São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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Escadinha vira herói em faixa

especial para a Folha

Alguém um dia definiu o então embrionário gangsta rap como a "CNN do Gueto". Que dizer, então, de "O Juramento É Meu Lugar", um pagode que sintetiza, em três rapidíssimas estrofes, a história de uma localidade, o Morro do Juramento?
"(...)Todos já sabem qual é a lição/ No Rodo, no Miolo e na favela do Porco/ Eu vou lhe dizer/ O ensino com o tempo ensina/ E todos já sabem como proceder/ Agora só falta o Escada/ Pra rapaziada subir e descer", uma das estrofes, poderia até ser menos explícita com a mudança de gênero de um artigo definido. Mas "o ensino ensina" é grandioso.
José dos Reis Encina, codinome Escadinha, célebre por fugir de helicóptero da prisão de Ilha Grande no reveillon de 85, chefe do tráfico de cocaína na região, parece ser mais querido no Juramento que um delegado cuja ação contra ele resultou na destruição da igreja local.
A música condena o sistema penal -Escadinha está agora em Bangu 1- com os versos "Esse homem pra gente tem utilidade/ Vai fortalecer nossa população" e sugere que a reconstrução da igreja deveu-se ao presidiário. Mais, que com a nova capela, o povo vai poder rezar "pedindo a Deus que perdoe aquele delegado".
No fim, uma panorâmica digna de "Bye, Bye, Brasil": "E um lindo reflorestamento existente no morro/ É de se admirar/ É um convite às Forças Armadas/ Chegar desarmadas para descansar". Gil de Carvalho e Eliezer da Ponte, os autores, já têm meu voto para o prêmio Sharp. (PV)


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