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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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GASTRONOMIA

"Weissbier" nacional põe nova etiqueta no botequim

XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA

Quando uma bebida passa a ser mais teorizada do que ingerida, algo estranho paira sobre a freguesia. Todo "connaisseur" tende a ser um chato pelos salões, com aquele modo arrogante capaz de nos ressacar de véspera. O vinho é o paraíso dessa chatice, claro, mas a "weissbier", cerveja à base de trigo, agora fabricada por aqui, também pode causar o mesmo efeito.
Quem se aventurou, desde o mês passado, no mundo das "weiss" foi a Bohemia, com uma garrafa cheia de bossa, cuja vedação dispensa a velha tampinha e se ampara em um fecho de arames com lacre plástico. Esse tipo de cerveja exige outro capricho: deve ser entornada em copos de 500 ml, como ensinam os alemães da Erdinger e da Ustersbacher.
O bom-tom da Baviera recomenda: 1) o copo deve ser enxaguado com água fresca; 2) a cerveja deve ser despejada lentamente, com o copo inclinado, deixando dois dedos no fundo da garrafa; 3) agita-se a garrafa para misturar a levedura depositada no fundo; 4) derrame o resto para formar a coroa de espuma.
É uma mudança e tanto na etiqueta do botequim. Sai o copo americano e a loira estupidamente gelada (gênero pilsen) e entra um copázio de um palmo com a morena (a cor mais precisa é turva, sopram os alemães) que não carece de tanto gelo assim. Para quem não aprecia a cerveja comum por causa do sabor amargo, a "weiss", bem suave, é um agrado. Outra diferença é que ela tem processo de maturação na garrafa que lembra o da champanhe.
Os cervejeiros da Bohemia dizem que não copiaram nenhuma fórmula específica, mas selecionaram características de várias marcas européias que mais se aproximavam do que chamam "gosto do brasileiro". A nova cerveja honra a qualidade da velha cervejaria de Petrópolis, mas já provoca uma certa ironia alemã.
"Foi uma iniciativa corajosa da AmBev, já que a "weissbier" é o tipo de cerveja mais complexo de ser produzido e ainda levará algum tempo até conseguirem dominar completamente essa arte. Gigantes internacionais como a Anheuser-Busch e a Guinness já tiveram experiências frustradas no passado", provoca o comando da Erdinger, em comunicado.


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