São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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DANÇA

Comandada por Anne Teresa de Keersmaeker, companhia residente na Bélgica chega a SP com a coreografia "Rain"

Grupo Rosas tira máximo do mínimo

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de marcar a programação do Carlton Dance Festival de 1995 com o espetáculo "Kinok", o grupo Rosas está de volta ao Brasil. Agora como atração da série Antares Dança 2002, o elenco dirigido na Bélgica por Anne Teresa de Keersmaeker dá continuidade à sua turnê brasileira em São Paulo, onde se apresenta sábado e domingo no Teatro Municipal.
Desta vez, o Rosas traz "Rain", espetáculo concebido por Keersmaeker em 2001. A música, fator determinante em suas coreografias, é de Steve Reich, o mesmo compositor que inspirou "Fase", obra que lançou a coreógrafa.
Infelizmente, as temporadas-relâmpago e as ausências prolongadas de artistas importantes nos palcos brasileiros eliminam as chances de acompanhar a evolução e mesmo de compreender as propostas de muitos criadores.
No repertório de Keersmaeker, por exemplo, "Rain" surgiu como resposta a "In Real Time", que ela havia criado em 2000. Apesar da autosuficiência de cada obra, as passagens rápidas e raras do Rosas pelo Brasil prejudicam o conhecimento sobre o intrigante processo de criação dessa coreógrafa, que hoje está no seu auge.
Nascida em 1960 em Mechelen, região flamenga da Bélgica, Keersmaeker estudou entre 1978 e 1980 no Mudra, a escola multidisciplinar fundada por Maurice Béjart em Bruxelas. Em 1981, quando permaneceu em Nova York como aluna da Tisch School of the Arts, aprofundou seu contato com a dança pós-moderna americana, cujas abordagens minimalistas se tornaram uma de suas influências.
De volta à Bélgica em 1983, Keersmaeker fundou seu grupo e, dali em diante, foi construindo uma carreira que a transformou em protagonista de um movimento que renovou a dança belga. Em 1992, seu status se ampliou. A convite da direção do Théâtre Royal de la Monnaie, o Rosas tornou-se a companhia residente do principal teatro de Bruxelas, o qual havia hospedado até 1988, durante quase 30 anos, o Ballet do Século 20, de Béjart.
Simultaneamente, Keersmaeker fundou a escola P.A.R.T.S. (Performing Arts Research and Training Studios), com o objetivo de preencher a lacuna deixada pelo Mudra. No momento, a celebração de seus 20 anos de carreira vem rendendo belos eventos, como a retrospectiva de sua obra, promovida em maio passado pelo Théâtre de la Ville de Paris.
Nessa retrospectiva, "Rain" foi um dos pontos altos. Seguindo a proposta básica de Keersmaeker, de obter o máximo a partir do mínimo, o cenário e a iluminação de Jan Vversweyveld fracionam a cor rosa em várias nuances. O único elemento cênico, um cortinado circular que pende do teto do palco como uma chuva, acentua a movimentação incessante dos bailarinos, que trocam permanentemente de roupas, mas conservam os modelos básicos (vestidinho casual para as moças e calça e camisa para os rapazes).
Ao ambiente harmonioso, funde-se a coreografia que jorra movimentos como um fluxo inesgotável, feito de estruturas elementares que se multiplicam continuamente. Articulada com a precisão de uma partitura musical, "Rain" se funde e se desprende das tramas de "Music for 18 Musicians", de Reich, sem perder o pulso. Mais uma vez, Keersmaeker promove uma interação brilhante entre dança e música.


RAIN - Com o grupo Rosas. Quando: sáb., às 21h, e dom., às 18h, no Teatro Municipal de São Paulo (pça Ramos de Azevedo, s/ nš; tel. 0/xx/11/222-8698). Quanto: de R$ 20 a R$ 110. Patrocínio: Embratel e KPMG.



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