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Crítica/"Diamante de Sangue"
Filme com DiCaprio é cínica fusão de denúncia e aventura
CRÍTICO DA FOLHA
Das transformações
mais recentes inventadas pela indústria, nenhuma é mais cínica do que o
infotenimento. Sob a aura da
informação e da denúncia veiculam-se produtos cujo único
mérito é garantir a diversão e o
bom retorno nas bilheterias.
"Diamante de Sangue" reproduz o cálculo por trás da
aparente politização já vista em
títulos como "Falcão Negro em
Perigo", "Hotel Ruanda" e "O
Jardineiro Fiel". Trata-se de
deslocar filmes de aventura para a África em busca de um ritmo trepidante que represente
as injustiças políticas, econômicas e sociais que mantêm o
continente no mesmo estágio
caótico desde que os homens
brancos lá puseram os pés.
Numa retomada de um modelo de entretenimento dos
anos 40 e 50, o filme é um veículo para Leonardo DiCaprio,
que assume um papel naqueles
tempos responsáveis pela
transformação de Humphrey
Bogart e Errol Flynn em astros.
Mas aqueles heróis de caráter
duvidoso, inspirados em tipos
da literatura de Hemingway,
foram agora encarregados de
tomar consciência de injustiças
e transferi-las ao espectador.
Danny Owen (Dicaprio) é um
mercenário branco cuja face
obscura é purificada ao assumir
a defesa dos fracos. Ao seu lado,
engaja-se a jornalista Maddy
Bowen (Jennifer Connelly),
disposta a tudo para obter um
furo e revelar ao mundo a verdade. Junto deles, uma vítima
africana garante o necessário
para o filme se desdobrar em
fugas e explosões suficientes
para manter o ritmo da ação.
Mas tudo não passa de um retorno a um velho cenário. O que
os novos produtos de Hollywood reproduzem é um olhar
turístico ao qual não falta a fotografia de locações "selvagens". Os habitantes locais, estejam no Sudão, em Serra Leoa
ou na África do Sul, são retratados com a mesma sutileza de
bárbaros de há 50 ou 500 anos.
Litros de adrenalina
A intenção aparente é denunciar a conexão subterrânea
entre a aquisição de pedras por
corporações estrangeiras e as
forças sanguinárias locais interessadas em armas para submeter os aldeões a tratamentos
escravizantes. O marketing do
filme justifica que está ajudando a conscientizar os ocidentais
que compram jóias sem saber a
procedência e os massacres de
civis em Serra Leoa nos anos
90. O pano de fundo "engajado", porém, é apenas alicerce
para um casal hollywoodiano
despejar litros de adrenalina no
sangue do espectador.
Nos anos 80, assumidamente
cínicos e paródicos, os episódios de "Indiana Jones" foram
ao passado brincar de aventura,
e o casal de "Tudo por uma Esmeralda" se lançou nos redemoinhos das pedras preciosas
sem recorrer a causas politizadas. Depois do advento do politicamente correto, o efeito ganhou ares de justiça. Mas não
passa de mais um blefe.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
DIAMANTE DE SANGUE
Direção: Edward Zwick
Produção: EUA, 2006
Com: Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou, Jennifer Connelly e outros
Quando: a partir de hoje no Unibanco
Arteplex, Pátio Higienópolis e circuito
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