CRÍTICO DA FOLHA

A pouco mais de um mês da Copa da Alemanha, eles parecem onipresentes: ocupam outdoors, protagonizam inúmeras campanhas publicitárias e, agora, também estão nos cinemas. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e seus colegas de seleção estrelam "O Dia em que o Brasil Esteve Aqui", documentário sobre o "jogo da paz" disputado contra o Haiti, em Porto Príncipe, em 18/8/2004.
Os jogadores pouco aparecem ou falam, mas são lembrados, elogiados e ovacionados. Para os haitianos, que os admiram e que torcem por eles como se fossem brasileiros, representam "deuses na terra". São as "nossas estrelas" -do Haiti e, como desejam as multinacionais com as quais mantêm contrato, de onde exista sociedade de consumo.
Parte do documentário explora o incrível fascínio exercido por esses jovens talentosos e milionários sobre gente de todas as classes, mas, em especial, sobre a base da pirâmide. O material caberia em um capítulo extra do livro "Como o Futebol Explica o Mundo", do jornalista norte-americano Franklin Foer, que investiga a febre da bola pelo planeta em busca de conexões sociais e políticas.
São essas conexões que permitem aos diretores Caíto Ortiz ("Motoboys - Vida Loca") e João Dornelas tratar um pouco de geopolítica. O "jogo da paz" leva ao conceito de "soft power" -que, sustenta um dos entrevistados, seria o trunfo do Brasil para se impor como simpática tropa de ocupação, executando no Haiti uma "lição de casa" proposta pela ONU como pré-requisito para conquistar um assento no Conselho de Segurança.
Além de acompanhar a rápida visita da seleção (e do presidente Lula) ao país, com impressionante registro de multidões nas ruas, as imagens captam a euforia de antes e uma certa amargura, depois. Com isso, permitem vislumbrar o drama haitiano sob o breve impacto do sonho brasileiro, mas somente arranham um quadro em que haveria diversas camadas a explorar. (SÉRGIO RIZZO) O Dia em que o Brasil Esteve Aqui
  
Direção: Caíto Ortiz e João Dornelas Produção: Brasil, 2005 Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco

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