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CINEMA
Coletivo de universitários de Vitória ganha apoio de cineclubistas e organiza evento de exibição digital no Itaú Cultural
São Paulo sedia festival do polêmico Cine Falcatrua
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Imagine um festival de cinema
sem pré-seleção. Em que todos os
filmes inscritos são exibidos, independentemente de formato,
época de produção, duração, tema ou outro tipo de classificação.
Em que a ordem de exibição dos
filmes depende do humor do projecionista e de sua química com o
público. Assim é o festival CortaCurtas. Idealizado pelo coletivo
capixaba Cine Falcatrua ao lado
do Instituto Itaú Cultural, recebe
inscrições até o dia 20 de janeiro, e
suas exibições acontecem entre 21
e 28 de março, em São Paulo.
"Uma das idéias é mostrar que o
cinema digital não implica necessariamente a instituição de um
controle rígido", explica o grupo
capixaba, que surgiu no campus
da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória.
"E também não significa a misantropia final, em que cada espectador, de posse do seu DVD
pirata -ou cópia-doméstica-lançada-simultaneamente-, vai se
trancar em casa para ver o filme
no home theater", continua o grupo, respondendo coletivamente
sob o codinome de Gilbertinho.
Como festival, o CortaCurtas se
propõe a promover uma nova
forma de consumo audiovisual,
definida menos pela vontade dos
curadores/patrocinadores/realizadores e mais pela relação entre
projecionista e público. É uma
forma de celebrar a sala de cinema como local de diálogo e convívio. Mais informações podem ser
conseguidas pelo site www.itaucultural.org.br ou pelo e-mail
cortacurtas@gmail.com.
O improvável festival talvez não
fosse impossível sem a transição
do analógico para o digital, mas a
mudança é crucial para sua realização -como é o próprio Falcatrua. O coletivo começou há dois
anos, como um projeto de extensão de estudantes da Ufes, de diferentes cursos. Atua não só exibindo filmes, mas também publicando e pesquisando idéias ligadas à
utilização de novas mídias aplicadas ao cinema.
Assim, começaram exibições
gratuitas de filmes em locais públicos. Baixados via internet, raridades, lançamentos e curiosidades desfilavam pela tela do cineclube. "As exibições sempre foram gratuitas, mas nunca primamos por um público especifico.
Como priorizamos a diversidade
tanto dos locais de exibição quanto do produto audiovisual, acabamos tendo uma diversidade de
público constante", explica o grupo. "Exibimos desde seriados de
TV até curtas em película."
O cineclube teve problemas
com a lei na metade do ano retrasado, quando foi notificado por
exibir filmes como "Kill Bill" e
"Fahrenheit 11 de Setembro" antes de suas estréias no Brasil.
"Culpa da primeira matéria veiculada na Folha", ironizam, referindo-se a reportagem publicada
em 29 de julho de 2004 sobre o
início do projeto em Vitória. "Depois veio uma onda de apoio: o
movimento cineclubista, cineastas, produtores -enfim, uma galera se manifestou pela continuidade do videoclube e botou lenha
no debate sobre os cruzamentos
entre cinema e internet."
Passaram então a exibir filmes
publicados em Creative Commons (tipo de licença de direitos
autorais que permite o acesso às
suas obras, sem que os usuários
sejam considerados piratas) e
copyleft, além de entrar em contato com os próprios realizadores
para obter autorização de exibição -tudo mais barato, mais
perto do Brasil, longe de Hollywood e dentro da lei. "Freqüentemente, o Falcatrua exibe filmes
inéditos. São lançamentos nacionais que acontecem no Falcatrua
e contam com a presença dos realizadores", como "Sou Feia mas
Tô na Moda", de Denise Garcia.
"A gente vê no Creative Commons uma forma de conformar o
direito constituído à economia
inevitável da rede. É a saída mais
viável para quem quer aproveitar
potenciais de difusão e criação
propiciados pelas novas tecnologias e virar as costas de forma limpa a uma economia que perde cada vez mais o sentido", explica.
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