São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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GASTRONOMIA

Arte de comer com os olhos


Restaurantes de São Paulo colocam obras de artistas plásticos no cardápio lado a lado com os pratos


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na próxima segunda-feira, quando o restaurante Panino Giusto inaugurar a mostra de Vincenzo Scarpellini, o "pecado da gula", que também abrange o prazer visual e erótico, terá estas duas últimas características bastante potencializadas.
Além dos desenhos eróticos de Scarpellini, uma modelo nua estará presente para que os próprios comensais do restaurante sejam iniciados nas técnicas artísticas do desenho. Para isso, eles receberão papel e carvão.
"Queremos, assim, criar um ambiente de prazer, que é afinal o objetivo de um restaurante", diz o artista plástico Ivald Granato, o curador artístico do Panino. "Além do mais, queremos também mostrar o processo de criação, o que sempre é difícil de entender."
A presença da modelo não é mera isca para atrair clientes. "Foi assim que conheci o Vincenzo, ele organiza sessões com modelos para que amigos também desenhem. Vi seu trabalho e fico feliz em ser o primeiro no Brasil a organizar uma mostra com sua obra", conta Granato.
O italiano Scarpellini, 36, está no Brasil há cinco anos. Autor de vários projetos gráficos para revistas e jornais, aqui e na Itália, ele foi o responsável pela reformulação gráfica da Folha, no ano passado. Atualmente, ele assina a coluna semanal "Urbanidade" no caderno Cotidiano, com Gilberto Dimenstein. Scarpellini retrata São Paulo em desenhos e escreve pequenos comentários. As 42 imagens já publicadas também estarão expostas no Panino, além dos desenhos dos nus femininos.
"Comida, erotismo e cidade são elementos muito próximos, todos propiciam fortes sensações físicas, é o que busco provocar com esta exposição", diz Scarpellini.
A série de imagens sobre São Paulo tem um lirismo e colorido que nem sempre são visíveis na cidade. "Creio que essas características aparecem em meu trabalho porque sou estrangeiro, a luz aqui é muito diferente da de Roma e isso já é uma grande inspiração", conta o artista.
Para Scarpellini, essa série oferece uma visão que vai além do aparente, do superficial. "O desenho é o oposto da fotografia, que registra apenas um momento. Eu posso registrar um lapso de tempo, fazendo uma síntese do que observo. Quero, assim, mostrar algo que as pessoas não vêem", explica.

Gastronomia e arte
Foi em abril passado, com uma exposição de Granato, que o restaurante institucionalizou mostras de artistas plásticos. O local passou a se chamar Panino Giusto Gastronomia & Arte. "Desde 93, quando o restaurante foi inaugurado, temos organizado mostras, mas em abril isso virou de fato um programa, com curadoria do Granato", diz Augusto Perez, um dos sócios do Panino.
O local funciona como uma galeria de arte. Os vernissages são concorridos -já teve até performances de Arnaldo Antunes e Lenora de Barros. As exposições têm catálogo. Na mostra de Scarpellini, o texto é de Nina Horta, colunista da Folha.
O restaurante cobra uma comissão de 30% do valor das obras e não está mal em vendas. A mostra em cartaz até domingo, de Antonio Peticov, com 16 peças, já teve cinco obras vendidas, com média de R$ 4.000 por tela. Nada mal num ano de crise econômica, tem galeria importante por aí que vende bem menos...


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