São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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ANÁLISE

Animação vive surto tardio no Brasil

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar da força da cultura audiovisual brasileira, e de manifestações esporádicas no passado, carecemos de uma produção consistente de animação.
Há, finalmente, indícios de um surto, mais que bem-vindo, mesmo que tardio, de produção do gênero no Brasil.
Charges animadas e sonorizadas -microcurtas de animação- constituem uma das atrações audiovisuais da internet. O gênero se destaca no Cine PE -Festival do Audiovisual de Recife. A MTV brasileira apresenta o que talvez seja o primeiro investimento televisual em um seriado de animação, o "Mega Liga".
Para não falar da repercussão do Anima Mundi, festival de animação dirigido por Marcos Magalhães, ele mesmo autor do curta "Meow", premiado em Cannes nos anos 80.
Em contextos estrangeiros, a animação desponta como forma de expressar experiências às vezes esgotadas na chave realista. No último Festival Internacional de Documentários, um curta colombiano feito a partir de depoimentos e desenhos infantis se destacou pelo tratamento inovador de situações trágicas.
Os exemplos citados aqui não poderiam ser mais diferentes em concepção, suporte, opção de veiculação, formato e conteúdo. As notícias de Recife apontam para repertórios inspirados na cultura popular nordestina -do cordel a oficinas em escolas públicas.
Em caminho talvez oposto, o seriado exibido pela MTV se inspira no visual e em tramas convencionais de desenhos eletrônicos estrangeiros como as "Meninas Superpoderosas". É quase uma paródia condensada da programação do Cartoon Network.
"Mega Liga" dramatiza o time de VJs da casa, uns no papel de super-heróis, outros no de vilões -ambos envolvidos em intrincadas tramas mediadas por instrumentos eletrônicos que se parecem como os do Dexter.
Os Paladinos da MTV ainda não ganharam a agilidade que merecem. Os curtas independentes carecem de visibilidade. Os cartoons animados na internet ainda chamam pouca atenção.
Mas essa produção é importantíssima. Pelo pioneirismo. Pela aventura em um gênero que tem potencial a um só tempo comercial e expressivo. E que poderia bem enriquecer nosso desgastado repertório televisivo.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

MEGA LIGA MTV DE VJS PALADINOS.
Quando: seg., às 23h, na MTV.


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