São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009

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NINA HORTA

Os desejos grávidos de frescor


É agora ou nunca que nos acostumamos com as sopas frias. Aqui, já conseguimos gostar de gazpacho


O DIA de verão de hoje está indigno, insuportável. É a hora dos desejos grávidos de frescor. Quem quer uma feijoada com cachaça, um cozido com pirão, uma churrascaria a toda, botando fogo pelas ventas? Nossos sonhos são outros e são simples.
Em matéria de sucos e refrescos, nada melhor que água de coco, mas tem que ser brutalmente gelada.
Não com o gelo dentro, que tira o sabor. Imaginem que na vida só consegui uma vez água de coco gelada com gosto. Tinha um filetinho de gengibre no copo. Lima da Pérsia também calha, mas já acabou. A coisa mais refrescante mesmo é um lassi indiano. Coalhada, um toque de cardamomo (e água de rosas para quem gosta), uma pitada de sal ou de açúcar, batido no liquidificador com gelo. Muito bom e vicia. Os americanos falam tanto em cranberry (oxicoco), que tenho comprado em sacos congelados e feito suco de manhã, curando todas a doenças da face da Terra. Champanhe, cerveja, Coca, vale tudo.
Biscoito de polvilho é neutro. Não esquenta nem esfria. Tem algumas coisas indianas, tailandesas, que refrescam por causa do excesso de pimenta. Comprem na Liberdade um curry tailandês de pasta (dura meses e meses) e faça um curry de castanhas portuguesas com leite de coco e um pouquinho de caldo de galinha, nem precisa do caldo, mas fica bom. Coma com sticky rice. Se não sabe como fazer arroz grudento, está perdendo, pode me pedir, pois é o único artigo que a Folha não registra, ou, pelo menos, que não acho.
De entrada, um quarto de melancia no prato, como se fosse um melão, cortada e recomposta. Uma pulverizada de pimenta-do-reino por cima. Ao lado, um hashi com quadrados de queijo de cabra. Ou a melancia de sobremesa ao lado de uma raspadinha insólita. Apesar de batido, mas ainda com tudo, melão com figos doces. É agora ou nunca que nos acostumamos com as sopas frias. No Brasil, já conseguimos gostar de gazpacho e vichyssoise. Não sei o porquê, mas é costume servi-la numa taça com uma violeta por cima. Frescura, com certeza, mas fica bonito.
Podemos começar com as sopas de sobremesa, os morangos, ou amoras, ou blueberries, levemente cozidos, batidos, com creme de leite e aquela bolota de sorvete ao lado. Tem sempre o conforto do pão que é neutro. Um bom sanduíche, uma alface mimosa e um ovo duro recheado e pronto. Em matéria de queijo, as ricotas e mussarelas, uns rabanetes, rúcula, laranja, azeitonas pretas miúdas. Para variar, tenho servido um copinho de média, aqueles de botequim, de cachaça, com um ceviche de frutas cítricas, laranja, mexerica, grapefruit, picadinhos, tudo bem temperado como um ceviche salgado de verdade, delicioso.
O macarrão pode ser quente, mas com o velho molho primavera, cru. Peixe frio em escabeche, vale. Maionese é um molho bom para o verão, combina com muita coisa. Batatinhas bem pequenas, cozidas com casca, sobre um pouco de sal grosso triturado e acompanhada por uma tigela de creme de leite grosso (um pouco batido) e um vidrinho de ovas de salmão. Você gosta de língua defumada? Prometi para uma leitora e não mandei. Impostora. Pois corte em fatias, sirva com pequenas beterrabas assadas e cortadas em rodelas, agrião e azeite de oliva.
Berinjelas cortadas em fatias grossas, pinceladas com azeite e pulverizadas de um lado com pimenta-do-reino, alho picado e um pouquinho de orégano seco, sal. Forno até macias. Espalhar por cima, queijo de cabra em pedaços pequenos, pignoli tostados e umas folhinhas de hortelã. Um bom pão. Gostoso com hambúrgueres. Um peixe grelhado com alecrim, servido com maionese de alho. Um rosbife frio, vermelho, com creme de raiz forte ao lado. E chega, por hoje.

ninahorta@uol.com.br


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