São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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CONEXÃO POP

Quando o U2 arriscava


Em 1985, Bono e companhia lançavam o disco "The Unforgettable Fire", que foi produzido por Brian Eno


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

ACREDITE: HOUVE uma época em que o U2 não era a maior banda do mundo. Uma época em que Bono ainda não se comportava como o porta-voz da fome e da miséria do planeta; uma época em que o grupo não se limitava a produzir riffs anódinos de guitarra; época em que tentava experimentar.
No final do mês passado, em comemoração aos 25 anos de lançamento, o disco "The Unforgettable Fire" foi relançado na Europa e nos EUA em vários formatos: com CD bônus que contém lados-B e inéditas ("Yoshino Blossom" e "Disappearing Act") e com DVD que traz um minidocumentário sobre as gravações do álbum, além de um libreto e uma edição em vinil.
Com seus três primeiros discos ("Boy", "October" e "War", que também ganharam edições comemorativas), o U2 arrumava um cantinho entre as principais bandas roqueiras dos anos 1980 que se alimentavam do pós-punk de viés político que criticava o Reino Unido de Margaret Thatcher e os EUA de Reagan.
Mesmo com hits como "Sunday Bloody Sunday", "I Will Follow" e "New Year's Day", o U2 era uma banda como dezenas de outras: rock calcado em guitarras, grandioso, perfeito para ser tocado em grandes ginásios e estádios.
Então, a banda arriscou. Decidiu chamar Brian Eno para produzir "The Unforgettable Fire" -Eno, à época, ainda era um produtor afeito a experimentalismos.
O resultado são canções como "4th of July", "Elvis Presley and America", "Promenade" e "A Sort of Homecoming": sinuosas, climáticas.
Não que "The Unforgettable Fire" não tenha sido feito para espantar o público. Nas músicas mais tradicionais, como "Pride (In the Name of Love)" e a faixa-títtulo, Eno quase não trabalhou e deixou a produção para seu então engenheiro de som, Daniel Lanois.

 

"The Unforgettable Fire", por ironia, provocou o início da escandalosa popularidade do U2. "Pride (In the Name of Love)" tornou-se o maior hit da banda à época (a primeira música do U2 a entrar no top 40 da parada norte-americana).
Graças em grande parte a esse disco, em 1985, o U2 foi escalado para o Live Aid. No mesmo ano, a "Rolling Stone" cravava: "o U2 é a banda que mais importa nos anos 1980".

 

Em uma bela entrevista concedida ao Pitchfork (http://bit.ly/1TUzkt), Brian Eno revela que não estava muito confortável em produzir um álbum para uma banda tão tradicional quanto o U2 e que pensou em recomendar ao grupo Daniel Lanois.
"Eu disse a Bono: "Ei, estou preocupado em que possa mudar as coisas de uma maneira irreconhecível. As pessoas talvez não gostem do novo U2". E ele me respondeu: "Bem, nós queremos passar por uma mudança irreconhecível"."

thiago.ney@uol.com.br


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