
A seguir, trechos da entrevista com Outeiral.

 

FOLHA - Como surgiu o filme?
MARCELO OUTEIRAL
- Começou com o interesse pelos temas do nosso continente, América do Sul, principalmente essas questões que envolvem direitos humanos. Conhecendo um pouco mais a história do Miguel Sánchez, que é o corredor do filme, intensifiquei um pouco a investigação.

FOLHA - Como você descobriu a história dele?
OUTEIRAL
- Eu li uma nota num jornal argentino. Aí consegui o contato da irmã dele e passei a pesquisar um pouco mais sobre sua vida. Comecei a pesquisar esse tema em 2006. Fiquei mais ou menos um ano procurando casos de atletas desaparecidos durante as ditaduras.

FOLHA - O que você descobriu?
OUTEIRAL
- Deu para constatar que essa situação da Argentina aconteceu, também, em quase todos os países: Uruguai, Chile, Bolívia e até mesmo no Brasil. Militantes, guerrilheiros, que tiveram uma história ligada ao esporte na juventude.

FOLHA - O filme foca em quatro casos. Vocês conseguiram fazer um balanço dos esportistas desaparecidos?
OUTEIRAL
- Na Argentina, aproximadamente uns 30 atletas dos mais diferentes níveis desapareceram durante os anos da ditadura. No Brasil é diferente. Enquanto na Argentina os atletas estavam mais desenvolvidos do ponto de vista da competição, mais atuantes, no Brasil, os jovens deixaram a competição mais cedo para ir para a militância.

FOLHA - No Brasil, vocês conseguiram ver quantos casos?
OUTEIRAL
- Aproximadamente dez casos. Alguns são mais conhecidos, não é? Como Stuart Angel Jones, que até no filme ["Zuzu Angel", dirigido por Sérgio Rezende] aparece remando. Tem o Oswaldo da Costa, o Oswaldão, que morreu no Araguaia e foi campeão de boxe. Há alguns casos de militantes sobre os quais não há detalhes da participação esportiva, é uma linha dentro da biografia, sabe? A Helenira Resende, uma guerrilheira superatuante no Araguaia, foi jogadora de basquete na adolescência, em Assis, no interior de São Paulo. E alguns outros casos, remadores, jovens campeões estaduais de judô, essas coisas assim. Eles pararam mais cedo com o esporte e entraram na militância com mais força, digamos assim.


ATLETAS X DITADURA - A GERAÇÃO PERDIDA
Quando: hoje, às 19h
Onde: Memorial do Rio Grande do Sul (r. Sete de Setembro, 1.020, Porto Alegre; inf.: 0/xx/51/3224-7210; classificação indicativa não fornecida)
Quanto: entrada franca

NA INTERNET
www.folha.com.br/rodolfolucena
Leia mais sobre o documentário



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