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Crítica/DVD/"Clara Nunes"
Clipes raros relembram época em que Clara Nunes interpretava sambas na TV
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Antes de poder encantar,
o primeiro DVD a reunir números musicais
de Clara Nunes espanta: são 21
clipes gravados para o programa "Fantástico", da TV Globo,
num período de apenas nove
anos (1974-1983). E ainda havia
mais três, descartados para evitar problemas de autorização.
Relembrada hoje, a assiduidade da cantora no programa
dominical tem um lado muito
bom: Clara aparecia interpretando só aquilo em que realmente acreditava, sem fazer
concessões, contracenando diversas vezes com representações de orixás, imagem nada
oficial na ditadura militar.
E tem um lado ruim: com
tantas participações, devia ser
difícil manter elevado o nível
dos clipes, e a qualidade de alguns acabava sendo de fato sofrível, até por causa da precariedade tecnológica.
As alusões ao candomblé estão explícitas ou discretas em
"Conto de Areia", "É Doce
Morrer no Mar", "A Deusa dos
Orixás", "O Mar Serenou",
"Guerreira", "Banho de Manjericão", "Nação" e "Ijexá (Filhos
de Gandhi)". A Clara de vestido
branco, colares, cabelos soltos,
mexendo os braços e girando
de modo ritualístico é a que ficou no imaginário popular.
Certamente, essas aparições no
"Fantástico" contribuíram
muito para isso.
Visual irregular
A Clara que se tornou sinônimo de cantora de samba
também está em outros momentos do DVD, nos quais,
aliás, o bom gosto visual oscila.
Em "Macunaíma", o samba-enredo de 1975 da Portela, a
cantora surge de rosa diante de
um fundo azul naïf, num conjunto nada feliz. Já "Portela na
Avenida" é emocionante, pois
foi gravado na quadra da escola
com a participação de bateria
(Mestre Marçal à frente), pastoras e componentes.
Na maioria das vezes, Clara
cantava em playback. E, em algumas delas, com o fundo em
"chroma-key" (uma imagem
aplicada simulando um cenário). O resultado podia ser
bastante artificial, como na sincronização imperfeita de "Feira de Mangaio" ou no halo em
torno do cabelo da artista em
"Viola de Penedo".
Vale, então, saborear um momento "ao vivo" como "À Flor
da Pele", que ainda prova a
grande intérprete romântica
que Clara conseguia ser.
E vale perceber como a televisão avançava na época e tornava as produções cada vez
mais caprichadas. Ela nas Sete
Quedas em "Guerreira" (1978),
num canavial em "Morena de
Angola" (1980) e usufruindo de
tomadas aéreas na fraca "Como
É Grande e Bonita a Natureza"
(1982) são alguns exemplos de
tacadas ambiciosas.
A morte precoce de Clara em
1983, aos 39 anos de idade,
impediu que a cantora pudesse
arriscar ainda mais. Mas o DVD
mostra que ela fez bastante
enquanto pôde.
CLARA NUNES
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 40, em média
Avaliação: bom
Classificação indicativa: livre
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