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MÚSICA
Artista, filho do presidente do BNDES, apresenta seus dois novos discos em shows às terças no Carioca da Gema, no Rio
Rodrigo Lessa defende misturas ao samba e ao choro
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Rodrigo Lessa se diz um nacionalista. Em se tratando de um filho do economista Carlos Lessa,
presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), é uma afirmação até natural. Mas, tocando e
compondo, seu nacionalismo é
"antropofágico", como ressalta.
Formado no samba e no choro,
o bandolinista e violonista tem incorporado à sua música elementos de funk, jazz, sons de Cuba e
Cabo Verde e outras influências.
Isto fica claro no Pagode Jazz
Sardinha's Club, conjunto de que
Lessa faz parte, e está presente nos
dois novos discos do músico: "No
Bangalô da Bandola" e "Fora de
Esquadro".
"Acho que essa liberdade é um
traço da minha geração", diz ele,
que segue uma linha diferente da
de artistas mais jovens que buscam uma autenticidade do samba
e do choro.
"Há o grupo da recuperação e o
da expansão. São os preservacionistas e os misturadores. Eles se
complementam, mas eu, definitivamente, sou um misturador",
define-se.
Lessa, 42, misturou até seus dois
projetos e resolveu lançar "No
Bangalô da Bandola" e "Fora de
Esquadro" simultaneamente.
O primeiro é todo instrumental
e explicita a receita das misturas.
No segundo, que reúne parcerias
bem-humoradas do músico com
o letrista Mauro Aguiar ("No Gurufim do Tio Sam" e "Insônia de
Morcego" entre elas), predomina
o samba, mas há espaço para outros gêneros.
"No "Fora de Esquadro", tentamos ser, tanto quanto possível,
populares. Priorizamos a compreensão da letra e a identificação
das pessoas com as canções. O outro [CD] é um som carioca com
sotaques de outras afinidades, como Cuba e Cabo Verde, já que
não é só com os Estados Unidos
que somos afinados", explica Rodrigo Lessa. O disco instrumental
tem muito do que ele chama de
"choro-jazz": linha melódica de
choro com fraseado de jazz. Essa
combinação é uma tentativa de
recostura do passado.
"Nos anos 60, com a bossa nova,
houve uma ruptura entre choro e
jazz. Quem era de um gênero não
tocava o outro. Hoje está havendo
uma reaproximação dos dois",
diz ele.
A ruptura contribuiu para que o
choro, fazendo jus ao nome, se
entristecesse um pouco. Ele passou a ser tocado, freqüentemente,
em estilo camerístico, com o público tendo que se comportar como se estivesse num concerto.
"Eu quero o bailão, a alegria, botar o público para dançar", diz o
músico, que exemplifica esse desejo em "Balangandã", "Pimenta
na Pupila (Rala Coxa), "Lapa y
Cuba", "Por debaixo do Pano" e
"Na Gafieira do Moura", algumas
das faixas do disco "No Bangalô
da Bandola".
Esta opção é ainda mais clara no
Pagode Jazz Sardinha's Club, conjunto de oito músicos que produz
um resultado dançante a partir de
muita experimentação.
Eles ganharam neste ano o Prêmio Tim de melhor grupo instrumental. Lessa ainda faz parte, desde 1988, do Nó em Pingo d'Água,
um dos mais importantes conjuntos de choro do país.
Os discos serão lançados em
shows às terças-feiras de outubro
no Carioca da Gema (Lapa, centro
do Rio de Janeiro).
O fã Carlos Lessa é presença certa na platéia de uma das noites. "A
participação dele na minha carreira é afetiva", diz o músico.
NO BANGALÔ DA BANDOLA. Artista:
Rodrigo Lessa. Lançamento: Kalimba.
Quanto: R$ 20.
FORA DE ESQUADRO. Lançamento:
independente. Quanto: R$ 20.
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