São Paulo, Quarta-feira, 05 de Maio de 1999
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DANÇA
Companhia russa volta ao Brasil sem Nina Ananiashvili, uma de suas últimas estrelas, e se apresenta hoje no Rio
Depois de 11 anos, Bolshoi faz turnê no país

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Se a temporada do Ballet Bolshoi no Brasil, que começa hoje no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, contasse com a presença da bailarina Nina Ananiashvili, o público brasileiro teria razões para comemorar.
Uma das últimas grandes estrelas produzidas pelo Bolshoi, Ananiashvili conserva os laços com o elenco russo que a projetou, mas hoje sua atuação concentra-se nos Estados Unidos, onde dança no American Ballet Theatre.
Sem Ananiashvili e sem Galina Ulanova, a legendária mestra que morreu no ano passado, o Ballet Bolshoi volta ao Brasil depois de 11 anos para uma turnê que prossegue no Teatro Municipal de São Paulo (entre os dias 11 e 16), percorrendo em seguida Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Joinville e Curitiba.
Com 142 bailarinos, o Bolshoi atual ainda é um dos carros-chefes do balé russo. No entanto, os novos tempos se encarregaram de eliminar a aura do passado e as expectativas passionais que cercavam as apresentações do grupo fora de seu país.
Símbolo da era comunista, quando se tornou um baluarte nacional, o Bolshoi produziu várias gerações de estrelas, como Maya Plisetskaya, hoje com 74 anos, e Irek Mukhamedov, que migrou para o Royal Ballet de Londres no início dos anos 90.
Tantas individualidades deram lugar, após a perestroika, a um elenco homogêneo e menos expressivo, apoiado mais nas qualidades técnicas do que nas interpretações emotivas que deram fama ao Bolshoi.
Sediado em Moscou, o Bolshoi tornou-se concorrente direto do Ballet Kirov, de São Petersburgo. Mais cosmopolita, o Kirov se distingue por um refinamento que, na capital russa, era geralmente associado a frieza expressiva.
Em contrapartida, o Bolshoi procurou destacar uma emotividade que concedia a seus espetáculos um caráter dionisíaco, se comparado ao estilo apolíneo do Kirov.
Segundo Vladimir Vassiliev, diretor do Teatro Bolshoi desde 1995, os atuais bailarinos libertaram-se das interpretações carregadas de emoção e, por isso, estão mais equilibrados.
"Estamos melhores do que dez anos atrás", defende Vassiliev, que nos anos 60 brilhou em palcos internacionais como o bailarino super-homem, protótipo ideal do balé russo.
Foi para Vassiliev que o coreógrafo e ex-diretor artístico do Bolshoi, Yuri Grigorovich, criou o papel principal de "Spartacus", balé que inaugura a temporada brasileira hoje, no Rio, e que será apresentado em São Paulo nos dias 11 e 13.
Além de "Spartacus", o Bolshoi também traz para esta temporada brasileira o balé "Raymonda", que marcou, em 1898, a associação do compositor Glazounov com o coreógrafo Marius Petipa, que teve em Tchaikovsky seu mais fiel colaborador musical.
Um terceiro programa - denominado "Gala" - mistura trechos de clássicos como "O Lago dos Cisnes" a criações recentes como "O Último Tango", com coreografia de Vatcheslav Gordeyev e música de Piazzolla.

Espetáculo: Ballet Bolshoi
Quando: de hoje a sábado, às 20h, e domingo, às 10h30, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. De 11 a 15, às 20h30, e dia 16, às 10h30, no Teatro Municipal de São Paulo
Onde: Teatro Municipal do Rio de Janeiro (pça. Floriano, s/nº, tel. 021/544-2900); Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, região central, tel. 011/ 223-3022)
Quanto: R$ 60 a R$ 220 em São Paulo
Patrocínio: Andersen Consulting, Telemar e Correios



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