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GASTRONOMIA
"Weissbier" nacional põe nova etiqueta no botequim
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
Quando uma bebida passa a ser
mais teorizada do que ingerida,
algo estranho paira sobre a freguesia. Todo "connaisseur" tende
a ser um chato pelos salões, com
aquele modo arrogante capaz de
nos ressacar de véspera. O vinho é
o paraíso dessa chatice, claro, mas
a "weissbier", cerveja à base de trigo, agora fabricada por aqui, também pode causar o mesmo efeito.
Quem se aventurou, desde o
mês passado, no mundo das
"weiss" foi a Bohemia, com uma
garrafa cheia de bossa, cuja vedação dispensa a velha tampinha e
se ampara em um fecho de arames com lacre plástico. Esse tipo
de cerveja exige outro capricho:
deve ser entornada em copos de
500 ml, como ensinam os alemães
da Erdinger e da Ustersbacher.
O bom-tom da Baviera recomenda: 1) o copo deve ser enxaguado com água fresca; 2) a cerveja deve ser despejada lentamente,
com o copo inclinado, deixando
dois dedos no fundo da garrafa; 3)
agita-se a garrafa para misturar a
levedura depositada no fundo; 4)
derrame o resto para formar a coroa de espuma.
É uma mudança e tanto na etiqueta do botequim. Sai o copo
americano e a loira estupidamente gelada (gênero pilsen) e entra
um copázio de um palmo com a
morena (a cor mais precisa é turva, sopram os alemães) que não
carece de tanto gelo assim. Para
quem não aprecia a cerveja comum por causa do sabor amargo,
a "weiss", bem suave, é um agrado. Outra diferença é que ela tem
processo de maturação na garrafa
que lembra o da champanhe.
Os cervejeiros da Bohemia dizem que não copiaram nenhuma
fórmula específica, mas selecionaram características de várias
marcas européias que mais se
aproximavam do que chamam
"gosto do brasileiro". A nova cerveja honra a qualidade da velha
cervejaria de Petrópolis, mas já
provoca uma certa ironia alemã.
"Foi uma iniciativa corajosa da
AmBev, já que a "weissbier" é o tipo
de cerveja mais complexo de ser
produzido e ainda levará algum
tempo até conseguirem dominar
completamente essa arte. Gigantes internacionais como a Anheuser-Busch e a Guinness já tiveram
experiências frustradas no passado", provoca o comando da Erdinger, em comunicado.
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