São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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"DRAMATURGOS DO BRASIL"

Faria reavalia o teatro brasileiro

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

João Roberto Faria inovou a pesquisa sobre o teatro brasileiro ao anexar, ao final de "Idéias Teatrais: o Século XIX no Brasil", os raros documentos nos quais baseou sua análise, municiando o leitor a tirar suas conclusões.
O mesmo espírito está na coleção "Dramaturgos do Brasil", organizada por ele, que pretende "colocar ao alcance do leitor" peças de teatro consagradas ou "à espera de uma (re)avaliação".
Assim, o primeiro volume, sobre Álvares de Azevedo, abre com o já clássico estudo de Antonio Candido "A Educação pela Noite". Não é um estudo inédito, nem "Macário" uma peça esquecida -na presente temporada ao menos três encenações foram propostas desse Fausto paulistano.
Mas a tese de Candido, que alia à paixão de vida inteira por Azevedo o estilo culto e informal da escola de Mário de Andrade, de que "Noite na Taverna" é a sequência em forma de prosa da aparentemente inacabada "Macário", pode aqui ser verificada.
No volume seguinte, Orna Levin procura filiar o teatro de João do Rio ao simbolismo, embora suas crônicas mundanas com pitadas melodramáticas soem hoje menos proustianas do que precursoras da teledramaturgia.
É no terceiro volume, que reúne duas peças inéditas da parceria entre Aluísio Azevedo e Emílio Rouède, que a coleção cumpre seu objetivo. Recupera uma rara experiência de teatro naturalista no Brasil do século XIX e esclarece, em estudo do próprio Faria, as condições de sua apresentação.
Azevedo faz uma concessão à "comédia de adultério" com "Lição para Maridos", para logo voltar a ousar o drama naturalista com a peça que se segue.
"O Caboclo" conta o drama de Luis, operário negro que, dividindo a paixão pelo teatro com o patrão, encena "Otelo" na fábrica de cigarros. Traído, confunde realidade e ficção. Suprema provocação à platéia, à qual o texto faz várias alusões, a personagem era feita na estréia em 1886 pelo Vasques, maior cômico da época, querendo provar que a seriedade era possível no palco brasileiro.
Resgatando esse texto, e essa encenação, Faria volta a propor tal desafio. "Dramaturgos do Brasil" não só resgata o teatro brasileiro, mas, juntando análise literária com a história da encenação, cria condições para sua retomada.

Dramaturgos do Brasil



    
Organizador: João Roberto Faria
Editora: Martins Fontes
Quanto: Vol. 1 - Teatro de Álvares de Azevedo, R$ 28,50 (180 pags.); Vol. 2 - Teatro de João do Rio, R$ 48 (482 págs.); Vol. 3 -°Teatro de Aluísio Azevedo e Emílio Rouède, R$ 34,50 (278 págs.)



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