São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

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RÉPLICA

"Lanzmann é mentiroso, preconceituoso e mal-agradecido"

CUMPRIMOS NOSSO PAPEL E RESPEITAMOS O CONTRATO. JAMAIS NOS APOSSAMOS DO QUE NÃO NOS PERTENCIA, COMO FEZ PARECER LANZMANN

RESUMO
Em entrevista publicada pela Ilustrada no dia 24 de fevereiro, Claude Lanzmann acusou a comunidade judaica do Rio de Janeiro de apossar-se de seu filme "Shoah".
O diretor esteve no Rio em 1985, quando exibiu "Shoah", documentário sobre os sobreviventes do Holocausto, no Fest-Rio.
O francês contou que, na época, encontrou "dois malucos que diziam que queriam comprar meu filme, mas passavam o tempo todo ao telefone [...]".
"A comunidade judaica do Rio se apossou dele e não sei o que fizeram porque os judeus são imbecis, não são sérios", afirmou.


RONALDO GOMLEVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Corria o ano de 1985.
Na cidade maravilhosa acontecia a edição do Fest-Rio (Festival de Cinema Internacional).
Havia por aqui no Rio um intelectual, cineasta e crítico de cinema chamado Alberto Chatovsky, tão judeu quanto Claude Lanzmann, o francês autor de "Shoah", e quanto todos nós da Fierj (Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro), naquela data por mim presidida.
Chatovsky, que sabia das dificuldades financeiras pelas quais estava passando seu amigo francês, o trouxe ao nosso escritório na tentativa de me convencer de que era uma boa medida adquirir os direitos do tal filme "Shoah".
Por já tê-lo assistido e pela grandeza da obra, não pestanejei.
"Quanto custa?", perguntei. "Vinte mil dólares."
Telefonei para o tesoureiro da Fierj, David Schipper, e disparei: "Comprei o documentário "Shoah" para a comunidade judaica!".
Schipper, como sempre, afirmou: "Não há nem um centavo no caixa. Por quanto você comprou?".
"Vinte mil doletas", respondi. "E mais: hoje é quarta-feira, e o homem vem receber na segunda." Schipper, do outro lado da linha, emendou: "Você comprou, tá comprado. Eu pago e você me devolve depois".
Na segunda seguinte, hora marcada, chegamos Schipper e eu no escritório do Chatovsky, na Lapa, bairro boêmio carioca, com a grana para o Lanzmann.
Debaixo do braço, tinha um contrato com cinco anos de direitos exclusivos de exibição do "Shoah".
Chatovsky atende à campainha e vai logo dizendo: "Ihh! O cara está aí, mas não quer entregar o filme".
Pensei eu: "Será que é estelionatário? Vende e não entrega?".
Onze anos de Alliance Française me permitiram dizer ao moço, na sua língua: "Vai entregar, sim! Vendeu, vai receber teu dinheiro, assinar o contrato, largar o filme, que já não é mais teu, aí em cima da mesa e vai cuidar da tua vida!".
Acabou cumprindo, mesmo que a contragosto, sua palavra empenhada que, para si, na verdade parecia nada representar.
Foi a São Paulo no fim de semana e arranjou quem pagasse mais 20%.
Pouco vale, mesmo, a palavra do lindão que afirma na Ilustrada serem os judeus imbecis.
Preconceituoso, ele coloca todos os judeus no mesmo saco.
Burro, está adjetivando de imbecis tipos como Einstein (1879-1955), Freud (1856-1939), Jesus, Marx (1818-1883), Sabin (1906-1993), Ben Gurion (1886-1973) e o humílimo Ronaldo Gomlevsky, todos judeus.
O último é quem a esta assina e que teve o desprazer de tratar com quem não quer honrar seus compromissos assumidos.
"Shoah" foi muito bem exibido pela Fierj enquanto durou o contrato, suscitando debates em universidades, em escolas judaicas e não judaicas e sendo alvo de projeções para milhares de espectadores, como a que ocorreu no auditório do Hotel Nacional para mais de 3.000 interessados.
Cumprimos nosso papel e respeitamos o contrato. Pagamos pelos direitos que adquirimos.
Jamais nos apossamos do que não nos pertencia, como quis fazer parecer, na entrevista que deu à Folha, o malsinado Lanzmann.
Lanzmann é mal-agradecido, raivoso, discriminador e, talvez, quem sabe, já impotente e mal-educado.
Mal-educado na contramão da educação judaica universal, que ensina o respeito aos compromissos e desaconselha o lançamento de boatos mentirosos.
Falar mal do nosso velho e consagrado arquiteto Oscar Niemeyer, agredir com palavras os judeus, cuspir abelhas grávidas e marimbondos bêbados sobre quem o recebeu e com quem fez negócios, demonstra apenas seu putrefato estado de alma.
Certamente por ser hoje um ex-amante, carente de beijinhos e carinhos que não mais vamos querer oferecer-lhe.

RONALDO GOMLEVSKY é jornalista, advogado e administrador de empresas. Foi presidente da Fierj entre 1984 e 1988, quando comprou os direitos de exibição do documentário "Shoah"

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