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EXPOSIÇÃO
Projeto do japonês Shigeru Ban, erguido em Nova York, é montado com cofres de carga e viajará pelo mundo
Museu flutua em estrutura de contêineres
ROBIN POGREBIN
DO ""NEW YORK TIMES"
As pessoas que descem a avenida West Side em alta velocidade
poderiam ser perdoadas por não
olhar mais do que de relance ao
píer 54. Afinal, os contêineres empilhados ali não são incomuns na
zona portuária de Manhattan
(EUA). O local por onde estão
passando não apenas é o píer histórico do rio Hudson na rua 13, no
qual desembarcaram os sobreviventes do Titanic, como também
é um museu novo, projetado pelo
arquiteto japonês Shigeru Ban.
A estrutura de 42 mil m2 foi
construída para a exposição "Ashes and Snow" (cinzas e neve),
que traz 200 trabalhos fotográficos em grande escala do artista
Gregory Colbert, prevista para
acontecer entre hoje e 6/6. Depois,
seguirá para Califórnia, Europa e
China, no ano que vem.
Não é apenas a exposição que
vai mudar de lugar. O museu será
empacotado em 37 dos 148 contêineres de carga que formam
suas paredes. A estrutura temporária é composta em grande parte
de materiais recicláveis: o telhado
e as colunas são feitos de tubos de
papel; são usados os próprios
contêineres (empilhados até a altura de 10,3 m) e uma cortina é feita de 1 milhão de saquinhos de
chá prensados (usados, com as folhas de chá removidas).
"Shigeru é o Mozart da arquitetura sustentável", diz Colbert.
"Desde o ponto de vista filosófico,
ele já criou construções públicas
ótimas. Shigeru diz que a arte não
deve ser feita para os privilegiados." Colbert, cujo trabalho procura captar a relação mística entre
humanos e animais, disse que
procurou Ban porque admirava a
utilização feita pelo arquiteto de
materiais pouco ortodoxos.
Os trabalhos anteriores de Ban
incluem o Abrigo de Papel para
Refugiados, feito de tubos de papel e lonas plásticas para o Alto
Comissariado da ONU para Refugiados, entre outros. Colbert quer
que o Museu Nomádico, como as
outras obras de Ban, pareça acessível a um público amplo.
"A estrutura não deve intimidar. Deve criar um ambiente convidativo. É uma ponte entre as artes e as ciências naturais. Não é arte com "A" maiúsculo", diz.
Dean Maltz é o arquiteto que
trabalha com Ban no projeto. A
anfitriã da exposição é a Fundação Hudson River Park, que administra o píer e está recebendo
uma taxa. Erguer o museu não foi
fácil. "Você está construindo sobre um píer que é uma relíquia
história, está sobre a água e está
construindo em Nova York", disse William Goins, administrador
de projetos do museu.
Enquanto os trabalhos de construção continuavam no interior
do museu, os contêineres ofereciam pouca proteção contra o
vento. Mas haverá lonas esticadas
nos espaços entre os contêineres.
Ban contou que se interessou
pelo projeto quando viu as fotos
feitas por Colbert de elefantes e
baleias e a qualidade efêmera da
própria construção. "A idéia de
deslocar um museu enorme era
um desafio interessante", diz Ban.
Ele escolheu contêineres de carga porque eles têm idade. "Como
percorrem o mundo, cada contêiner tem sua história." Com a exceção dos contêineres usados para
transportar o museu, os outros
vão mudar em cada local.
A artéria principal da galeria é
uma passarela de madeira ladeada por baias repletas de pedras,
sobre as quais os trabalhos de Colbert, não enquadrados, ficarão
suspensos de cabos e hastes instalados entre as 64 colunas. As treliças do telhado são feitas em parte
de tubos de papel de 30 cm de diâmetro que partem dos contêineres e das colunas.
O centro do museu é formado
por uma biblioteca flutuante na
qual as páginas viradas dos livros
do artista vão projetar imagens
nas paredes. Um filme de uma hora de duração de Colbert, narrado
por Laurence Fishburne, é projetado continuamente sobre uma
parede de um teatro situado na
extremidade do museu.
"Ashes and Snow" é organizada
pela Fundação Bianimale, do próprio Colbert, um grupo de artes e
conservação natural, sem fins lucrativos, e patrocinada pela Rolex,
que também ajudou na primeira
exposição, em 2002, em Veneza.
Shigeru Ban disse que vai redesenhar o museu levemente a cada
vez que ele for trasladado, "dependendo das condições diferentes de cada local", mas que nem
isso nem o caráter impermanente
da construção representam um
problema. "Três meses ou três
anos não são importantes para
mim, porque a idéia perdura. Se
ela for carregada pelo mundo afora, será vista por mais pessoas.
Talvez ela fique em sua memória,
mesmo que seja levada embora."
Tradução de Clara Allain
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