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"DRAMATURGOS DO BRASIL"
Faria reavalia o teatro brasileiro
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
João Roberto Faria inovou a
pesquisa sobre o teatro brasileiro ao anexar, ao final de "Idéias
Teatrais: o Século XIX no Brasil",
os raros documentos nos quais
baseou sua análise, municiando o
leitor a tirar suas conclusões.
O mesmo espírito está na coleção "Dramaturgos do Brasil", organizada por ele, que pretende
"colocar ao alcance do leitor" peças de teatro consagradas ou "à
espera de uma (re)avaliação".
Assim, o primeiro volume, sobre Álvares de Azevedo, abre com
o já clássico estudo de Antonio
Candido "A Educação pela Noite". Não é um estudo inédito, nem
"Macário" uma peça esquecida
-na presente temporada ao menos três encenações foram propostas desse Fausto paulistano.
Mas a tese de Candido, que alia
à paixão de vida inteira por Azevedo o estilo culto e informal da
escola de Mário de Andrade, de
que "Noite na Taverna" é a sequência em forma de prosa da
aparentemente inacabada "Macário", pode aqui ser verificada.
No volume seguinte, Orna Levin procura filiar o teatro de João
do Rio ao simbolismo, embora
suas crônicas mundanas com pitadas melodramáticas soem hoje
menos proustianas do que precursoras da teledramaturgia.
É no terceiro volume, que reúne
duas peças inéditas da parceria
entre Aluísio Azevedo e Emílio
Rouède, que a coleção cumpre
seu objetivo. Recupera uma rara
experiência de teatro naturalista
no Brasil do século XIX e esclarece, em estudo do próprio Faria, as
condições de sua apresentação.
Azevedo faz uma concessão à
"comédia de adultério" com "Lição para Maridos", para logo voltar a ousar o drama naturalista
com a peça que se segue.
"O Caboclo" conta o drama de
Luis, operário negro que, dividindo a paixão pelo teatro com o patrão, encena "Otelo" na fábrica de
cigarros. Traído, confunde realidade e ficção. Suprema provocação à platéia, à qual o texto faz várias alusões, a personagem era feita na estréia em 1886 pelo Vasques, maior cômico da época,
querendo provar que a seriedade
era possível no palco brasileiro.
Resgatando esse texto, e essa encenação, Faria volta a propor tal
desafio. "Dramaturgos do Brasil"
não só resgata o teatro brasileiro,
mas, juntando análise literária
com a história da encenação, cria
condições para sua retomada.
Dramaturgos do Brasil
Organizador: João Roberto Faria
Editora: Martins Fontes
Quanto: Vol. 1 - Teatro de Álvares de
Azevedo, R$ 28,50 (180 pags.); Vol. 2
- Teatro de João do Rio, R$ 48 (482
págs.); Vol. 3 -°Teatro de Aluísio Azevedo
e Emílio Rouède, R$ 34,50 (278 págs.)
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