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ARTES PLÁSTICAS
Para crítico Guy Brett, obra de Lygia Pape, morta anteontem, é das mais importantes do abstracionismo
"Embaixador" do neoconcreto faz palestra
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Lygia Clark e Hélio Oiticica, incluindo Lygia Pape, foram responsáveis pelo grande salto na arte brasileira, nos anos 60, que contribuiu para estabelecer um novo
patamar na história da arte, com
participação do público e envolvimento do corpo", disse anteontem o crítico inglês Guy Brett.
A entrevista para a Folha ocorreu momentos antes da morte de
Pape (1929-2004) ter sido anunciada, anteontem à noite. Brett,
que faz hoje uma palestra sobre a
arte brasileira nos anos 60 e suas
relações com a situação internacional, está no Brasil para preparar a primeira edição em português de um livro seu, com o título
provisório de "Brasil Experimental", justamente o nome da palestra de hoje. A publicação deve ser
lançada durante a Bienal de São
Paulo, em setembro próximo.
Com a morte de Pape, sua palestra promete se tornar um tributo à
artista, um dos pilares do movimento neoconcreto, lançado em
1959. O evento é promovido pelo
Instituto de Arte Contemporânea
(IAC), previsto para ser inaugurado no final deste ano e, segundo a
galerista Raquel Arnaud, que organiza o IAC, Pape havia sido
convidada a remontar o "Ballet
Neoconcreto", de 1959, na abertura do centro.
O neoconcretismo, liderado pelo poeta Ferreira Gullar, era uma
reação ao movimento concreto,
considerado demasiadamente racionalista, e pregava uma arte
fundada em um novo espaço expressivo, mais ligada à vida cotidiana. A participação do público e
a atenção ao corpo foram duas
marcas do movimento, que geraram obras paradigmáticas na arte
brasileira como "Bichos", de
Lygia Clark (1920-1988), "Núcleos", de Hélio Oiticica (1937-1980), e "Livro da Criação", de Pape, que Brett considera "umas das
mais importantes obras do abstracionismo na história da arte".
Foi em 1965, como correspondente do jornal inglês "The Times", que Brett esteve no Brasil
pela primeira vez para cobrir a
Bienal de São Paulo. Por meio do
artista brasileiro Sérgio Camargo
(1930-1990), que vivia na Europa,
o jornalista travou contato com a
"turma" neoconcreta, tornando-se amigo deles, especialmente de
Clark e Oiticica. Brett ajudou Oiticica a realizar sua primeira mostra na Europa, em 1969, na galeria
Whitechapel, de Londres.
"Eu realmente pensei que eles
eram artistas importantes no contexto da arte contemporânea, ao
introduzirem novos conceitos,
como o da participação do público. E eu os vinculo a um grupo de
artistas europeus que trabalham
na mesma direção", diz Brett. Na
palestra, o crítico irá comparar a
obra de Oiticica do período a trabalhos do norte-americano Robert Morris, e a obra de Clark com
a da alemã Eva Hesse.
"Em 1972, Morris fez uma exposição, na Tate, que pedia a participação do público, a única que realizou com essa intenção, assim como o fez Hélio, em 1969, na Whitechapel. É interessante observar
as diferenças de cada mostra, mas
que tinham um princípio parecido. E certamente Morris não conhecia o trabalho de Hélio, mas
Hélio conhecia o trabalho dele,
pois ele conhecia tudo", diz.
Apesar do estreito contato mantido com artistas brasileiros, Brett
não gosta de ser visto como um
brasilianista: "Nunca quis ser um
especialista em arte brasileira. Nacionalidades, acredito, não são
importantes em termos de estabelecer paradigmas artísticos".
Entretanto, o crítico espera, com
seu novo livro, "provocar alguma
forma de discussão, a partir da reflexão de alguém do outro lado do
mundo, com uma cultura diferente". Enquanto o livro não é publicado, a palestra de hoje já funciona como introdução.
BRASIL EXPERIMENTAL. Palestra com o
crítico e curador inglês Guy Brett.
Quando: hoje, 20h (com tradução).
Onde: Centro Universitário Maria
Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/
11/3255-7182). Quanto: entrada franca.
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