São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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EXPOSIÇÃO

Projeto do japonês Shigeru Ban, erguido em Nova York, é montado com cofres de carga e viajará pelo mundo

Museu flutua em estrutura de contêineres

ROBIN POGREBIN
DO ""NEW YORK TIMES"

As pessoas que descem a avenida West Side em alta velocidade poderiam ser perdoadas por não olhar mais do que de relance ao píer 54. Afinal, os contêineres empilhados ali não são incomuns na zona portuária de Manhattan (EUA). O local por onde estão passando não apenas é o píer histórico do rio Hudson na rua 13, no qual desembarcaram os sobreviventes do Titanic, como também é um museu novo, projetado pelo arquiteto japonês Shigeru Ban.
A estrutura de 42 mil m2 foi construída para a exposição "Ashes and Snow" (cinzas e neve), que traz 200 trabalhos fotográficos em grande escala do artista Gregory Colbert, prevista para acontecer entre hoje e 6/6. Depois, seguirá para Califórnia, Europa e China, no ano que vem.
Não é apenas a exposição que vai mudar de lugar. O museu será empacotado em 37 dos 148 contêineres de carga que formam suas paredes. A estrutura temporária é composta em grande parte de materiais recicláveis: o telhado e as colunas são feitos de tubos de papel; são usados os próprios contêineres (empilhados até a altura de 10,3 m) e uma cortina é feita de 1 milhão de saquinhos de chá prensados (usados, com as folhas de chá removidas).
"Shigeru é o Mozart da arquitetura sustentável", diz Colbert. "Desde o ponto de vista filosófico, ele já criou construções públicas ótimas. Shigeru diz que a arte não deve ser feita para os privilegiados." Colbert, cujo trabalho procura captar a relação mística entre humanos e animais, disse que procurou Ban porque admirava a utilização feita pelo arquiteto de materiais pouco ortodoxos.
Os trabalhos anteriores de Ban incluem o Abrigo de Papel para Refugiados, feito de tubos de papel e lonas plásticas para o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, entre outros. Colbert quer que o Museu Nomádico, como as outras obras de Ban, pareça acessível a um público amplo.
"A estrutura não deve intimidar. Deve criar um ambiente convidativo. É uma ponte entre as artes e as ciências naturais. Não é arte com "A" maiúsculo", diz.
Dean Maltz é o arquiteto que trabalha com Ban no projeto. A anfitriã da exposição é a Fundação Hudson River Park, que administra o píer e está recebendo uma taxa. Erguer o museu não foi fácil. "Você está construindo sobre um píer que é uma relíquia história, está sobre a água e está construindo em Nova York", disse William Goins, administrador de projetos do museu.
Enquanto os trabalhos de construção continuavam no interior do museu, os contêineres ofereciam pouca proteção contra o vento. Mas haverá lonas esticadas nos espaços entre os contêineres.
Ban contou que se interessou pelo projeto quando viu as fotos feitas por Colbert de elefantes e baleias e a qualidade efêmera da própria construção. "A idéia de deslocar um museu enorme era um desafio interessante", diz Ban.
Ele escolheu contêineres de carga porque eles têm idade. "Como percorrem o mundo, cada contêiner tem sua história." Com a exceção dos contêineres usados para transportar o museu, os outros vão mudar em cada local.
A artéria principal da galeria é uma passarela de madeira ladeada por baias repletas de pedras, sobre as quais os trabalhos de Colbert, não enquadrados, ficarão suspensos de cabos e hastes instalados entre as 64 colunas. As treliças do telhado são feitas em parte de tubos de papel de 30 cm de diâmetro que partem dos contêineres e das colunas.
O centro do museu é formado por uma biblioteca flutuante na qual as páginas viradas dos livros do artista vão projetar imagens nas paredes. Um filme de uma hora de duração de Colbert, narrado por Laurence Fishburne, é projetado continuamente sobre uma parede de um teatro situado na extremidade do museu.
"Ashes and Snow" é organizada pela Fundação Bianimale, do próprio Colbert, um grupo de artes e conservação natural, sem fins lucrativos, e patrocinada pela Rolex, que também ajudou na primeira exposição, em 2002, em Veneza.
Shigeru Ban disse que vai redesenhar o museu levemente a cada vez que ele for trasladado, "dependendo das condições diferentes de cada local", mas que nem isso nem o caráter impermanente da construção representam um problema. "Três meses ou três anos não são importantes para mim, porque a idéia perdura. Se ela for carregada pelo mundo afora, será vista por mais pessoas. Talvez ela fique em sua memória, mesmo que seja levada embora."


Tradução de Clara Allain

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