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Música - Crítica/Pop
Bloc Party e LCD Soundsystem aprofundam raízes em novos CDs
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Os segundos discos do
Bloc Party e do LCD
Soundsystem parecem
ter sido elaborados a partir da
mesma receita, mas utilizando
proporções diferentes dos ingredientes.
"A Weekend in the City", do
quarteto inglês Bloc Party, será
lançado oficialmente em CD
em 5 de fevereiro (inclusive no
Brasil), mas já está na internet.
"Sound of Silver", do combo
norte-americano LCD
Soundsystem, será lançado oficialmente em CD em 19 de
março (inclusive no Brasil),
mas já está na internet.
Ambas produziram discos de
estréia elogiados ("Silent
Alarm", do BP; homônimo, do
LCD), que tinham raízes no
pós-punk do início dos anos 80.
Agora, em vez de buscar outras referências, decidiram
aprofundar o que já conheciam.
O detalhe que diferencia "A
Weekend..." e "Sound of Silver"
é que enquanto o último tem
apelo imediatista, ensolarado,
o primeiro é de digestão mais
lenta, de tonalidade sombria.
Para este segundo álbum, o
Bloc Party não fez nada na linha de "Banquet", o hit pop de
"Silent Alarm". As canções aqui
são de refrãos enxutos, de guitarras e baixo sinuosos -e, se
antes questões como amizade e
relacionamentos se faziam ouvidas, aqui há insatisfação, desesperança e crítica social.
"As bombas explodem no
ônibus 30/ Matam sua indecisão de classe média/ Agora não
é hora para pensamentos liberais", canta Kele Okereke em
"Hunting for Witches", faixa
que ainda traz "O "Daily Mail" [o
mais conservador dos jornais
britânicos] diz que os inimigos
estão entre nós/ Roubando
nossas mulheres e empregos".
"É tão errado querer uma recompensa?/ Querer mais do
que é dado a você?", é o que permeia "The Prayer", música que
já está sendo tocada na rádios.
E "Uniform" é representativa
desse espírito: "Toda cidade parece a mesma/ (...) Todos os jovens parecem iguais/ Porque
nós somos tão lindos e estamos
tão entediados/ Então nos divirta, conte uma piada".
Já "Sound of Silver" parece
explodir energia, animação e
satisfação hedonista.
A indicação de mergulho no
disco anterior é mostrada já em
"Get Innocuous", a primeira
música, que inicia com uma batida semelhante ao do hino
"Losing My Edge", canção que
levou a banda às pistas em
2002 -e "Get Innocuous" também traz referências a "The Robots", do Kraftwerk.
Uma batida percussiva e sintetizadores são colocados aos
poucos, e fazem da faixa uma
hipnótica ode à new wave.
James Murphy não é cantor,
mas em "Time to Get Away",
ele até encena um falsete, amparado por um baixo funk.
As guitarras dão espaço ao
electro em "Someone Great"
-mas ela está distante do electro alegre e pop norte-americano; está mais perto da dureza e
frieza do electro alemão.
A balada "New York I Love
You But You're Bringing me
Down", que encerra o CD, é um
grito de Murphy à sua cidade,
transformada após a gestão tolerância zero do ex-prefeito
Rudolph Giuliani: "New York
você está mais segura, mas está
desperdiçando meu tempo/ Os
arquivos mostram/ Você antes
era suja, mas mais alegre".
Mas, antes, há "All My
Friends", um caso à parte. Um
piano rápido abre o terreno para a bateria e sintetizadores,
que permanecem no mesmo
ritmo pelos mais de sete minutos de duração da faixa. Pegue o
regozijo de "Grace", do Supergrass, com a urgência das guitarras do Joy Division. É assim
"All My Friends". Sem exagero,
uma das músicas do ano.
É um disco sem ponto fraco e
inclassificável, tantas as variações. Um delírio irrepreensível.
A WEEKEND IN THE CITY
Artista: Bloc Party
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média
SOUND OF SILVER
Artista: LCD Soundsystem
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média
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