São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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Gogol Bordello recusa rótulo de "world music"

Grupo de rock-cigano com integrantes de sete países toca no Brasil em outubro; vocalista diz que termo é "estúpido e racista'

Show tem clima caótico, mas segue padrão pop; vocalista morou no Rio e diz que fará parte da turnê de Madonna, em dezembro


THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Com integrantes saídos de países como Ucrânia, Israel, Etiópia, Estados Unidos, Equador, Rússia e China, o grupo Gogol Bordello se encaixa como poucos dentro da categoria "world music". O ponto é que eles detestam esse termo.
"É estúpido, racista. Como se dissessem: "Aqui está a música americana, o resto é world music". O que isso quer dizer?", revolta-se o vocalista e criador da banda, o ucraniano Eugene Hutz. Ele falou à Folha em Chicago, na sexta-feira passada. Naquele dia, o Gogol se apresentou no festival Lollapalooza e, poucas horas depois, fez show no clube Metro.
Se world music é um termo equivocado, mais apropriado é chamar a música do Gogol Bordello de punk-pop-cigano-performático. Ao vivo, isso é traduzido de forma festiva e caótica por nove pessoas, incluindo dançarinas e músicos que tocam acordeão, violino e percussão. Apesar de toda a variedade, tanta gente e tantos instrumentos, a estrutura da música segue o padrão pop, alternando momentos lentos e rápidos, com refrão. Após 20 minutos, o show fica repetitivo.
Os integrantes foram recrutados por Hutz (ou Evgeny Aleksandrovitch Nikolaev, 35) em Nova York, cidade na qual ele morou após sair da Ucrânia e viver em comunidades ciganas da Polônia e Hungria. "Quando os conheci, não estava procurando por ninguém em especial. Apenas aconteceu de encontrar essas pessoas", conta. E fala sobre o que o motivou a montar o Gogol Bordello: "O conceito era: fazer o melhor show de rock-cigano do mundo. E acho que estamos nos dando bem. Colocamos ênfase na performance, nas influências ecléticas. Não somos nem um pouco convencionais.
Essa é a proposta: ser o mais anticonvencional possível".
O primeiro disco da banda, "Voi-La Intruder", saiu nos EUA em 2002. Pouco depois, veio "Multi Kontra Culti vs Irony". "Super Taranta!" recebeu, no ano passado, críticas favoráveis. Mas a alquimia do Gogol Bordello é melhor desenhada nas apresentações. No Metro, em Chicago, a banda fez show de quase duas horas em ritmo incessante.
"Somos uma banda movida por paixão. Nossas músicas não são feitas para tocar em rádio, mas hoje elas tocam porque as rádios têm de tocá-las, pois a banda se tornou popular."

Madonna e Brasil
Em outubro, o Gogol Bordello fará shows no Brasil, dentro do Tim Festival. Não será a primeira visita de Hutz ao país; ele morou no Rio de Janeiro por algum tempo neste ano, e chegou a organizar festas pela cidade. Por que escolheu o Rio? "Há uma garota envolvida, claro. Além disso, eu estava em Nova York por dez anos. Não sei como fiquei por tanto tempo em uma cidade. Sempre fui intrigado pelo Brasil, então dei entrada na documentação para receber um visto de 30 dias e me deram um de cinco anos.
Deve significar algo..."
Além de festas, ele diz que, no Rio, escreveu e compôs "bastante". "Há muitos músicos no Rio. Conheci gente de Pernambuco, como DJ Dolores, Mundo Livre, Nação Zumbi."
O músico tem carreira paralela no cinema. Já estrelou, por exemplo, "Uma Vida Iluminada" (2005). Também steve em "Filth & Wisdom", estréia de Madonna na direção.
Sobre a experiência, limita-se a dizer que Madonna "é uma garota engraçada". E avisa:
"Vou tocar com ela em dezembro, no show em São Paulo".


O repórter THIAGO NEY viajou a convite da produção do Tim Festival


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