São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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MÚSICA

Artista, filho do presidente do BNDES, apresenta seus dois novos discos em shows às terças no Carioca da Gema, no Rio

Rodrigo Lessa defende misturas ao samba e ao choro

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Rodrigo Lessa se diz um nacionalista. Em se tratando de um filho do economista Carlos Lessa, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), é uma afirmação até natural. Mas, tocando e compondo, seu nacionalismo é "antropofágico", como ressalta.
Formado no samba e no choro, o bandolinista e violonista tem incorporado à sua música elementos de funk, jazz, sons de Cuba e Cabo Verde e outras influências.
Isto fica claro no Pagode Jazz Sardinha's Club, conjunto de que Lessa faz parte, e está presente nos dois novos discos do músico: "No Bangalô da Bandola" e "Fora de Esquadro".
"Acho que essa liberdade é um traço da minha geração", diz ele, que segue uma linha diferente da de artistas mais jovens que buscam uma autenticidade do samba e do choro.
"Há o grupo da recuperação e o da expansão. São os preservacionistas e os misturadores. Eles se complementam, mas eu, definitivamente, sou um misturador", define-se.
Lessa, 42, misturou até seus dois projetos e resolveu lançar "No Bangalô da Bandola" e "Fora de Esquadro" simultaneamente.
O primeiro é todo instrumental e explicita a receita das misturas. No segundo, que reúne parcerias bem-humoradas do músico com o letrista Mauro Aguiar ("No Gurufim do Tio Sam" e "Insônia de Morcego" entre elas), predomina o samba, mas há espaço para outros gêneros.
"No "Fora de Esquadro", tentamos ser, tanto quanto possível, populares. Priorizamos a compreensão da letra e a identificação das pessoas com as canções. O outro [CD] é um som carioca com sotaques de outras afinidades, como Cuba e Cabo Verde, já que não é só com os Estados Unidos que somos afinados", explica Rodrigo Lessa. O disco instrumental tem muito do que ele chama de "choro-jazz": linha melódica de choro com fraseado de jazz. Essa combinação é uma tentativa de recostura do passado.
"Nos anos 60, com a bossa nova, houve uma ruptura entre choro e jazz. Quem era de um gênero não tocava o outro. Hoje está havendo uma reaproximação dos dois", diz ele.
A ruptura contribuiu para que o choro, fazendo jus ao nome, se entristecesse um pouco. Ele passou a ser tocado, freqüentemente, em estilo camerístico, com o público tendo que se comportar como se estivesse num concerto.
"Eu quero o bailão, a alegria, botar o público para dançar", diz o músico, que exemplifica esse desejo em "Balangandã", "Pimenta na Pupila (Rala Coxa), "Lapa y Cuba", "Por debaixo do Pano" e "Na Gafieira do Moura", algumas das faixas do disco "No Bangalô da Bandola".
Esta opção é ainda mais clara no Pagode Jazz Sardinha's Club, conjunto de oito músicos que produz um resultado dançante a partir de muita experimentação.
Eles ganharam neste ano o Prêmio Tim de melhor grupo instrumental. Lessa ainda faz parte, desde 1988, do Nó em Pingo d'Água, um dos mais importantes conjuntos de choro do país.
Os discos serão lançados em shows às terças-feiras de outubro no Carioca da Gema (Lapa, centro do Rio de Janeiro).
O fã Carlos Lessa é presença certa na platéia de uma das noites. "A participação dele na minha carreira é afetiva", diz o músico.


NO BANGALÔ DA BANDOLA. Artista: Rodrigo Lessa. Lançamento: Kalimba. Quanto: R$ 20.

FORA DE ESQUADRO. Lançamento: independente. Quanto: R$ 20.



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