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EXPOSIÇÃO
Para Evandro Salles, construtivismo russo tem profundas ligações com o movimento concreto brasileiro
Curador vê influência russa no Brasil
Divulgação
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Publicidade da loja estatal Universal |
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MOSCOU
Questionamentos inéditos no
cenário artístico nacional: é isso
que se espera com a chegada da
exposição dos cartazes vanguardistas russos. O curador da amostra, Evandro Salles, artista plástico
e empresário cultural, falou exclusivamente à Folha sobre a importância da vanguarda russa do século 20 no contexto atual.
Ex-secretário de Cultura da cidade de Brasília, onde realizou
mostras variadas, como "Gravuras de Goya" e uma exposição antológica de Yoko Ono, Salles garante que a mostra, com obras
inéditas, é de grande interesse para a arte brasileira por causa de
seu ineditismo e das profundas ligações que temos com construtivismo russo, vistas sobretudo no
concretismo brasileiro.
(MARCIA VINHA)
Folha - O que justifica denominar
a exposição de "Gráfica Utópica"?
Evandro Salles - O nome "Gráfica Utópica" justifica-se porque a
utopia da época era transformar o
ser humano por meio da arte, era
trazer a vida para o meio da arte,
era educar o olhar e a mente através dela. Enfim, era fazer uma revolução profunda no ser humano
tendo, para isso, a arte como um
dos instrumentos fundamentais.
E, tal qual a Revolução Socialista,
ela não se realizou como fora
idealizada.
Folha - Como o senhor avalia a
produção artística atual, relacionando-a com a vanguarda russa?
Salles - Os artistas que compuseram a chamada vanguarda russa,
tinham como um dos seus objetivos principais trabalhar o olhar,
não o olhar que apenas vê o mundo, mas, sim, o que define sua realidade. A arte desse período buscava não apenas intervir na realidade, mas inventá-la. Em essência, a questão colocada era de como socializar os processos de formação da linguagem.
Esse projeto, que, de certa maneira configura parte significativa
do projeto modernista, foi profundamente reduzido, senão
abandonado. Depois da implantação do realismo socialista na ex-URSS, o Ocidente capitalista adotou ampla e estrategicamente os
padrões estéticos do modernismo, despolitizando sua produção
e o próprio papel da crítica de arte. No Brasil, essa situação se tornou extrema nos anos 80 depois
da ditadura: a crítica praticamente desapareceu dos jornais e tornou-se matéria para especialistas
e de total desinteresse para o público. E o artista tende a duas posições opostas: ou se refugia em seu
mundo poético ou muitas vezes
se torna um objeto estereotipado
da cultura de espetáculo. Em suma, ao contrário do mercado, os
produtores de arte contemporânea não têm uma estratégia e um
projeto para enfrentar e agir sobre
a realidade social e política.
Folha - Além de dar a conhecer ao
público brasileiro um pouco da
produção artística desse período,
quais os resultados que se espera
alcançar com a exposição?
Salles - Para nós, um dos principais interesses dessa exposição é
de nos reaproximar desse universo de questionamentos teóricos
que pareciam estar resolvidos pela história da arte. Talvez eles desestabilizem um pouco nossas
certezas e nos ajudem a entender
a aparente "naturalidade" e facilidade com que o público atual
apreende a arte moderna e as "radicalidades" da contemporânea.
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