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TEATRO
Pré-estréia da primeira parte da trilogia, "A Terra", marcou centenário do livro de Euclydes da Cunha na segunda
Oficina mostra seu vôo panorâmico sobre "Os Sertões"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No final da tarde de segunda-feira, cerca de 350 pessoas preencheram a capacidade do Oficina,
no Bixiga paulistano, e viram como o dramaturgo, encenador e
ator José Celso Martinez Corrêa e
o grupo Oficina Uzyna Uzona
conseguiram teatralizar rochas,
plantas, rios, desertos e outros fenômenos da natureza transformados em personagens de uma
peça-coral, assim como o engenheiro-escritor fluminense Euclydes da Cunha (1866-1909) e o líder
religioso cearense Antônio Conselheiro (1830-97).
Apesar do horário de verão, o
sol não desceu na pré-estréia que
ocorreu na histórica data do centenário de lançamento do livro, a
2 de dezembro de 1902.
Garoou, mas nada que impedisse a abertura do teto-móvel. E o
palco-corredor foi preenchido
por vários caminhões de terra,
simbolizando o chão semi-árido
do sertão.
Norte, sul, leste, oeste, subterrâneo e céu. O espaço retangular do
Oficina é esquadrinhado em todas as suas possibilidades, assim
como Euclydes o faz na meticulosa descrição geológica, geográfica
e climática do planalto central
brasileiro em "A Terra", a primeira parte de "Os Sertões", cuja trilogia épica será completada pelo
grupo em 2003 ("O Homem" e "A
Luta").
A montagem começa com os
cerca de 40 atores, a maioria vestida de branco, saindo para a rua
Jaceguai, de encontro ao público,
e depois retornando ao teatro vazio, preenchendo-o com gestos e
passos lentos, em silêncio.
"No início era a cantata", eis o
mote de origem para os ritmos
que pontuam a encenação: samba, baião, tango, funk, rap etc.
Surge a metáfora de um vôo panorâmico sobre Canudos, na Bahia. "Fiquei emocionada com o
vôo de pássaro do coro [atores
concentrados num dos pontos altos da estrutura metálica do teatro". O olhar o mundo de cima, recurso estilístico do século 19, como faz Euclydes no início do livro", afirma a designer e jornalista Márcia Zoladz, 47, viúva do
pesquisador e professor da USP
Roberto Ventura (1957-2002), autor de "Folha Explica "Os Sertões'", lançado na ocasião.
Zé Celso, 65, concebe "A Terra"
como um teatro pré-grego, uma
tragédia iminente, por exemplo,
no conflito secular entre os mares
e a terra.
"No uso do espaço e nas falas,
Zé Celso faz uma construção original da tragédia grega, uma percepção euclydiana da terra, uma
compreensão precisa do cenário
da guerra que virá", diz Zoladz,
acompanhada do filho Tomas.
Também estiveram na sessão de
anteontem o senador Eduardo
Suplicy (PT), a professora de literatura da USP Walnice Nogueira
Galvão, a diretora Monique Gardenberg, a atriz Bete Coelho (que
interpretou Cacilda no mesmo
teatro) e o ex-jogador Raí, diretor
da Fundação Gol de Letra, da qual
alguns adolescentes participaram
da peça ao lado de crianças do
projeto Bixigão, este acolhido pelo próprio Oficina.
OS SERTÕES - A TERRA. De: Euclydes da Cunha. Adaptação e direção: José Celso
Martinez Corrêa. Com: grupo Oficina
Uzyna Uzona (Aury Porto, Camila Mota,
Fioravante Almeida, Flávio Rocha,
Fransérgio Araújo, Letícia Coura, Luciana
Domschke, Marcelo Drummond, Pedro
Epifânio, Ricardo Bittencourt, Sylvia
Prado e outros). Onde: teatro Oficina (r.
Jaceguai, 520, tel. 0/xx/11/3106-2818).
Quando: estréia 7/12, às 18h; sáb. e dom.,
às 18h. Quanto: R$ 30. Até 23/12 (sessão
especial dia 23/12, às 14h30; R$ 10). Na
internet: www.teatroficina.com.br
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