São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/ "Villa-Lobos"

Sinfônica Municipal grava malícias de Villa-Lobos

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Em tempos de reforma do Teatro Municipal, a Orquestra Sinfônica Municipal mostra vida e força em CD dedicado ao maestro e compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos. Dirigida por Rodrigo de Carvalho, seu regente titular, interpreta "Uirapuru" (1917), "Bachianas Brasileiras nº 2" (1930) e "Choros nº 6" (1926).
A escolha das obras dá um nó na cronologia. Nos últimos tempos, não tem sido raro ouvir quem -talvez em sintonia com o musicólogo José Maria Neves (1943-2002)- defenda o "experimentalismo" da série dos "Choros" (1920-29) em detrimento às "Bachianas" (1930-45), geralmente tidas como mais "acadêmicas".
Mas, aquém e além do artesanato, é a própria malícia do compositor carioca que se encarrega de subverter esse desenho. O "Choros nº 6" -Villa-Lobos sempre toma a parte pelo todo, "este" "Choros", "aquela" "Bachianas"- caminha do som da floresta, marcado pelo tambu-tambi (bastão de ritmo, comum na música ritual de diversos povos), para um final totalmente bachiano, com os temas superpostos em "aumentação" (distendidos em valores longos).
Se Villa-Lobos quisesse, seria possível dividir a obra em movimentos, propondo a inversão entre espaço e tempo que é marca das "Bachianas".
Por outro lado, tal como na maioria dos "Choros", a segunda "Bachianas" unifica o discurso através dos solos -saxofone, violoncelo, trombone-, que conduzem para a narratividade da "toccata" final ("O Trenzinho do Caipira"). O caso do balé "Uirapuru" é de outra ordem: ele é devedor das obras escritas por Stravinsky (1882-1971) e Debussy (1862-1918) para os Ballets Russes e, segundo afirmam alguns especialistas, Villa-Lobos pode até ter atribuído à obra uma data anterior, de modo a fazê-la parecer mais original.
Talvez pela intimidade da Orquestra Municipal com o mundo da ópera, suas interpretações de Villa-Lobos soam mais dramáticas, bem diferentes das gravações da Osesp. O som está excelente, e já há algum tempo a crítica deve um crédito ao engenheiro José Luiz Costa, o "Gato", mestre da gravação de música clássica.
Tomara que este álbum seja o primeiro de uma nova fase e que possamos em breve ter outras produções em CD e DVD, tanto da Orquestra Municipal como do Coral Paulistano, da Orquestra Experimental de Repertório e do Quarteto de Cordas da Cidade.


VILLA-LOBOS: "UIRAPURU"/"BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 2"/ "CHOROS Nº 6"

Artista: Orquestra Sinfônica Municipal; regente Rodrigo de Carvalho
Gravadora: Lua Music
Quanto: R$ 23, em média
Avaliação: bom




Texto Anterior: Música/Crítica/ "Villa-Lobos - Obras Completas para Violão Solo": Gravação rara expõe excelência de Zanon e ganha nova edição
Próximo Texto: Burman quer filmar longa no Brasil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.