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DANÇA
Comandada por Anne Teresa de Keersmaeker, companhia residente na Bélgica chega a SP com a coreografia "Rain"
Grupo Rosas tira máximo do mínimo
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois de marcar a programação do Carlton Dance Festival de
1995 com o espetáculo "Kinok", o
grupo Rosas está de volta ao Brasil. Agora como atração da série
Antares Dança 2002, o elenco dirigido na Bélgica por Anne Teresa
de Keersmaeker dá continuidade
à sua turnê brasileira em São Paulo, onde se apresenta sábado e domingo no Teatro Municipal.
Desta vez, o Rosas traz "Rain",
espetáculo concebido por Keersmaeker em 2001. A música, fator
determinante em suas coreografias, é de Steve Reich, o mesmo
compositor que inspirou "Fase",
obra que lançou a coreógrafa.
Infelizmente, as temporadas-relâmpago e as ausências prolongadas de artistas importantes nos
palcos brasileiros eliminam as
chances de acompanhar a evolução e mesmo de compreender as
propostas de muitos criadores.
No repertório de Keersmaeker,
por exemplo, "Rain" surgiu como
resposta a "In Real Time", que ela
havia criado em 2000. Apesar da
autosuficiência de cada obra, as
passagens rápidas e raras do Rosas pelo Brasil prejudicam o conhecimento sobre o intrigante
processo de criação dessa coreógrafa, que hoje está no seu auge.
Nascida em 1960 em Mechelen,
região flamenga da Bélgica,
Keersmaeker estudou entre 1978
e 1980 no Mudra, a escola multidisciplinar fundada por Maurice
Béjart em Bruxelas. Em 1981,
quando permaneceu em Nova
York como aluna da Tisch School
of the Arts, aprofundou seu contato com a dança pós-moderna
americana, cujas abordagens minimalistas se tornaram uma de
suas influências.
De volta à Bélgica em 1983,
Keersmaeker fundou seu grupo e,
dali em diante, foi construindo
uma carreira que a transformou
em protagonista de um movimento que renovou a dança belga. Em 1992, seu status se ampliou. A convite da direção do
Théâtre Royal de la Monnaie, o
Rosas tornou-se a companhia residente do principal teatro de
Bruxelas, o qual havia hospedado
até 1988, durante quase 30 anos, o
Ballet do Século 20, de Béjart.
Simultaneamente, Keersmaeker fundou a escola P.A.R.T.S.
(Performing Arts Research and
Training Studios), com o objetivo
de preencher a lacuna deixada pelo Mudra. No momento, a celebração de seus 20 anos de carreira
vem rendendo belos eventos, como a retrospectiva de sua obra,
promovida em maio passado pelo
Théâtre de la Ville de Paris.
Nessa retrospectiva, "Rain" foi
um dos pontos altos. Seguindo a
proposta básica de Keersmaeker,
de obter o máximo a partir do mínimo, o cenário e a iluminação de
Jan Vversweyveld fracionam a cor
rosa em várias nuances. O único
elemento cênico, um cortinado
circular que pende do teto do palco como uma chuva, acentua a
movimentação incessante dos
bailarinos, que trocam permanentemente de roupas, mas conservam os modelos básicos (vestidinho casual para as moças e calça
e camisa para os rapazes).
Ao ambiente harmonioso, funde-se a coreografia que jorra movimentos como um fluxo inesgotável, feito de estruturas elementares que se multiplicam continuamente. Articulada com a precisão de uma partitura musical,
"Rain" se funde e se desprende
das tramas de "Music for 18 Musicians", de Reich, sem perder o
pulso. Mais uma vez, Keersmaeker promove uma interação brilhante entre dança e música.
RAIN - Com o grupo Rosas. Quando: sáb.,
às 21h, e dom., às 18h, no Teatro
Municipal de São Paulo (pça Ramos de
Azevedo, s/ nš; tel. 0/xx/11/222-8698).
Quanto: de R$ 20 a R$ 110. Patrocínio:
Embratel e KPMG.
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