São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Diamante de Sangue"

Filme com DiCaprio é cínica fusão de denúncia e aventura

CRÍTICO DA FOLHA

Das transformações mais recentes inventadas pela indústria, nenhuma é mais cínica do que o infotenimento. Sob a aura da informação e da denúncia veiculam-se produtos cujo único mérito é garantir a diversão e o bom retorno nas bilheterias.
"Diamante de Sangue" reproduz o cálculo por trás da aparente politização já vista em títulos como "Falcão Negro em Perigo", "Hotel Ruanda" e "O Jardineiro Fiel". Trata-se de deslocar filmes de aventura para a África em busca de um ritmo trepidante que represente as injustiças políticas, econômicas e sociais que mantêm o continente no mesmo estágio caótico desde que os homens brancos lá puseram os pés.
Numa retomada de um modelo de entretenimento dos anos 40 e 50, o filme é um veículo para Leonardo DiCaprio, que assume um papel naqueles tempos responsáveis pela transformação de Humphrey Bogart e Errol Flynn em astros.
Mas aqueles heróis de caráter duvidoso, inspirados em tipos da literatura de Hemingway, foram agora encarregados de tomar consciência de injustiças e transferi-las ao espectador.
Danny Owen (Dicaprio) é um mercenário branco cuja face obscura é purificada ao assumir a defesa dos fracos. Ao seu lado, engaja-se a jornalista Maddy Bowen (Jennifer Connelly), disposta a tudo para obter um furo e revelar ao mundo a verdade. Junto deles, uma vítima africana garante o necessário para o filme se desdobrar em fugas e explosões suficientes para manter o ritmo da ação.
Mas tudo não passa de um retorno a um velho cenário. O que os novos produtos de Hollywood reproduzem é um olhar turístico ao qual não falta a fotografia de locações "selvagens". Os habitantes locais, estejam no Sudão, em Serra Leoa ou na África do Sul, são retratados com a mesma sutileza de bárbaros de há 50 ou 500 anos.

Litros de adrenalina
A intenção aparente é denunciar a conexão subterrânea entre a aquisição de pedras por corporações estrangeiras e as forças sanguinárias locais interessadas em armas para submeter os aldeões a tratamentos escravizantes. O marketing do filme justifica que está ajudando a conscientizar os ocidentais que compram jóias sem saber a procedência e os massacres de civis em Serra Leoa nos anos 90. O pano de fundo "engajado", porém, é apenas alicerce para um casal hollywoodiano despejar litros de adrenalina no sangue do espectador.
Nos anos 80, assumidamente cínicos e paródicos, os episódios de "Indiana Jones" foram ao passado brincar de aventura, e o casal de "Tudo por uma Esmeralda" se lançou nos redemoinhos das pedras preciosas sem recorrer a causas politizadas. Depois do advento do politicamente correto, o efeito ganhou ares de justiça. Mas não passa de mais um blefe. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

DIAMANTE DE SANGUE  
Direção: Edward Zwick
Produção: EUA, 2006
Com: Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou, Jennifer Connelly e outros
Quando: a partir de hoje no Unibanco Arteplex, Pátio Higienópolis e circuito


Texto Anterior: Cota de tela reduz espaço de filme nacional em 2,9%
Próximo Texto: "A Grande Família" adota Paulo Betti e Dira Paes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.