São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Mônica Bergamo/Folha Imagem
Acima, o governador José Serra e os filhos de Lula: Fábio Luiz ("Lulinha", à esq.), Sandro e sua mulher, Marlene


"Tá cada vez mais difícil vir para camarotes"

São 22h30 e seguranças estão em fila na porta do camarote da Brahma para receber Lucy Liu, atriz de filmes como "Kill Bill" e "As Panteras". Uma assessora pede aos jornalistas: "Perguntem amenidades, sobre a temperatura do Brasil, a mulher brasileira...". Lucy é toda "wonderful" quando chega. O que acha do Brasil? "Wonderful!" Como foi contracenar com Rodrigo Santoro em "As Panteras"? "Really wonderful!" E as mulatas da Sapucaí? "Woooonderful!"

 

Num carnaval em que boa parte das celebridades sumiu dos camarotes, a cervejaria nega que tenha pago cachê a Lucy, estimado em 170 mil euros. Diz que só custeou passagens e hospedagem. O costume de se pagar pela presença dos artistas está gerando uma espécie de crise no "setor", com artistas se recusando a pisar nos camarotes de graça.
 

Lucy deixa a sala de entrevistas e vai para o chiqueirinho dos ultra-VIPs. Lá, ficam celebridades como Monica Bellucci com o marido, Vincent Cassel, Luiza Brunet e a tenista Anna Kournikova -que só deseja "have fun, put a mask and go crazy" [divertir-se, colocar uma máscara e "enlouquecer"].
 

Lucy Liu resolve fazer xixi. Oito seguranças são chamados para escoltá-la até o banheiro mais próximo. Confusão. Empurrados pela escolta, alguns convidados puxam o coro: "Lucy Liu, eu quero teu chimbiu! Lucy Liu, eu quero teu chimbiu!". A atriz sorria, sem entender palavra.
 

De calça branca transparente, Carolina Dieckmann deixava aparecer a calcinha escura estampada com bolinhas brancas. Para desespero da organização, estava sem a camiseta do camarote. "Vim assim de casa, gente. Me mandaram entrar, eu entrei", diz ela: "Tá cada vez mais difícil vir para camarotes".
 

Começa a chuva na Sapucaí e Susana Vieira não protege os cabelos dos pingos. "O meu é falso, meu bem, pode chover à vontade que não enrola." Na hora do jantar, a atriz escolhe uma mesa ao lado de Monica Bellucci. "Nem vi que ela estava sentada aqui do lado. Ela me olhou tão friamente que deve pensar que eu sou uma tiete, né? Ela não tava me dando muita bola, não, mas quando o povo da avenida começou a me jogar beijos, ela viu que sou importante e ficou íntima".
 

"Iiih, só tem mulher feia!", diz o marido de Susana, Marcelo Silva, a um amigo no camarote. Em 2007, ele foi acusado de quebrar um motel ao brigar com uma garota de programa. O jornalista esportivo Milton Neves se aproxima: "Falei que não é mais pra você dar mancada, hein? Mas tá certo, carioca é assim mesmo. Se você tivesse sido pego com outro homem na cama, daí não teria perdão".
 

Caio Junqueira, um dos aspirantes de "Tropa de Elite", faz gestos largos e derrama cerveja para todos os lados. "Eu não vinha aqui faz três anos, porque não era convidado..." Ficou famoso depois de "Tropa"? "Meu amor, eu trabalho há 22 anos. Agora tenho reconhecimento das pessoas do povo, da classe, da classe, é... artística. Mas eu sou pobre. A minha renda não é mais de R$ 20 mil. É o que tenho pra comprar um carro e ficar zerado depois".
 

Na concentração da Mangueira, Luana Piovani explica: "Eu vinha pelo Salgueiro antes, mas mudança faz parte da vida. Uma hora a gente tá de salto alto, outra tá de alpargatas", diz apontando os pés.
 

No camarote da Nova Schin, Selton Mello é a estrela da pista de funk. Vai ao bar e abraça uma garota -loira, cabelo comprido, microshort jeans. Quase de saída, puxa o rosto dela, rouba um selinho e sai. Ela leva as duas mãos ao rosto e olha para o namorado -sim, a loira estava acompanhada.

CAMAROTE OFICIAL

"Nossa, como você engordou!"

"O Lula me pediu: cuida dos meus filhos. Eu falei: fica tranqüilo. Vou deixar as crianças bem longe dessa gente [jornalistas]!", brincava o governador Sérgio Cabral, do Rio, com os repórteres e colunistas convidados para visitar seu camarote no Sambódromo, no Rio.

 

Cabral reservou uma sala do lugar só para os filhos do presidente: Fábio Luiz ("Lulinha"), Sandro, a mulher dele, Marlene, e mais 15 amigos, entre eles o médico de Lula, Roberto Kalil, e sua mulher, Claudia Cozer (dona Marisa estava "louca" para acompanhar os filhos, mas o presidente Lula preferiu ficar no Guarujá).
 

A nora do presidente era a mais animada. "Está todo mundo deslumbrado por estar aqui. É um espetáculo maravilhoso, tem que ser visto", dizia Marlene. Sandro observava as mulatas na avenida com certa, digamos, indignação. "Tem muita pena [cobrindo o corpo das sambistas]!". Marlene rebatia: "Ele fala só para me provocar. Os meninos [filhos de Lula] são supertímidos. Fomos ontem a uma feijoada no hotel Caesar Park. Tinha um show de mulatas, elas se aproximaram. Eles ficaram de cabeça baixa o tempo todo!".
 

Cabral chega com José Serra. Num sinal de que o governador paulista anda muito bem falado dentro da casa dos Lula da Silva, os meninos o trataram com a maior simpatia e até concordaram em posar para uma foto com o tucano. Fábio e Serra falaram sobre a contratação de outro filho de Lula, Luís Cláudio, como preparador físico do Palmeiras, que na opinião do governador "tá mal". "Ele vai fazer um bom trabalho lá", dizia Fábio, esclarecendo: "Mas eu sou corintiano".
 

No melhor estilo "Serrinha paz e amor", o governador, além de sambar na avenida, distribuía beijos e sorrisos no camarote -sem evitar, no entanto, alguns de seus foras clássicos. "Nossa, como você engordou!", disse a um jornalista que não via há tempos.
 

O bilionário Ricardo Salinas, do banco Azteca, do México, é carregado pelo braço por Cabral para cumprimentar Serra, ao lado de Mario Garnero e de Jânio Quadros Neto, amigo do banqueiro. "Ele vai abrir uma agência do banco dele na Rocinha", dizia Cabral. Surge a piada: e banqueiro gosta de emprestar dinheiro para pobre?
"Esse gosta", emenda logo Cabral. Em outra roda, Salinas ria das lembranças de seu encontro com Lula no Palácio do Planalto. Ele levou ao presidente uma garrafa de tequila. Ganhou de volta uma garrafa de cachaça. "Mas sai daqui com ela embrulhada. Porque eu e esse menino [Jânio Neto] temos um histórico familiar terrível com bebida e os jornalistas lá fora vão dizer que estávamos todos aqui enchendo a cara!", recomendou Lula, referindo-se ao ex-presidente Jânio Quadros.


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