São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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"NEM TUDO É O QUE PARECE"

Jogos, trapaças e um roteiro fumegante

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira impressão que se tem de "Nem Tudo É o que Parece" não é lá das melhores: é dirigido por Matthew Vaughan, um amigo de Guy Ritchie -marido de Madonna- e produtor de dois de seus filmes: "Snatch" e "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes". Ou seja: vem aí mais um derrama-sangue de gângsteres em ritmo de videoclipe. Mas não: "Nem Tudo É o que Parece" é o que diz seu próprio título brasileiro: bem mais consistente do que os "originais".
Quem ganha pontos para o filme é Daniel Craig, convincente na pele de XXXXX (ninguém fala o seu nome), um classudo e discreto traficante de Londres que, após alguns bem-sucedidos negócios, pretende se aposentar. Mas, antes disso... ele tem mais dois favores a fazer para Jimmy Price, um chefão das drogas: 1) Procurar a filha de Eddie Temple, um poderoso amigo desse chefão; 2) Intermediar a compra de 1 milhão de comprimidos de ecstasy.
As coisas não saem como planejado e, nas primeiras reviravoltas do roteiro, XXXXX tem as primeiras dúvidas sobre o desaparecimento da garota e passa a ser procurado por um bando de criminosos de guerra sérvios, fulos da vida depois de terem seu ecstasy roubado.
Craig torna seu personagem simpático, não gosta de pegar em armas e, mais do que um criminoso, age como um "empresário atuando no ramo das drogas" -aos poucos isso vai mudando. Já com dinheiro na mão, XXXXX está atrás de status (Eddie Temple já nasceu com status; Jimmy Price comprou seu status; agora é XXXXX quem tenta comprar seu passe. Fica para o final do filme se ele consegue ou não).
A trama é ágil e costurada por um roteiro bem amarrado; a edição de Vaughan é ligeira, mas não frenética. As cenas de brigas são um meio, e não um fim em si, como nos filmes de Guy Ritchie.
Enquanto a violência de Ritchie é estilizada demais, ensaiada demais, bonita demais -mais ou menos como o sertão idílico que aparece em alguns filmes brasileiros-, Vaughan usa o artifício com crueza, mas sem exageros -é emblemática a cena em que um capanga de XXXXX espanca um ex-amigo num restaurante e termina o serviço despejando um jarro de chá quente na cara do sujeito.
"Nem Tudo É o que Parece" tem estilo, charme e, diferentemente dos filmes de Ritchie, deve envelhecer bem. Vaughan construiu um thriller em que a forma anda com a substância.


Nem Tudo É o que Parece Layer Cake
    
Produção: Reino Unido, 2004
Direção: Matthew Vaughan
Com: Daniel Craig, Kenneth Cranham
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Frei Caneca Unibanco Arteplex e HSBC Belas Artes


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