Álbum gravado em 1997 pelo violonista clássico traz versões de manuscritos de Villa-Lobos dos anos 1920

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Finalmente chega ao Brasil um dos itens fundamentais da discografia de Villa-Lobos (1887-1959): a integral de suas obras para violão solo por Fabio Zanon. O álbum havia sido gravado em 1997 pelo minúsculo selo norte-americano Music Masters, mas permanecia quase "secreto". Devido à tiragem pequena, era difícil de adquirir, mesmo pela internet. Os fãs brasileiros de Zanon faziam fila, em suas apresentações, para tentar comprar os exemplares que ele trazia para vender aqui.
Bem, graças à Biscoito Fino, finalmente está disponível essa gravação, que conquista pela qualidade sonora, excelência técnica superlativa do intérprete e ousadia musicológica com que são tocados a "Suíte Popular Brasileira", "Choros nº 1", "5 Prelúdios" e "12 Estudos".
Pois Zanon, ao abordar as obras, escolhe não as edições feitas pela firma francesa Max Eschig, mas manuscritos anteriores, dos anos 1920. Em algumas peças, as diferenças são dramáticas: o "Estudo nº 10", na versão, traz 33 compassos não publicados.
Se não há muita dúvida de que as edições da Eschig mostram a vontade final do autor, também parece claro que os manuscritos, por vezes, trazem versões mais completas, sofisticadas e visionárias.
A leitura de Zanon, assim, só faz ressaltar o caráter divisor de águas na escrita para o instrumento que têm os "12 Estudos". Escritos na fase mais inovadora de Villa-Lobos, eles têm compromisso simultâneo com a ampliação das possibilidades técnicas e com a pesquisa de linguagem musical.
No CD, ganham um sentido de urgência e unidade. É Villa-Lobos tocado por quem acredita em sua obra e possui veemência para convencer o ouvinte de seu valor.