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EXPOSIÇÃO
Com curadoria de Vik Muniz, mostra com obras do fotógrafo norte-americano evita sua faceta mais conhecida
Mapplethorpe volta com olhar renovado
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Robert Mapplethorpe, o fotógrafo que expôs as feridas da moralidade e da intolerância da sociedade americana ao retratar a
sexualidade homoerótica dos
guetos nova-iorquinos, está de
volta. Oito anos após uma grande
retrospectiva realizada no MAM
(Museu de Arte Moderna), o herói trágico, que morreu em decorrência da aids em 1989, retorna a
São Paulo, na galeria Fortes Vilaça, sob curadoria do artista plástico brasileiro Vik Muniz.
O recorte da obra de Mapplethorpe proposto por Muniz surpreende. Não há nenhuma fotografia de nu masculino ou de flores, temas que celebrizaram para
o bem e para o mal a obra do norte-americano.
"Mapplethorpe virou um ícone,
e ícones não têm profundidade.
Os nus e as flores coloram-no em
evidência, mas também diluíram
o restante de seu trabalho. Para o
público, ele virou um artista facilmente reconhecível, e isso o empobrece, soa a uma música que
toca repetidamente numa jukebox", conta Muniz.
A operação para tirar Mapplethorpe da jukebox foi precedida
por uma pesquisa em todo o arquivo do artista, que gerou um
conjunto de 50 fotografias em que
predominam os portraits de amigos e artistas, bem como imagens
pouco conhecidas de interiores.
"Não acho que a discussão que
ele trouxe à tona, marcada pelo
enfrentamento à intolerância e
pela não-aceitação da diferença,
esteja ultrapassada. Pelo contrário, ela se faz urgente e importante
no contexto atual, marcado pelo
retorno de um falso moralismo.
No entanto, optei por uma revisão que valorizasse sua obra no
contexto da história da arte."
O rigor formal no uso do preto-e-branco e a clara obsessão pelas
composições simétricas revelam,
segundo Muniz, o apreço que o
fotógrafo tinha pela fotografia do
século 19, além de remeter claramente à educação religiosa que
ele teve na infância. "As simetrias
de suas fotos lembram altares de
igrejas", diz.
Em 1988, Mapplethorpe dizia:
"Não gosto da palavra "chocante".
Busco o inesperado, coisas que
nunca vi... Tive a chance de tirar
essas fotos. Senti-me na obrigação
de tirá-las". Tal fala encontra ressonância em Muniz: "Não gosto
de sensacionalismo, de foto chocante. Elas induzem a uma leitura
rápida, é um signo facilmente devorado. Prefiro imagens que convidem à contemplação".
A presente mostra em São Paulo
é, dessa forma, uma operação antichoque na obra do fotógrafo.
Longe de se tornar uma assepsia
na incendiária iconografia, tal revisão estabelece um diálogo generoso entre dois artistas que resulta
num recorte que faz emergir um
Mapplethorpe igualmente compulsivo e contundente, porém,
mais silencioso e sutil.
Robert Mapplethorpe
Onde: Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, SP, tel. 0/xx/11/3032-7066)
Quando: ter. a sex.: 10h às 19h; sáb.: 10h
às 17h. Até 9/4
Quanto: entrada franca
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