São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CRÔNICA A mais velha tem cabelos castanhos (não os cortou), olhos castanhos (imensos, macios, úmidos), pele dourada, cintura apenas sensível no torso gorducho, preguiçoso. A voz permaneceu completamente nortista, rr da garganta, ãos enormes, vogais escancaradas. Fala como a Baianinha de Ribeiro Couto, e poderia dizer (e sentir), como a outra, que "o destino da mulher é o amor". Está claro que gosta de modinhas e de doce de coco. A segunda é alta, magra (enxuta), cabelos bem pretos, pele bem branca. Não conservou a prosódia sensual da província. Mas também não pegou o sotaque das cariocas. Fala bem (explicado). É quem veste as outras. Quem dá a elegância. Gosta muito de poesia (Olegário Mariano - Onestaldo de Pennafort). Sentimental também. Mas sonsa, meu Deus! A terceira é inteiramente diversa. Pequena, magríssima (mais tout y est!), esse louro brasileiro que quase não é louro. Nasceu na província, como as outras duas, porém, o fato é que não há carioca mais tipicamente carioca, nos modos, na gíria, no espírito. Não vai para essa coisa de poesia. É do cinema. Do charleston. Da chispada. Tem gosto de sal e rabanete. E o que faz no meio disso tudo (as três acertam que é uma delícia, cada qual com o seu timbre, o seu registro) Felício Antônio, meia direita de scratch e amanuense extranumerário da Repartição do Imposto sobre a Renda? Felício Antônio é quem canta. Crônica "Flauta, Cavaquinho e Violão", publicada na revista "Para Todos", em 4 de agosto de 1928   Publicação autorizada pelo condomínio dos proprietários dos direitos intelectuais de Manuel Bandeira. Direitos cedidos por Solombra Agência Literária (solombra@solombra.org). Texto Anterior: Crítica/"Crônicas Inéditas I - Manuel Bandeira": Textos exibem estilo franco e cansaço do modernismo Próximo Texto: Autor comenta a "esquisita" Greta Garbo e a "guerra ao mosquito" Índice

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